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INESC Porto LA
 

Absurdo: ver para qren

O absurdo parece que obedece a uma lei da conservação universal: nada se cria, nada se perde, tudo se transforma na mesma coisa.

De boas intenções muitos decisores alimentam o seu discurso, e não nos cabe duvidar da sinceridade. Produz-se legislação, dão-se indicações da vontade de simplificar as coisas. Todos concordam que a burocracia sem sentido tem custos, que podem ser traduzidos financeiramente: são os custos da ineficiência, que é uma forma grave de desperdício. Grave, porque podemos e devemos fazer melhor.

O QREN, lamentavelmente, mete pela janela o que nos disseram que iria ser tirado pela porta. Os financiamentos supostamente concedidos pelos programas exigem tais custos administrativos, nomeadamente para serem solicitados e as respectivas despesas comparticipadas, que se coloca honestamente o caso de as entidades beneficiárias prescindirem de receber os apoios, pois, em alguns casos, o custo de os obter ultrapassa o subsídio concedido ou esgota a capacidade disponível em recursos humanos. Exageramos? Não. De modo nenhum.

Eis um exemplo real: para um projecto em que o INESC Porto participa, a solicitação de financiamento dos custos indirectos (indirectos!, note-se, supostamente despesas estruturais também conhecidas como overheads), no valor de 18 mil Euros, exigiu 379 comprovantes e 379 lançamentos no site on line do QREN, correspondendo cada lançamento ao preenchimento de uma longa linha de um ficheiro tipo Excel… Para o financiamento dos custos directos, exigiram-se 462 comprovantes e 642 lançamentos! Cada comprovante exigiu uma certificação por um ROC, o que resulta em mais custos administrativos, só parcialmente comparticipados.

O esforço para fazer o pedido de pagamento foi de aproximadamente 145 h, ou seja, um mês de trabalho. Este esforço incluiu 36 horas de aposição de carimbos em todos os documentos!!!

Haja paciência: o SIMPLEX rapidamente se transforma em DELIREX, quando a máquina e procedimentos administrativos descolam da realidade. Há que fazer chegar a mensagem a quem ache que as coisas estão bem, mas se admira que a execução tarde.