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CARTA ABERTA AO SR. MINISTRO PARA UMA BOA GESTÃO

Sr. Ministro,

Cumpre ao BIP saudá-lo e desejar as melhores venturas na função de tutelar a Ciência que agora assume.

Ser político não se deve insultuosamente confundir com ser meramente “administrativo”, sem que haja desmerecimento de quem, competente e abnegadamente, faz andar os processos e as coisas. E, nesta hora de começo, não faltarão as sugestões: orçamentos, financiamentos, avaliações, ciência vs. transferência, prioridades internacionais, FCT, etc. Mas a política tem o poder, se não a obrigação, de introduzir uma novidade de pensamento, uma ideia, um rasgo, uma visão, ortogonal por cima da administração das coisas.

O que temos para sugerir é o seguinte: que o reforço da ciência em Portugal também passa pelo reforço da competência na gestão de ciência – e a dignificação da função.

Ora a função de gestão de ciência continua por reconhecer com estatuto pleno. Não é verdadeiramente aceite como atividade científica, normal na investigação. Em Portugal, a norma é que só se é investigador, reconhecido, se se participar laboralmente num projeto e publicar uns “papers”. Mas se se assumirem funções de organização do trabalho científico em nível mais elevado, o reconhecimento da importância fulcral dessa atividade, como atividade de ciência, falha. Falha no ECDU, falha nos modelos FCT, falha no modo como as organizações do setor do ensino superior classificam a atividade das pessoas e a reconhecem.

Mas, sem boa gestão de ciência, como pode a ciência portuguesa progredir? Como pode passar de uma atividade pulverizada, fragmentada em pequenos grupos, para grandes iniciativas plurais, multidisciplinares, ambiciosas, transformadoras? Como pode assumir músculo num protagonismo internacional? Sem oficiais generais, somos todos tropa fandanga incoerente. Os generais não disparam tiros, será que não são exército?

V.Exa., na nossa modesta opinião, prestaria um enorme serviço a Portugal se encontrasse a forma equilibrada de reconhecer a gestão de ciência como atividade da ciência, e enquadrar este fator na nossa organização da ciência doméstica.

Aceite o nosso tributo da mais elevada consideração.

O BIP

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Imagem: pormenor de azulejos da Sala das Batalhas do palácio dos Marqueses de Fronteira - batalha do Ameixial, Guerra da Restauração.