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ATLÂNTICO, MARE NOSTRUM

O dia 20 de novembro de 2017 pode ficar na História, como o dia do redespertar de um Portugal explorador adormecido.

Assinou-se, no Brasil, sem excessiva pompa e com esperançado entusiasmo, a Declaração de Florianópolis – sobre a intenção decisiva de governos, instituições de investigação (incluindo o INESC TEC) e empresas de criar o AIR.C – Atlantic International Research Center. Ministros da Ciência e representantes de governos de Portugal, Espanha, Brasil, Angola, Cabo Verde, Nigéria, África do Sul, Uruguai, Argentina, com a Índia como observador, comprometeram-se a um esforço conjunto para vir a consagrar, na próxima Cimeira a ter lugar em Cabo Verde, em maio de 2018, uma Associação Internacional dando corpo legal a uma organização multipolar.

Portugal é o decisivo motor da iniciativa. A pouco e pouco, esta desenha-se, perde contornos difusos, torna-se credível, conquista adesões. Terá o seu polo central nos Açores, mas será multipolar – e terá por objeto o Atlântico do fundo do mar à estratosfera. Haverá da robótica de águas profundas ao lançamento de satélites, haverá um esforço colaborativo multilateral na colheita, transmissão e coleção de dados e extração de conhecimento deles, e na geração de impactos sociais do conhecimento adquirido.

O rasgo de génio está na inclusão do Atlântico Sul – não apenas porque é muito menos conhecido, desconhecido até em grande medida, quando comparado com o Atlântico Norte, mas também porque é uma vastíssima região oceânica em que predomina a presença territorial e política de países da comunidade de língua portuguesa. É justo, é apropriado que esta, de certo modo, comande este esforço – e, na sociedade do conhecimento, quem o detém possui a dianteira.

A exploração do Atlântico é um novo caminho marítimo a desbravar, uma possível nova epopeia a assumir. O tamanho do desafio só pode ser confrontado por uma ambição lusitana que renove o ciclo: depois do mar até à Índia, o Brasil, a África, a Europa – e, agora, de volta ao mar, o nosso destino inevitável.

Que o nosso Ministério da Ciência tenha concebido este movimento e abraçado esta causa, em vez de apenas gerir a rotina dos dias, merece uma saudação e é também um sinal de esperança – de que redefiniremos um desígnio nacional que nos catapulte para algo que não sabemos ainda bem o quê, só sabemos que poderá ser grandioso e dar sentido a Portugal.

Navegar é preciso.