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INESC Porto lidera revolução no sistema energético nacional

Consumidores/Produtores de energia: um conceito cada vez mais real

É já no próximo mês de Dezembro que ficará concluído o More Microgrids. O projecto que se iniciou há quatro anos contou com uma significativa participação por parte do INESC Porto, tendo-se nele demonstrado a viabilidade técnica da integração em larga escala de sistemas de microgeração em redes de distribuição. O More Microgrids contribuiu assim para promover o modelo de produção distribuída de electricidade por parte do próprio consumidor, seja ele empresa ou particular, que deverá coexistir com o modelo clássico de produção centralizada de electricidade. Para além dos benefícios económicos directos para o novo tipo de consumidor, que passa a ser simultaneamente produtor de electricidade, o More Microgrids potencia igualmente benefícios ambientais: diminuição das emissões de CO2 como resultado da redução das perdas de energia no transporte de electricidade até ao consumidor final, decrescendo ainda o volume de produção de electricidade em centrais térmicas convencionais, dado que as unidades de microgeração exploram energias renováveis.   

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O despertar da microgeração

O INESC Porto teve uma forte participação no projecto europeu More Microgrids, um trabalho onde se procurou avaliar o impacto da integração de múltiplas microredes nas redes eléctricas de distribuição de electricidade. O desenvolvimento destes conceitos enquadra-se nos domínios científicos das redes eléctricas do futuro, podendo oferecer oportunidades interessantes à indústria portuguesa através da industrialização e comercialização das soluções que aqui foram estudadas. A participação do INESC Porto neste projecto permitiu aumentar a visibilidade da instituição, tendo em conta o grande número de trabalhos científicos com elevado grau de inovação que foram publicados em revistas e apresentados em congressos nacionais e internacionais.

A microgeração consiste na produção de electricidade, em geral por parte do próprio consumidor (empresa ou particular), através da utilização de equipamentos de pequena escala, nomeadamente painéis solares, microturbinas, microeólicas ou outro tipo de tecnologia. Esta produção de energia eléctrica permite obter interessantes benefícios a nível económico e ambiental. Desenvolvido no âmbito do VI Programa Quadro Comunitário de Apoio, o More Microgrids surge como uma continuação do projecto Microgrids, estendendo o conceito de microgeração e permitindo assim reduzir as perdas eléctricas nas redes de transporte e distribuição de electricidade, através da substituição da produção convencional por uma produção em parte renovável, localizada junto dos consumidores.

João Peças Lopes

O consumidor é também produtor

Contando com a participação de diversos parceiros Europeus, nomeadamente da Universidade Técnica de Atenas, Universidade de Manchester, do instituto alemão ISET ou da portuguesa EDP, entre outros, este projecto teve como motivação o interesse pela exploração dos recursos energéticos renováveis, que se caracterizam por estarem geograficamente distribuídos, e destaca-se pela sua inovação, nomeadamente com a emergência de uma nova geração de consumidores, que são ao mesmo tempo produtores de energia, tornando-se numa espécie de produtores-consumidores, realçando-se ainda o facto de estes consumidores poderem contribuir com as suas decisões para a gestão em tempo real do consumo de electricidade.

Com a introdução de novas tecnologias de informação e comunicação nas redes de baixa tensão a que se ligam os pequenos equipamentos, e com um novo conceito de gestão das redes eléctricas, potencia-se e promove-se a descentralização da produção e distribuição de energia. Questionado sobre a revolução que este novo modelo trouxe relativamente ao modelo clássico de produção e distribuição de energia, João Peças Lopes, director do INESC Porto e investigador responsável pelo projecto, afirma que o More Microgrids “veio contribuir para estender o conceito de microrede, definindo-a como uma célula de um sistema complexo. Insere-se, portanto, no movimento de mudança de paradigma de funcionamento do sistema eléctrico que, de um modelo centralizado de produção, está a evoluir para um modelo de produção distribuída de electricidade”.

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Democracia energética – benefícios desde a economia ao ambiente

Com a extensão da chamada produção descentralizada, em que cada consumidor é produtor, mas aqui à pequena escala de uma casa, de uma empresa, de uma exploração, individualmente ou em pequenos núcleos (microredes) de condomínios ou serviços públicos, potencia-se uma democracia energética com a adesão do mercado doméstico, uma área em que países como o Japão, Alemanha, Reino Unido e EUA têm investido fortemente. E com o More Microgrids, Portugal segue os mesmos passos. O estímulo vem da batalha contra as alterações climáticas, da liberalização dos mercados eléctricos na Europa e da subida do preço do petróleo, sendo que os benefícios do projecto vão desde a economia ao ambiente.

Para além de ser possível reduzir as perdas de energia na rede de distribuição eléctrica, o projecto é um passo em frente para mudar a forte dependência do sistema energético português relativamente ao exterior. Mais do que isso, como afirma João Peças Lopes, os resultados do More Micro Grids “têm um grande potencial de criação de riqueza e de emprego qualificado, nomeadamente através da transferência deste conhecimento para a indústria”. Por outro lado, “ao ser orientado para soluções de microgeração onde se exploram recursos energéticos renováveis, conduzirá, no caso da massificação do conceito, a benefícios ambientais importantes que resultam de emissões evitadas de CO2 resultantes de perdas de energia nas redes eléctricas e da transferência de produção de energia das centrais térmicas clássicas para a microgeração”, acrescenta o professor.

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Uma nova era energética

E como é que os operadores vêem este novo conceito consolidado pelo More Microgrids? A resposta do director do INESC Porto é clara: “os operadores de rede perceberam que a mudança está em curso e que estão abertos para explorar estes novos conceitos”. Mais do que isso, “podemos afirmar que com este projecto fizemos evoluir os conceitos de microgeração e microredes, incluindo as estratégias de gestão e controlo a adoptar, de forma a que os operadores de rede possam vir a implementar estes conceitos a médio prazo”. Isto fez com que o INESC Porto adquirisse “conhecimento avançado neste domínio, podendo hoje considerar-se como uma das instituições de referência e com maior reconhecimento técnico e científico internacional neste domínio”, garante João Peças Lopes.

E as oportunidades resultantes deste projecto têm sido muitas, “desde fazer evoluir o conceito explorando a contagem inteligente de energia (smart metering), o que já estamos a fazer com a EDP no projecto InovGrid, até à ligação dos conceitos de microgeração e microrede com a mobilidade eléctrica, que também já iniciámos através de trabalhos de investigação e com o novo projecto europeu MERGE (Mobile Energy Resources for Grids of Electricity)”, adianta o responsável. O More Microgrids funcionou assim como rampa para promover as mudanças de paradigma do sector eléctrico e para uma melhor percepção do funcionamento das redes eléctricas do futuro, onde o consumidor está no centro das preocupações do sistema, contribuindo o projecto também para beneficiar a economia e o ambiente. Provando a viabilidade do conceito de microgeração nas redes eléctricas do futuro, o More Microgrids veio assim consolidar a posição cimeira do INESC Porto na área dos Sistemas de Energia.