A Vós a Razão
Investigação é outro nome para curiosidade
* Por Vítor Santos Costa
Venho por esta forma responder ao convite para apresentar a minha visão dos desafios que se colocam a um investigador em Ciências de Computadores no dia de hoje e no contexto em que estamos. Para mim, talvez a maneira mais fácil de o fazer seja responder às velhas perguntas: "O Quê? Porquê? Como? Onde? Quando?"
O Quê? Investigação é outro nome para curiosidade, e no caso de Ciência de Computadores há muito para se ser curioso. No meu caso, e acho que também para os meus colegas do CRACS, a curiosidade é de saber como construir coisas divertidas que fazem outras coisas que achamos engraçadas. Podemos construir um compilador para uma nova linguagem que gere uma rede de sensores e permite controlo remoto do ciclo de acasalamento da térmite vermelha. Ou podemos construir uma linguagem que permite comparar bases de dados sobre a mosca da fruta capaz de ser adaptada para um tipo de levedura. Não há muito que não possamos fazer. E o que não podemos fazer podemos simular...
Porquê? Há uma diferença entre a razão porque uma pessoa faz as coisas, e a razão porque as outras pessoas querem que nós façamos as coisas. Em geral, queremos fazer as coisas porque gostamos, porque é um desafio. Por mais estranho que pareça, fazer debugging de um compilador pode ser uma experiência agradável, exactamente da mesma forma que construir uma casa de banho sem partir um mármore, ou conseguir trocar um pneu de um carro. Mas o mundo pede que façamos coisas "úteis". Felizmente, na nossa área podemos escolher entre todos os problemas do Mundo. E entre todos os problemas do Mundo, há muitos que são interessantes. O que me leva para a questão seguinte...
Como? O problema de quem pode ter tudo é escolher. Focar um problema, ou uma área onde achamos que podemos fazer diferença. No meu caso escolhi a programação em lógica porque gosto, e porque é uma ponte elegante entre o mundo da teoria e a realidade. Outros colegas escolheram outras áreas: sistemas paralelos, sistemas concorrentes, sistemas Web, sistemas inteligentes, sistemas seguros. Há muito por onde se ir, o difícil mesmo é escolher. A partir daí é uma questão de ouvir quais são as perguntas, tentar responder construindo uma teoria, verificar a teoria experimentalmente talvez através de um modelo (e rezar muito). Finalmente, temos que dar o trabalho para a comunidade. Ou vender... E se um dia nos cansamos, uma vantagem de Ciência de Computadores é que podemos começar de novo.
Onde? Um bom lugar para uma pessoa curiosa morar tem que ser um lugar com muitas janelas, para se poder olhar para fora. Tem que ter acessos fáceis, para se poder ir longe. Tem que ser hospitaleiro, para se poder receber muita gente e fazer muitas perguntas. Tem que ter regras, porque de curiosidade morreu o gato. Como investigador, acho que é um grande desafio construir uma casa assim. Como alguém que conhece muita da história do INESC Porto desde antes de haver INESC Porto, estou feliz que o CRACS, o LIAAD e o INESC tenham respondido a este desafio.
Quando? Agora!
* Colaborador do Centro de Investigação em Sistemas Computacionais Avançados (CRACS)