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A Vós a Razão

"Numa era caracterizada por rápidas mudanças a nível tecnológico, o crescimento económico depende cada vez mais de Investigação e Desenvolvimento (I&D). Mas será que os diversos intervenientes procuram os mesmos horizontes?" Filipe Magalhães

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"...retirei meu passaporte do bolso enquanto explanava que era brasileiro e estava em Porto como estudante de doutoramento. Estranhamente, o policial respondeu em rústico inglês a sentença «I see»...", Diego Issicaba

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Ora vejam o caso de um talentoso investigador do INESC Porto que vem agora provar que afinal a crise não é tão negativa como a pintam...

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Referência a anúncios publicados pelo INESC Porto, oferecendo bolsas, contratos de trabalho e outras oportunidades do mesmo género...

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A Vós a Razão

INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO: uma reflexão

* Por Filipe Magalhães

Numa era caracterizada por rápidas mudanças a nível tecnológico, o crescimento económico depende cada vez mais de Investigação e Desenvolvimento (I&D). Mas será que os diversos intervenientes procuram os mesmos horizontes?
De um lado temos os Governos que vêem a I&D como uma ferramenta poderosa no sentido em que ajuda e promove as actividades económicas e sociais dos países, e a indústria que depende fortemente dos resultados de I&D para conseguir enfrentar o risco e garantir a sua rentabilidade.
Do outro lado temos o mundo académico constituído por pessoal altamente qualificado, mas que frequentemente não tem consciência de aspectos críticos inerentes aos mundos da economia e dos negócios.
A investigação pode ser definida como sendo uma interrogação ou pesquisa diligente e sistemática sobre um determinado tópico onde o objectivo é tentar descobrir ou rever factos, teorias e aplicações. Já o desenvolvimento é um processo que procura criar ou extrair consequências ou eventos significativos do conhecimento gerado pela investigação.

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Os directores executivos das indústrias muitas vezes não valorizam suficientemente a investigação e vêem-na como uma actividade extravagante, enquanto os investigadores, por sua vez, consideram que o desenvolvimento é um assunto aborrecido e inábil. Então, estamos infelizmente na presença de um processo insular uma vez que, sem a investigação, não há desenvolvimento e sem desenvolvimento (e produção e vendas), não há capital para financiar a investigação. Este processo deve ser interrompido e deve ser cultivada a cooperação entre as diferentes partes envolvidas. Esta é, de facto, a única maneira de conseguirmos determinar a escala das actividades de inovação, as características de empresas inovadoras, assim como os factores internos e sistémicos que podem influenciar a inovação. Isto é, com certeza, um pré-requisito para o exercício e análise das políticas de inovação.

Neste contexto, a inovação pode ser traduzida como sendo a criação de algo novo que acarreta valor social e económico. A investigação colaborativa é um modelo onde existe um esforço intelectual conjunto das diferentes partes envolvidas no sentido de se conseguir uma visão conjunta e causar impacto numa área específica de conhecimento ou de acção. As actividades de I&D podem beneficiar amplamente de tal modelo. As organizações de financiamento encorajam cada vez mais as colaborações que promovem uma fertilização transversal de ideias e metodologias. É, de facto, mais provável o investimento de capital num projecto de investigação que envolva intervenientes já com um registo de colaborações, o que pode ser visto como um incentivo à colaboração com parceiros que já tiveram sucesso.

Diferentes níveis e experiências relativamente ao conhecimento especializado em gestão do risco podem complementar ou criar novos modelos de decisão poderosos, o que pode ser frutífero na adopção de medidas rentáveis. A partilha de recursos, quer sejam humanos ou materiais, pode evitar a acumulação de trabalho e assim reduzir significativamente o tempo e custos envolvidos. Com a oferta de responsabilidades mais variadas, é possível apresentar oportunidades de desenvolvimento aos quadros envolvidos.

Apesar de todos estes factores, não existe um cenário fixo que represente adequadamente o modo exacto para se conseguir um plano de investigação colaborativo com um objectivo comum. Deste modo, devem ser tidos em conta alguns aspectos. O tema dos Direitos de Propriedade Intelectual (DPI) é central no que diz respeito à investigação colaborativa uma vez que parceiros diferentes podem ser envolvidos em actividades variadas a diferentes níveis. Os vários interesses dos membros dos grupos de investigação devem ser protegidos desde o início. Por exemplo, os acordos estabelecidos protegem os interesses dos estudantes envolvidos relativamente à finalização das suas dissertações e à publicação dos seus resultados? Ou as empresas tentam registar em primeiro lugar uma patente, pedindo às instituições que atrasem o processo de publicação?

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Algumas instituições académicas vêem a transferência de tecnologia como uma ferramenta importante para gerar rendimentos para a sociedade, mais do que uma componente com a responsabilidade de auxiliar uma empresa na comercialização dos resultados das investigações.

Por estas razões, os níveis de compreensão e confiança representam aspectos cruciais que devem ser tidos em conta no decorrer das diferentes fases de um projecto de investigação colaborativo e um esforço concertado deve basear-se no estabelecimento de um plano estratégico adequado aos principais interesses das partes envolvidas.
Para além de depender do conhecimento e recursos, o sucesso de um projecto de I&D também depende fortemente da sua organização e gestão. Então, em primeiro lugar, é crucial definir claramente os principais objectivos. Tendo isso em consideração, as tarefas devem ser definidas juntamente com a análise dos requisitos necessários para atingir os resultados esperados. A delineação de objectivos e metas intermédias pode fornecer aspectos-chave para a avaliação da evolução do projecto.

Estes aspectos podem por vezes representar ocasiões disruptivas a partir das quais devem ser estudados e definidos novos caminhos no sentido de se assegurar a viabilidade do projecto. Deste modo, o planeamento e a gestão de um projecto de I&D podem ser vistos como um processo iterativo onde diversas tarefas e objectivos têm de ser planeados e reconsiderados ao longo da progressão do projecto.
Tendo isto em consideração, como é que tantos projectos de I&D acabam por falhar e como é que podemos evitar que isto aconteça com o nosso trabalho? Para induzir inovação, o que se espera de um projecto é um alto nível de novidade com potencial económico e social. Por esta razão, é imperativo reunir e organizar o conhecimento existente sobre um aspecto específico de modo a evitar a “reinvenção da roda”. Para além disso, num projecto de I&D com parceiros industriais deve ser prestada especial atenção à originalidade da ideia uma vez que os gestores industriais ficarão certamente mais interessados em aplicar conhecimento existente – uma solução ou um método –, do que simplesmente apoiar o seu desenvolvimento ou replicação.
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Uma vez formulada a ideia, o conhecimento de uma determinada área pode ajudar na procura de financiamento, mas a maior contribuição para o estado da arte e os benefícios que emergem desta inovação devem, sem dúvida, ser definidos de um modo que permita atrair potenciais investidores.
Uma vez que a relevância económica é um factor-chave para o sucesso, devemos estar conscientes que o contexto sócio-económico está em constante mutação e evolução e, como consequência, as oportunidades e fiabilidades devem ser bem equilibradas.
O número de serviços de transferência de tecnologia e empresas spin-off que emergem de instituições académicas está a tornar-se uma realidade convincente. Um óptimo exemplo disto mesmo é o INESC Porto, que alberga a Unidade de Inovação e Transferência de Tecnologia e que já lançou no mercado várias spin-offs. FiberSensing, Tomorrow Options, Smartwatt, Xarevision, são alguns dos exemplos, alguns dos quais actuando com elevada projecção a nível internacional.
O crescimento, reforço e consolidação dos sistemas científicos e tecnológicos dos países estão a tornar-se cada vez mais prioridades governamentais para quem o objectivo é tornar estes sistemas mais competitivos, tanto a nível nacional, como a nível internacional, assim como facilitar a articulação entre centros de conhecimento e de negócios. Estes factos reflectem claramente a crescente consciência relativamente aos benefícios sócio-económicos inerentes à colaboração conjunta de instituições académicas, industriais ou governamentais no contexto de I&D.

 

* Colaborador da Unidade de Optoelectrónica e Sistemas Electrónicos (UOSE)

Este texto/reflexão foi redigido na sequência de uma apresentação sobre I&D feita pelo Prof. João José Pinto Ferreira, no âmbito do Programa Doutoral em Engenharia Electrotécnica e de Computadores da FEUP.