Fora de Série
A Série dos fora de série
Num universo de mais de 800 colaboradores, são muitos os meses em que há mais de um colaborador com um desempenho “Fora de Série”. Prova disso mesmo é o facto de, em vários meses, recebermos mais do que um nomeado. Isto determinou uma mudança de política editorial: o BIP passou a destacar todos os nomeados em cada mês, sem opção de mérito (porque todos o têm muito!). Adicionalmente, tendo por base critérios de oportunidade noticiosa, é desenvolvida uma entrevista a um dos nomeados.
ESTE MÊS FALAMOS COM Margarida Carvalho
1. A Margarida Carvalho tem um Mestrado em Engenharia da Matemática e descreve-se como uma curiosa da Matemática. O que é que a alicia nesta área de estudo?
Alicia-me o desafio, ou seja, as várias etapas pelas quais se passa até resolver o “puzzle” em questão. Primeiro a compreensão e aprendizagem do problema, depois os rabiscos na procura de uma solução e, finalmente, a manhã em que a resposta se começa a formar.
A matemática é uma ferramenta sólida e poderosa na descrição e explicação do que nos rodeia, permitindo dar respostas a problemas reais. Assim, as consequências reais da resolução matemática de um problema são também um fator que me faz gostar desta área.
2. Concluiu o doutoramento em Ciência de Computadores na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) dia 18 de abril. Qual o tema da sua tese de doutoramento?
O título da minha tese é “Equilibria on integer programming games”. Essencialmente, a minha dissertação foca-se em teoria de jogos não cooperativos. A minha investigação consiste em encontrar as estratégias mais racionais a serem escolhidas por cada jogador.
Os jogos que analiso têm a particularidade de cada jogador ter um número exponencial ou mesmo infinito de estratégias possíveis, estando aí o desafio científico. Não é eficiente analisar todas as possíveis combinações de estratégia.
Na sua essência o meu trabalho passa por modelar matematicamente um jogo normalmente, este jogos situam-se na área da economia ou da saúde; classificar a sua complexidade computacional (ou seja, quão difícil é determinar uma solução), e desenhar algoritmos para calcular soluções da forma mais eficiente possível.
Na minha tese de doutoramento, tive progressos na classificação de complexidade de jogos e desenho de algoritmos para os resolver. Contudo, ainda existem muitas questões em aberto.
3. Está no INESC TEC, nomeadamente no Centro de Engenharia e Gestão Industrial (CEGI), desde 2010. Como é que descreve o seu percurso?
Comecei a colaborar com o INESC TEC durante o meu mestrado, com o meu orientador João Pedro Pedroso, estudando a aplicação de teoria dos jogos no mercado energético. Esta experiência de investigação foi muito importante, deu-me perspetivas novas e o incentivo para prosseguir.
Durante estes últimos 4 anos, ao longo do meu doutoramento, tive a oportunidade de trabalhar e aprender com investigadores mais experientes do INESC TEC. Todos os modelos matemáticos em que trabalho são motivados por situações reais. No CEGI há muitos investigadores que conhecem os problemas práticos e por isso, as nossas sinergias complementam-se.
Aproveito para agradecer ao meu orientador, João Pedro Pedroso, por ter feito a ligação com o INESC TEC e pela oportunidade de fazer investigação nesta unidade.
4. Que artigo publicou na revista Mathematical Programming e qual a importância desta publicação?
O artigo tem o título de “Nash Equilibria in the Two-Player Kidney Exchange Game”. Nele abordamos a generalização do problema de planeamento de transplantes de rins, quando temos mais do que um decisor (hospital/país). Frequentemente, quando um paciente precisa de um transplante de rim, existe um familiar ou amigo disponível para doar um rim, contudo podem haver incompatibilidades entre o doente e o dador. Assim, o problema de planeamento de transplantes de rins, procura maximizar o número de operações através da troca de dadores.
O caso que estudei analisa a situação onde vários hospitais/países (jogadores) planeiam transplantes de rins considerando a possibilidade de concretizar operações entre pacientes e dadores de jogadores diferentes. Nesta situação, os jogadores estão interessados apenas em ajudar os seus próprios pacientes, não se preocupando com o ótimo social, ou seja, com o plano de transplantes que maximiza o número total de pacientes a receber um rim. Neste jogo o nosso resultado principal conclui que as melhores estratégias para os jogadores acabam por maximizar o número total de possíveis transplantes (número de pacientes felizes), ou seja, os jogadores jogam um equilibrio de Nash que é ótimo social. Além disso, este trabalho é também uma generalização dos famosos resultados de Jack Edmonds (prémio John von Neumann Theory Prize).
5. Terminaremos este questionário pedindo que comente a sua nomeação, feita pelos coordenadores do Centro, Pedro Amorim e Ana Viana.
“A Margarida terminou agora o doutoramento e vai iniciar o seu pós-doc no CEGI. A Margarida em março conseguiu uma publicação na Mathematical Programming – uma das revistas mais prestigiadas do mundo na área de otimização. Esta é a primeira vez desde janeiro de 2003 que um investigador da Universidade do Porto publica nesta revista internacional (a U.Porto só mantém estes registos desde esta data). Na verdade, é possível que ninguém no INESC TEC ou na U.Porto alguma vez tenham publicado nesta revista de elevado prestígio.”
Esta nomeação deixa-me com um grande sorriso e motivação para continuar a minha investigação no CEGI. Quero deixar o meu agradecimento à Ana Viana, que me apoiou durante o doutoramento e me abriu muitas portas. Foi através dela que tive oportunidade de estar a trabalhar durante um ano na Universidade de Bolonha, junto de grandes investigadores na área da otimização, um momento crucial para o meu percurso científico. Quero também deixar o meu obrigada ao Pedro Amorim por constantemente me desafiar com novas ideias e linhas de investigação.