A REFUNDAÇÃO DA UNIVERSIDADE DO PORTO
Acompanhámos as notícias: a Universidade do Porto aceitou alterar o seu modelo institucional para beneficiar da figura de Fundação que a lei lhe permite.
Não percamos o sentido da importância transcendente desta decisão.
Ela é o sinal precoce de um sismo que atravessará a Universidade: terramoto ou tsunami, na perspectiva dos conservadores. Ou é trombeta anunciando à moda de Nietzsche a chegada do novo homem, na visão dos reformadores. Não duvidemos é que, com a decisão, a batalha não terminou entre as forças da resistência e da mudança.
Porque, uma vez libertada a nau das amarras que a tolhiam, engessadas por décadas ou séculos de uma tradição que perdera o seu tempo e o seu sentido, falta o mais difícil, que é navegar. Mas é, também, o mais interessante.
Diversa da navegação, a vida é assim: o galeão faz-se ao mar sempre incompleto e durante a jornada é que se continua a construir convés, levantar mastros, tecer as velas. Uma vez adoptado o modelo fundacional, mudado o estatuto jurídico da Universidade do Porto, é preciso intervir activamente nas estruturas, sob pena que estas se perpetuem nos seus vícios, que é a forma de conservar os antigos pequenos poderes.
No novo quadro, ágil porém, por isso mesmo, com mais riscos - mas que permite sonhos gloriosos em vez de medíocres - os institutos de interface assumirão um relevo ímpar na história da Universidade portuguesa. É como se a Universidade afirmasse uma resposta ao desafio que a sociedade lhe apresentou: ser mais eficaz, ser mais eficiente, contribuir mais decisivamente para o enriquecimento e felicidade dos portugueses - e fazê-lo com estruturas dinâmicas, ancoradas na excelência mas com o sentido da utilidade do saber.
Os institutos, de uma forma ou de outra, vão ser finalmente reconhecidos como estruturas de pleno direito da Universidade do Porto: uma transformação estrutural a não menosprezar. Porque a cultura que neles em boa hora se criou precisa de contaminar a Universidade toda.
É preciso dar o valor aos homens e reconhecer os heróis. A América celebra o seu piloto que pousou o Boeing sobre as águas do Hudson, numa manobra em que o risco encontrou na competência o seu adversário mais temível. O nosso piloto, no caso que nos importa, foi o Reitor.