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Asneira Livre

"No início de cada edição fala-se sempre em espírito de convívio, mas como ninguém gosta de perder, invariavelmente nenhuma equipa joga a brincar. Já o outro dizia: 'o futebol não é uma questão de vida ou de morte, é muito mais importante do que isso'.”, Nuno Salta

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Asneira Livre

espírito de convívio

*Por Nuno Salta

Ora vamos lá continuar a asneirada. Estive para escrever sobre curiosidades da música clássica como a da melodia do primeiro andamento da Sinfonia Eroica de Beethoven ser praticamente idêntica à da introdução da ópera Bastien und Bastienne de Mozart, mas decidi optar por outro tema igualmente erudito: futebol.

Nos meses de Junho e Julho só dá futebol. Por cá, tivemos a décima edição do torneio de futebol do INESC Porto, prova importante no panorama nacional. No início de cada edição fala-se sempre em espírito de convívio, mas como ninguém gosta de perder, invariavelmente nenhuma equipa joga a brincar. Já o outro dizia: “o futebol não é uma questão de vida ou de morte, é muito mais importante do que isso”.

Este ano, o vencedor foi a estreante ROBIS, que derrotou na final a não menos estreante UGEI. A UTM, a Unidade pela qual joguei, conseguiu o pleno: 3 jogos, 3 derrotas. Infelizmente não tivemos a equipa na máxima força, uma vez que vários elementos não puderam comparecer aos jogos por motivos inultrapassáveis. Para além disso, estar precisamente no grupo do campeão e vice campeão também não ajudou. Era um autêntico grupo da morte. Morte da UTM, entenda-se.

Para além de jogador, fui incumbido de desempenhar um dos cargos mais odiados do mundo: o de árbitro. Durante as partidas que arbitrei surgiram naturalmente situações de dúvida. Como abordagem a este problema, decidi adoptar o fumus boni iuris, um princípio usado em Direito, que consiste em considerar que a situação mais provável foi a que de facto aconteceu. Ou seja, se um defesa corta a bola para fora das quatro linhas, mas havia dúvida se esta embateu no atacante antes de sair, então optava por considerar que o defesa foi o último a jogar a bola, dado que foi ele que desencadeou a acção. Deste modo estaria também a distribuir eventuais erros de igual forma por ambas as equipas. No entanto, esta estratégia revelou-se um erro crasso. A estratégia que deveria ter seguido era a de escolher aleatoriamente uma equipa e em caso de dúvida beneficiar sempre essa equipa; assim só ouviria reclamações de um lado e seria, quiçá, endeusado pelo outro!

Apesar de todas estas vicissitudes, não há nada como o Mundial para renovar o espírito de convívio entre as unidades do INESC Porto. O open-space da UTM foi palco para as transmissões dos jogos da selecção nacional. Para tal, foram mobilizados numerosos meios técnicos e humanos, nomeadamente vários engenheiros que aplicaram os seus conhecimentos de radiação e propagação de modo a encontrar o local ideal para a colocação da antena utilizada na recepção da transmissão.  

Quantos aos jogos (nota: o resultado do jogo contra o Brasil ainda não era conhecido aquando a escrita deste texto), o primeiro foi uma desilusão, com a selecção a brindar-nos com um jogo cinzento. Os aspectos técnico-tácticos foram mal executados; a exploração dos flancos não foi feita devidamente; transições defesa/ataque demasiado lentas; e… fiquei sem mais chavões e constatações óbvias. A selecção da Costa do Marfim é conhecida pelo epíteto “os elefantes”, mas quem ficou de trombas fomos nós. Já no segundo jogo tudo foi diferente. A selecção decidiu jogar à bola e esmagou a poderosíssima Coreia do Norte. A cada golo marcado, Carlos Queiroz festejava efusivamente como que se desatasse o laço da corda que tinha ao pescoço, permitindo-o assim sair do cadafalso.

Para terminar, espero que quem esteve a ver os jogos durante o horário de expediente tenha compensado devidamente esse tempo noutra altura. É que não sei se repararam, mas o défice continua vivo e de boa saúde, e não há nenhuma promoção em que por cada golo marcado pela selecção o IRS baixa 1%. Fala-se, inclusive, em cortar nos feriados. Relativamente aos 2 feriados religiosos a cortar, sou da opinião que devem ser escolhidos a Assunção de Maria e a Páscoa. Aliás, como bolseiro, também não me repugna nada que haja cortes no 13º mês (ok, já vou ter uma “espera” no estacionamento).

 

*Colaborador da Unidade de Telecomunicações e Multimédia (UTM)