Fora de Série
Este espaço destina-se a prestar homenagem a um colaborador que mensalmente se distinga com especial relevo na sua actividade. A escolha final é da responsabilidade da Redacção do BIP mas a colaboração das Coordenações de todas as Unidades é preciosa pois as sugestões e motivações são fundamentalmente da sua responsabilidade...
David Rua
1. Integrou o INESC Porto em 2009 e esta é a sua primeira distinção pública. Esperava um reconhecimento tão rápido?
Não esperava, de facto, um reconhecimento público, nem tão pouco num tão curto espaço de tempo. Evidentemente fico feliz com o facto de ver o meu trabalho ser apreciado pelo coordenador da equipa e encaro-o sobretudo como mais uma fonte de motivação no sentido de me manter ao nível das expectativas que recaem sobre o meu trabalho no INESC Porto.
2. Como surgiu a oportunidade de trabalhar no INESC Porto?
Integrei a equipa do INESC Porto no âmbito do meu doutoramento e fui convidado pelo Professor Peças Lopes a desenvolver o meu trabalho que está relacionado com sistemas de comunicações em redes eléctricas na equipa da USE.
3. O que é que motiva um investigador a trabalhar no INESC Porto, mais concretamente na USE (Unidade de Sistemas de Energia)?
No meu caso, a minha primeira motivação surgiu precisamente a partir do trabalho no âmbito do doutoramento que me tem permitido explorar os conhecimentos que adquiri dentro das telecomunicações num ambiente como os sistemas de energia que conhecia muito por alto. A segunda motivação surgiu já depois de ter integrado a equipa da USE, onde desde então conto com um ambiente de trabalho muito bom e com um conjunto de pessoas de uma dedicação muito grande e com sentido de equipa e entreajuda.
4. O David Rua foi eleito colaborador “Fora de Série” de Setembro no âmbito da sua colaboração no projecto MERGE. Pode dizer-nos a importância estratégica que este projecto assume no contexto da USE e do INESC Porto em geral?
A dimensão Europeia do projecto MERGE é um claro indicador da sua importância para o INESC Porto. No caso do trabalho relacionado com a USE, o MERGE assume particular relevância sobretudo na implementação de visões estratégicas dentro do processo de modernização das redes eléctricas. Contemplando a mobilidade eléctrica introduzida por futuras entidades na rede eléctrica, como por exemplo veículos eléctricos, o MERGE procura antecipar cenários técnicos e de mercado que permitam maximizar a integração destes recursos móveis e minimizar o impacto dos mesmos sobre a rede.
5. Quais têm sido os principais desafios de estar envolvido num projecto com a dimensão do projecto MERGE?
O principal desafio é estar ao corrente do que se vai passando no projecto. O facto de ser um projecto com uma dimensão Europeia, obriga a conciliar não só diversos pontos de vista dos diferentes parceiros do projecto, mas também cenários e desafios diferentes de país para país. Por vezes não é fácil, mas posso dizer que a discussão tem sido bastante enriquecedora.
6. Que balanço faz do projecto MERGE?
Na minha opinião, julgo que o projecto tem corrido bastante bem e os resultados para já alcançados são significativos. A título de exemplo refiro apenas alguns dos resultados mais visíveis do MERGE, como:
- A definição dos requisitos para carregamento Plug&Play de veículos eléctricos, tanto do ponto de vista da parte de potência, como da parte de ICT;
- O papel das tecnologias de smart metering e a sua importância na definição de funcionalidades que permitam o acesso universal à rede eléctrica dos utilizadores de veículos eléctricos, contemplando diferentes estratégias no carregamento das baterias e introdução de conceitos como vehicle-to-grid (V2G) e vehicles-to-home (V2H);
- As oportunidades dentro das Smart Grids para a integração da mobilidade eléctrica, como por exemplo o uso de conceitos como Micro-rede na implementação de estratégias avançadas de controlo e as diferentes estratégias de carregamento;
- A identificação das atitudes e comportamentos dos consumidores em relação ao uso de veículos eléctricos. Este estudo permitiu ter uma noção abrangente dos padrões de mobilidade e dos diferentes comportamentos humanos de diversos países (Portugal, Espanha, Alemanha, Grécia, Inglaterra e Irlanda).
Embora o balanço seja para já positivo, ainda há muito trabalho pela frente e o projecto não chegou a meio da sua execução, pelo que mais resultados são esperados e novos balanços serão feitos.
7. Actualmente o trabalho do David centra-se nas arquitecturas de comunicação. Pretende especializar-se nesta área ou gostava de trabalhar em novas áreas em projectos futuros?
A minha formação base é de facto em telecomunicações, mas neste momento o meu trabalho tem-me colocado na fronteira entre os sistemas de energia eléctricos e os sistemas de comunicações. Vejo-me a trabalhar nesta área porque me identifico com ela, mas nada me impede no futuro de trabalhar em áreas diferentes. Se me perguntassem há 4 anos onde e o que estaria a fazer hoje, dificilmente acertava.
8. Sente que cresceu como profissional desde que integrou o INESC Porto? Quais são as principais diferenças que sente a este nível?
O INESC Porto faz parte de mais um ambiente de trabalho que conheci e tal como nos anteriores tive a felicidade de encontrar um ambiente realmente saudável. O contacto e o trabalho no âmbito de um projecto como o MERGE trouxe naturalmente alguns desafios e permitiu de facto aprender muito na superação dos mesmos. O trabalho desenvolvido no âmbito do doutoramento tem também colocado algumas barreiras, permitindo aumentar o meu conhecimento numa área que honestamente pouco conhecia, nos sistemas de energia eléctrica. Na realidade, ainda estou cá há pouco tempo, pelo que espero que este processo de aprendizagem se torne cada vez mais rico.
9. Que conselhos daria a um investigador em início de carreira?
Eu dificilmente serei a melhor pessoa para dar conselhos, sobretudo agora que olho para trás e vejo o que já fiz antes de chegar ao INESC Porto. O que posso dizer é que a ideia que tinha da investigação era bem diferente da que tenho hoje e que o trabalho de investigação é de facto muito desafiante e a persistência é uma característica que se torna realmente importante. Nesse sentido, e para manter a motivação sempre em níveis elevados, é importante contar com o apoio e a interacção com os colegas de trabalho, onde o espírito e ambiente que se encontram, neste caso na USE, fazem realmente a diferença.
10. Terminaremos este breve questionário pedindo que comente a sua nomeação, feita por Manuel Matos, coordenador da USE.
Nos últimos meses o David Rua desenvolveu, no âmbito do projecto Europeu MERGE, um grande volume de trabalho, com grande qualidade e grande autonomia, no domínio da definição de arquitecturas de comunicação que suportarão o desenvolvimento de soluções para a mobilidade eléctrica e sua integração no sistema eléctrico do futuro.
Fico orgulhoso pela distinção e agradeço o reconhecimento, esperando no futuro que o meu trabalho continue ao nível das expectativas que em mim depositam. Não posso deixar de agradecer igualmente aos meus colegas da USE que contribuíram para esta distinção.