Fora de Série
Este espaço destina-se a prestar homenagem a um colaborador que mensalmente se distinga com especial relevo na sua atividade. A escolha final é da responsabilidade da Redação do BIP mas a colaboração das Coordenações de todas as Unidades é preciosa pois as sugestões e motivações são fundamentalmente da sua responsabilidade...
âNGELO mARTINS
1. O que significa para si ter sido distinguido pelo coordenador da USIG como “Fora de Série” do mês de dezembro?
Esperemos que não queira dizer mais trabalho... É sempre agradável ver o trabalho reconhecido, ainda que possa parecer um pouco injusto para os colegas que trabalham comigo nesta área, em especial o Artur Rocha, o Carlos Tavares e o Mário Ricardo Henriques.
2. Como surgiu a sua ligação ao INESC Porto?
Andava na FEUP, talvez no 3º ano (1990), quando o Professor Vladimiro Miranda surgiu com a ideia de envolver alunos da Licenciatura em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores (LEEC) em projetos do INESC, de forma voluntária e não remunerada. Fui então fazer algum trabalho para o 1º andar de Mompilher, mais concretamente na aplicação de licenças policiais do Governo Civil do Porto. As teses de mestrado e doutoramento também foram desenvolvidas no INESC, em José Falcão, mas só em finais de 2004 é que entrei oficialmente para o INESC Porto. Pode dizer-se que foi um longo namoro.
3. Está precisamente a completar-se um ano sobre a extinção da Unidade de Sistemas de Informação e Comunicação (USIC), que entretanto deu lugar à Unidade de Sistemas de Informação e de Computação Gráfica (USIG). Qual é o balanço que o Ângelo faz desta transição?
Um ano é muito pouco tempo para tirar conclusões. A Unidade ganhou massa crítica ao nível de doutorados, muita gente de valor, mas não é fácil colocar toda esta gente a cooperar entre si. As sinergias vão aparecendo, mas ainda há muito trabalho a fazer. Talvez seja preciso adicionar alguns pozinhos de catalisador. Por exemplo, esta linha de trabalho Ambient Assisted Living (AAL) na USIC/USIG nasceu de umas ações de brainstorming organizadas pelo António Gaspar e pelo João José Pinto Ferreira no sentido de se alargar a área de trabalho da unidade. O Artur Rocha e eu tínhamos ideias complementares e daí nasceu o projeto Caalyx.
4.Como descreveria a fase que a USIG vive atualmente?
Adolescência? Nasceu, está viva e mexer-se, mas ainda não atingiu a maturidade. Ainda tem muito para evoluir.
5. O Ângelo Martins foi eleito colaborador “Fora de Série” de dezembro no âmbito dos projetos que tem vindo a desenvolver na área do AAL, um dos quais se enquadra no Pólo da Saúde. Como é que vê a entrada de uma instituição tradicionalmente ligada à Engenharia, como é o caso do INESC Porto, na área da Saúde?
Acho que não se trata de uma entrada. O INESC Porto tem um longo historial de trabalho na área dos sistemas de informação ligados à saúde. Talvez seja novidade estarmos perto do utilizador final. Mas também já houve empresas incubadas aqui na área da saúde. Estou-me a lembrar da Tomorrow Options.
Mas a área concreta do AAL parece-me fundamental a longo prazo. É um mercado de tal forma vasto e crítico para a sobrevivência da sociedade atual, que temos que estar lá de forma ativa. Lembro que até a China será, a curto prazo, um mercado nesta área. Portugal tem características (dimensão, envelhecimento, fracos recursos, etc.) que o tornam apelativo como plataforma de teste de serviços exportáveis para todo o mundo.
6. Qual será, na sua opinião, o papel da Engenharia para os avanços no setor do Saúde nas próximas décadas?
Tem um papel fundamental na explosão nos custos dos serviços de saúde, fornecendo equipamentos cada vez mais caros e especializados. Parece estranho, mas é verdade. Houve três grandes responsáveis pelo aumento da longevidade da população no século XX: vacinas (prevenção), antibióticos (cura) e as condições de higiene (prevenção). A Engenharia Civil deu um grande contributo... Todo o resto deu uma ajuda, mas estes foram os fatores críticos.
O AAL também está no lado da prevenção, pelo que tem o potencial de baixar os custos de assistência. Isto ainda está por provar na prática, mas estamos a trabalhar sempre com esse objetivo em mente.
7. O CAALYX arrancou em 2007 e, desde aí, já originou o eCAALYX, em 2009, e agora o CAALYX-MV. Como explica o sucesso deste projeto?
O AAL4ALL, um projeto mobilizador do QREN, segue, quase milimetricamente, o mesmo modelo do Caalyx. Aproveitei muitas figuras na elaboração da proposta... A resposta é bom-senso. O que estamos a propor faz sentido, é aplicável em qualquer país minimamente desenvolvido e é escalável. Espero que também venha a ser barato. É uma espécie de “Carocha” do AAL, ou seja, simples e barato, mas com o potencial de ser muito eficaz a dar resposta aos problemas básicos da assistência a idosos. Claro que a simplicidade [aparente] dá muito trabalho. Seria relativamente mais fácil propor soluções complicadas e caras, mas inúteis no mercado.
Mas o sucesso não é assim tão evidente para todos os indicadores. Por exemplo, não é fácil publicar artigos em revistas sobre soluções aparentemente simples, que parecem não fazer avançar o estado da arte. Mas essa era uma conversa que dava pano para mangas!
8. Quais são os principais objetivos do AAL4ALL? Qual será a contribuição da USIG/INESC Porto para este projeto?
O AAL4ALL pretende criar um ecossistema em Portugal que potencie o desenvolvimento de soluções comerciais na área do AAL. Trata-se de um projeto mobilizador do QREN, com um financiamento total de cinco milhões de Euros e 31 parceiros, em que vão ser desenvolvidos modelos de negócio e padrões de serviços e produtos que permitam a interoperabilidade de soluções. Não vão ser desenvolvidas soluções de raiz.
Colaborámos ativamente na elaboração da proposta, que se baseia no modelo Caalyx. E, em princípio, vamos liderar um dos cinco subprojetos, ligado ao teste e certificação (automatizada e eficiente) dos produtos e serviços AAL4ALL. O resultado deste subprojeto será a génese de uma entidade certificadora sectorial.
Uma participação destacada neste projeto é fundamental, pois teremos um papel de relevo na normalização na área, desde a aplicação do modelo Caalyx à definição dos próprios processos de certificação.
9. Qual é a importância estratégica destes projetos no âmbito da USIG, em particular, e do INESC Porto, no geral?
A área do AAL é interessante porque é transversal a todas as áreas do INESC Porto. Sendo uma área mais de aplicação, permite rentabilizar o know-how adquirido nas restantes áreas. É preciso ter consciência que o problema é vasto e com muitas variantes, pelo que a linha Caalyx pretende apenas atingir um segmento de mercado específico. Há espaço para muitos projetos nesta grande área, havendo já alguns exemplos na USIG. Por exemplo, o ICT4Depression, liderado pelo Artur Rocha.
Também vejo boas possibilidades para a criação de uma spin-off para explorar comercialmente algumas das soluções desenvolvidas. Estamos a trabalhar com essa perspetiva em mente.
10. Terminaremos este breve questionário, pedindo que comente a seguinte citação de António Gaspar, um dos Coordenadores da sua Unidade, a USIG.
Gostaria de propor o Prof. Ângelo Martins para Fora de Série do mês de dezembro. Nesse mês foram assinados mais dois projetos na linha do Ambient Assisted Living: o CAALYX-MV (Market Validation), um projeto europeu CIP-PSP, e o AAL4ALL, um Mobilizador QREN, projeto âncora do Health Cluster Portugal, o chamado Pólo da Saúde. Estas aprovações são resultado do trabalho continuado que tem desenvolvido na área do Ambient Assisted Living na USIG. Com efeito, o Prof. Ângelo Martins tem assumido desde o projeto CAALYX em 2007 a dinamização desta área. O seu esforço redundou na aprovação do projeto eCAALYX em 2009 e agora na aprovação destes dois novos projetos. Este esforço de dinamização e de desenvolvimento de uma nova área de atividade deve ser sublinhado e por isso faço esta proposta.
Elogio em boca própria é vitupério. Agradeço as palavras simpáticas e fico satisfeito por ver o trabalho reconhecido.