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Um olhar sobre nós na voz dos nossos parceiros - Electricidade dos Açores, S.A., pela voz de Francisco Botelho.

Fora de Série

"... sinto-me com motivação e ambição para continuar a ajudar a instituição a crescer e a afirmar-se como uma referência internacional.", Luís Seca

A Vós a Razão

"Era uma vez uma criança que teve a sorte de ter um tio que lhe explicou como os foguetões escapavam à força da gravidade deitando fora os tanques de combustível vazios para ficarem mais leves...", Abílio Pacheco

Asneira Livre

"I know that INESC Porto offers great competencies and facilities in OFS. This means that we can develop the best sensor configurations and interrogation techniques for the sensing platforms.", Mohammad Zibaii

Galeria do Insólito

Difíceis tempos estes que vivemos, onde até dos pés nos vemos à rasca. Que o diga Joana Esperança, uma jovem desconhecida que viu no INESC Porto a salvação para as suas aflições.

Ecografia

BIP tira Raio X a colaboradores do INESC Porto...

Jobs 4 the Boys & Girls

Referência a anúncios publicados pelo INESC Porto, oferecendo bolsas, contratos de trabalho e outras oportunidades do mesmo género...

Biptoon

Mais cenas de como bamos indo porreiros...

 

A Vós a Razão

UM MILHÃO DE TONELADAS

Abílio Pacheco*

Era uma vez uma criança que teve a sorte de ter um tio que lhe explicou como os foguetões escapavam à força da gravidade deitando fora os tanques de combustível vazios para ficarem mais leves. Também talvez por isso cresceu nela a vontade de ler como forma de explorar o mundo. Depois seguiu-se a descoberta da biblioteca da Gulbenkian na cidade mais próxima, livros sem fim sobre assuntos desconhecidos. Era essa a ideia mais aproximada de liberdade que conhecia – dispor de um mapa para o desconhecido que podia explorar sem limites… Até ao dia em que embateu de frente com a censura – quando a responsável da biblioteca a impediu de continuar a ler um livro extraordinário por ter menos de 14 anos. Tratava-se de A Metamorfose de Franz Kafka, como veio a descobrir dois anos mais tarde, quando avidamente pôde ler e reler a sua obra para sempre incompleta. Embora fosse uma biblioteca pequenina, com não mais de dez mil livros, parecia e era uma porta encantada – e essa criança nem sabia a sorte que tinha.

O método que usava era simples: passear à sorte pelas prateleiras, folheando livros até encontrar algum que despertasse a sua atenção (na realidade a dificuldade era selecionar apenas cinco – o limite dos que se podiam requisitar para levar para casa). Depois, se o livro era entusiasmante, ia à enciclopédia e procurava outros livros do mesmo autor, de amigos dele, da mesma corrente de pensamento/literária ou sobre o mesmo tema. E se fosse uma má escolha, a penalidade que aplicava a si própria era a de ler o livro até ao fim (só aconteceu duas vezes).

 

Essa criança curiosa que vive ainda dentro de mim teve a sorte de ser escolhida para uma bolsa de investigação no INESC Porto sobre o complexo tema dos incêndios.

Como sempre, quando se entra a fundo num assunto novo (e o universo está repleto de temas entusiasmantes), as novidades inesperadas sucedem-se. Primeiro descobri pela mão do meu chefe e orientador, o Professor João Claro, que a supressão do fogo conduz a mais fogos, isto é, a convicção de que se devem apagar todos os incêndios conduz a incêndios ainda mais catastróficos. Depois “descobri” que o fogo controlado (ou prescrito) podia ser usado (no inverno) para equilibrar a ação do homem sobre o curso natural das florestas e interromper esse ciclo de devastação.

No quadro mais vasto dos sistemas de engenharia (ver “A Perspetiva Sistémica”) e suas dinâmicas, começo a compreender o problema dos “reacendimentos” em situações em que um número de ignições (incêndios nascentes) descomunal (centenas num dia) esgota todos os recursos disponíveis, e a sua relação com o fogo subterrâneo, as técnicas de combate inapropriadas (apenas água, sem recurso a ferramentas manuais), e com o problema dos “falsos alarmes” (que descobri por acaso, ver “Serendipidade”) – com todo o seu impacto no decréscimo dos meios de combate disponíveis, nos custos e principalmente na segurança dos próprios bombeiros.

Alguns números interessantes:

  • 9% das exportações portuguesas resultam de atividades económicas relacionadas com a floresta;
  • Entre 2000 e 2004, por ano e em média:
    • ardeu 1/40 da floresta do pais,
    • as perdas diretas ascenderam a 250 milhões de euros,
    • e foram gastos mais de 120 milhões de euros em prevenção/supressão;
  • 200 milhões de euros foi o valor das perdas em produtos e serviços prestados pelos ecossistemas florestais em resultado dos 22 mil incêndios que ocorreram ao longo de 2010;
  • 16,6% dos alertas no distrito do Porto revelaram-se um “falso alarme” (1241 em 7462) e 17,5% foi o valor nacional (5654 em 32357);
  • 1h e 6min é o tempo médio necessário para despistar um “falso alarme”, ocupando uma ou duas viaturas com quatro ou cinco elementos cada, e estima-se em cinco a dez milhões de euros o seu custo (direto);
  • Finalmente, um milhão de toneladas foi o valor das emissões de CO2 que resultaram dos 140 mil ha que arderam no ano passado.

 

Quando cheguei ao INESC Porto no mês passado, fui bem recebido e muito apoiado pela Grasiela, que também se chama Patrícia, e também pela Marta. Depois descobri com agrado a realidade multicultural (Bangladesh, Colômbia, Estados Unidos, Índia e Turquia) nas secretárias à minha volta: num grupo de 15 investigadores, cinco são estrangeiros. E logo começou a desenvolver-se a minha amizade com o Fayzur, natural do Bangladesh. A juntar a tudo isto, destaco ainda o ambiente de partilha que se respira na UITT [Unidade de Inovação e Transferência de Tecnologia], pontilhado semanalmente pelo Show and Tell todas as quartas-feiras.

 

Só coisas boas no INESC Porto?

Bem… o sistema de ar acondicionado podia ser melhor e tive de adiar a dissertação que estava avançada (Impact of a young cluster on the structure of its network of collaborations) sobre a rede de colaborações no Health Cluster Portugal (HCP), mapeadas através dos grafos correspondentes, e onde utilizo técnicas de Social Network Analysis (SNA) para investigar a evolução das relações de colaboração (entre as 110 entidades que o constituem) em time frames de três anos. O objetivo é medir o impacto da oficialização do cluster nas entidades que o constituem, analisando longitudinalmente a evolução da quantidade de artigos publicados na ISI — escritos em colaboração. E o contributo original traduz-se no facto de acrescentar a análise temporal (longitudinal) às técnicas tradicionais da SNA (observação dinâmica da evolução de um grafo ao longo do tempo) e nas possibilidades que se abrem no que respeita à previsão do comportamento futuro de sistemas complexos.

 

Depois da sorte de ter os professores que tive no decurso do MESG [Mestrado em Engenharia de Serviços e Gestão], sinto-me feliz por pertencer a esta equipa e poder aceder a todos os recursos que temos à nossa disposição num excelente ambiente de trabalho! 

 

*Colaborador na Unidade de Inovação e Transferência de Tecnologia (UITT)