OCEANUS de sonhos
Não há Universidade em Portugal com nome mais acertado com a vocação marítima do que o Porto.
Um porto nunca foi local de partida ou chegada: foi sempre e apenas uma encruzilhada no caminho, entreposto de passagem, um nó numa cadeia. Entra-se ou sai-se de um porto, não se fica lá. O porto é o suspender de respiração antes de avançar para os sonhos todos.
A cidade sempre foi porto e não há outra forma mais sintética de o compreender: Porto.
A região ficou portucalense, ou seja, da natureza ou com atributo de porto. E o país? Não custa compreender que Portugal se construiu obedecendo aos sinais, ao presságio, ao desígnio, e virou porto universal.
As coisas, no Porto, vão se fazendo discreta, subterraneamente, como quem quer viver e deixar viver. Sempre foi assim, o burgo: mais do que ser capital de império, a sua gente quis foi viver livre e à sua maneira. Daí o pacto com o rei: nada de nobreza, nada de interferências e em contrapartida a cidade ajudará (com navios, carne, soldados, dinheiro) quando for preciso.
Há, porém, também horas de afirmação. Porque pode parecer estranho que a Universidade do único porto com maiúscula que o país tem não seja visível numa afirmação de vocação de mar, de conhecimento, de investigação, de exploração dos oceanos e das terras por baixo deles, que são nossas.
Saúda-se, pois, que a Universidade do Porto tenha retomado o projeto do OCEANUS, concebido como catalisador de entendimentos e sinergias entre escolas, institutos, professores, investigadores, alunos e demais agentes. Para nos agigantarmos, precisamos em primeiro lugar de conhecer a nossa força e depois de ganhar consciência de quanto podemos conseguir, se nos entendermos em desígnios coletivos.
O país precisa que (também) o Porto se assuma. A soberania sobre quatro milhões de quilómetros quadrados do fundo do Atlântico só será efetiva e real se soubermos e fizermos o que for preciso para a exercitar.
Créditos foto: Hrvoje Keko