O FUMO E A PIRÂMIDE
Não há navio sem âncora nem rio sem leito por onde corra. Assim funciona a realidade material para os sonhos: âncora para firmar os delírios e leito para encaminhar os devaneios fluidos até ao seu mar de destino.
É certo que o homem é mais do que carne e a carne mais do que apenas combinações em proporção de carbono, hidrogénio, oxigénio, fósforo e outros elementos. O que se louva na humanidade é ser mais do que o que podia apenas ser: animais movidos por férreo instinto.
Por muitos incentivos, exortações, palavras, elogios, vocalizações laudatórias, arengas mobilizadoras ao exército antes da batalha, nada substitui o ímpeto interior que o guerreiro ganha ao receber um abraço confiante e firme de pai e irmão no momento certo. Por muitas memórias que se acarinhem de um ente querido falecido, nada substitui um pequeno objecto que dele tenha sido, ou dele nos tenha vindo, e que conservamos como condensação física da saudade.
Sem matéria em que se ancore, o sonho é como chama e fumo emergindo da vela acesa: primeiro ilumina e logo depois se evola e desvanece e se torna irrelevante.
Assim também ocorre nas organizações. É por isso que a vida colectiva não pode fazer-se apenas de esquemas, intenções, deveres e obrigações. De vez em quando, quem dirige tem que compreender que as pessoas precisam de substância, matéria, concretização.
Assim era o entendimento dos faraós: e legaram-nos da forma mais material possível essa verdade piramidal e incontornável.
O INESC Porto não é diferente - nem as pessoas que o constituem (sim, porque “ele” são as pessoas) sentem de forma distinta. É preciso, pois, ganhar um novo ímpeto e ancorar os sonhos – numa ideia física e que nos dê, em simultâneo, orgulho de nova obra feita e demonstração de como somos capazes.E este sonho, ganhando densidade, há-de mobilizar-nos positivamente num ano em que outros se dedicam ao pessimismo e ao desalento.
Venha, pois, essa obra que nos falta.