Fora de Série
Este espaço destina-se a prestar homenagem a um colaborador que mensalmente se distinga com especial relevo na sua actividade. A escolha final é da responsabilidade da Redacção do BIP mas a colaboração das Coordenações de todas as Unidades é preciosa pois as sugestões e motivações são fundamentalmente da sua responsabilidade...
António correia alves
1. Estava a contar com esta distinção?
O Luís Carneiro conversou comigo antes de propor a minha candidatura.
2. Há quanto tempo integra o INESC Porto e qual a sua ligação à instituição?
Colaboro com o INESC desde 1986. Comecei com um contrato de prestação de serviços, integrado num projecto do Prof. Borges Gouveia.
3. O António Correia Alves vivenciou o processo de autonomização do INESC Porto. Que balanço faz da evolução do INESC Porto desde aí?
Francamente positivo. Permitiu o desenvolvimento de um caminho próprio, com grande aproximação ao mercado empresarial, desvios do que penso deva ser o posicionamento adequado a uma instituição de I&D de interface universidade-empresas.
4. Lembra-se do primeiro projecto em que esteve envolvido no INESC Porto? Fale-nos um pouco da sua primeira experiência profissional no INESC Porto.
Muito bem. Integrei uma equipa de desenvolvimento do GIE - Sistema de Gestão de Energia Eléctrica. Começou por uma versão desenvolvida sobre uma plataforma de hardware genérico de desenvolvimento com microprocessadores (já não me recordo qual era na altura) e evoluiu mais tarde para uma combinação entre PLC (autómatos programáveis) e PC. Foi um projecto que durou vários anos (começámos num andar em José Falcão, no prédio onde está instalada a Livraria do Estado), passámos pelo edifício ao lado, mudámo-nos para o Largo Mompilher e finalmente para a José Falcão, 110. Na altura conseguiu-se um sucesso significativo, com várias instalações em unidades industriais de referência (Siderurgia Nacional, cimentos, fundições, corticeiras, etc.). No início tínhamos que assegurar a manutenção dos sistemas, o que era um problema complicado: quando os sistemas paravam, as fábricas também (bom, havia sempre um interruptor de bypass).
Considero que foi uma excelente escola de aprendizagem em automação industrial, que permitiu muito enriquecimento técnico, humano e ganho de competências. Não resisto a contar esta pequena história: um dos clientes queixava-se que o sistema perdia históricos de consumos de energia. Depois de muita investigação, descobrimos que um operador do turno da noite aproveitava o computador do sistema como parceiro de xadrez, na altura ainda não existiam consolas de jogos. Ganhámos outra perspectiva do significado de “desenvolver sistemas robustos”. Mais tarde a tecnologia foi transferida para uma empresa e essa linha de intervenção abandonada.
5. O António Correia Alves foi eleito colaborador “Fora de Série” de Janeiro no âmbito das medidas Vale Inovação e Vale I&DT do QREN. Pode dizer-nos a importância que estes Vales assumem no contexto da UESP e do INESC Porto em geral?
Para a UESP representa um incremento significativo da Prestação de Serviços por Contrato, o que é muito importante para a nossa autonomia financeira, e do INESC Porto em geral. É também a prova da nossa capacidade de intervenção no mercado empresarial das PME, oferecendo serviços de grande valor acrescentado. Gostava de referir que esses nove contratos são com empresas com as quais estamos a trabalhar pela primeira vez.
6. O objectivo de submeter 11 candidaturas foi cumprido e sabe-se que nove delas foram aceites.
a. Qual foi o maior desafio de coordenar uma iniciativa deste tipo?
Conseguir contratos de prestação de serviços com PME numa conjuntura de retracção económica não é fácil, implica bastante persistência junto do mercado. Isto claro, partindo do princípio que a nossa oferta é interessante em termos de resposta às necessidades das empresas a que nos dirigimos. O que de facto parece ser.
A maior dificuldade consistiu na organização da resposta adequada e em tempo útil aos resultados das múltiplas acções de divulgação que fizemos: triar os casos que nos pareciam ter bom potencial dos meros curiosos (de facto atendemos situações tão diversas, desde pedidos de financiamento para renovar equipamentos sociais até apoios para compra de frota automóvel).
b. Quais são os trunfos que o INESC Porto apresenta para contrapor a conjuntura desfavorável da crise?
A nossa capacidade de oferecer soluções inovadoras, integradas e descomprometidas de interesses comerciais específicos. As épocas de crise são excelentes momentos para as organizações darem a volta. O pior que pode acontecer às empresas é entrarem em processos de bloqueio. Há que explorar novas oportunidades, novos produtos e serviços, novos mercados. Não é fácil mas é possível. Com muito trabalho.
7. Está no INESC Porto há 18 anos. Quais a principais mais-valias que trabalhar no INESC Porto trouxe para a sua carreira? O que é que motiva a continuar a trabalhar no INESC Porto?
O constante desafio colocado pela imensidão de problemas a resolver e a oportunidade de trabalhar com um conjunto de pessoas excepcionais.
8. Qual o valor acrescentado que o INESC Porto oferece às empresas com as quais trabalha?
(De algum modo creio já ter respondido na pergunta 6.) Para além de termos uma oferta que consideramos de grande valor técnico e científico, consideramos que temos uma elevada competência na gestão de projectos de natureza tecnológica, nomeadamente na capacidade de gerir a motivação e expectativas das pessoas. Não nos esqueçamos que, em última instância são elas que condicionam o sucesso dos projectos, tanto mais quando nos focamos em dinâmicas de mudanças organizacionais e processuais. Veja-se o exemplo da introdução de um novo sistema de informação numa empresa: mexe com muita coisa, novas formas de trabalho, novas competências...
9. Que conselhos daria a um investigador em início de carreira?
Muito trabalho e estar atento às oportunidades de desenvolvimento pessoal. A vida é uma aprendizagem contínua. Para além disso, o que é nacional pode ser bom. Quero com isto dizer que em Portugal faz-se ciência e tecnologia de grande valor e potencial. Em minha opinião, somos é fracos vendedores, não conseguimos atingir o mercado de forma eficiente.
10. Quais são os seus sonhos para o INESC Porto nos próximos dez anos?
Em primeiro lugar, incrementar a intervenção da UESP no domínio dos Sistemas de Produção, no que respeita à consultoria. A nossa intervenção tem estado mais focada na tecnologia (creio que todos conhecerão o que tem sido feito em termos de sistemas logísticos), estamos a aumentar de forma significativa a dimensão da intervenção nos domínios organizacionais, de uma forma paralela ao que já fazemos em relação aos processos de negócio.
Outra área de particular interesse é o desenvolvimento e exploração de soluções informáticas de nicho, como é o caso do Motor de Escalonamento. Conseguiu-se um produto, que já vai na terceira versão e com mais de vinte instalações. Desenvolveu-se um modelo de exploração comercial muito interessante, que está a dar frutos. É uma solução inovadora, em constante evolução e que potencia excelentes oportunidades para a actividade de investigação.
Também gostaria de referir o trabalho que estamos a fazer para o INESC Porto, em colaboração com a USIC, no domínio da reorganização dos processos internos. Trata-se de aplicar em casa o que sabemos e fazemos fora. Mas claro que espero que este projecto não precise de 10 anos.
11. Quem é a sua maior influência/exemplo (pessoal ou profissional) no universo INESC Porto? Porquê?
Aprecio particularmente a forma como a USE articula as actividades de I&D com as de consultoria e formação especializada. É certamente o resultado de uma estratégia bem pensada e conseguida.
12. Terminaremos este breve questionário, pedido que comente a seguinte citação de Luís Carneiro, coordenador da sua unidade, a UESP.
No mês de Janeiro a UESP propõe o António Correia Alves para a secção “o fora de série”, pelo trabalho realizado na coordenação da preparação de projectos do tipo Vale Inovação.
Muito cedo definimos os programas Vale Inovação e Vale IDT como críticos para o suporte à actividade da UESP e o Correia Alves assumiu a responsabilidade de coordenar as actividades necessárias a estruturar um número significativo de candidaturas a estes programas.
Dada a conjuntura económica menos favorável a tarefa revelou-se muito mais difícil do que parecia inicialmente, mas a estruturação de forma atempada de uma abordagem adequada, a coordenação das diversas pessoas envolvidas e a persistência do Correia Alves foram determinantes para se ter conseguido cumprir o objectivo, com 11 candidaturas submetidas. Dos contactos efectuados resultaram ainda três propostas enquadrados noutras tipologias.
Diversas pessoas tiveram um envolvimento assinalável nesta acção, mas o Correia Alves destacou-se por ter coordenado as actividades.
Simpática, gostamos sempre quando o nosso esforço e trabalho são reconhecidos. Mas gostaria de deixar bem claro que, o que se conseguiu só foi possível graças ao empenho e dedicação de muitos, que deram o seu melhor. A acção envolveu o secretariado da UESP, o SIG, o SCI, a DIP e claro os nossos colegas consultores, sem os quais nada disto teria sido possível. Já agora, gostava de deixar o desafio, não estará longe nova campanha.