Galeria do Insólito
investigador expulso mas com projecto na mão
O INESC Porto foi recentemente convidado para uma reunião por um centro tecnológico da Galiza com o objectivo de auscultar potenciais parceiros para um projecto Interreg. Coisa normal e que só merece realce - e a reunião seria numa cidade do Minho, a meio caminho entre o Porto e a Galiza, só gentilezas, pois.
Além dos nossos amigos, estava também convidado para a reunião um grupo de uma certa Universidade portuguesa. Quando o nosso investigador chegou à reunião, atrasado porque confundiu as cidades todas do Minho (aprecie-se a imaginação da desculpa…), já os galegos e os outros portugueses tinham iniciado o diálogo.
Chegado à reunião, o nosso investigador apresentou-se, como manda a boa educação e os galegos voltaram a descrever a ideia do projecto, ao que o colaborador do INESC Porto respondeu, com naturalidade, explicando quais as competências da Instituição e contribuindo com algumas ideias.
Porém - tem que ter este porém, senão a história não caberia na nossa Galeria - quando o investigador do INESC Porto acabou o seu discurso, o líder do outro grupo compatriota sai-se com a seguinte pérola:
- "Muito bem, então o colega do Porto já apresentou as suas competências e já ouviu os nossos colegas espanhóis… Faça favor agora de se retirar, a reunião continua mas só a dois".
Com patriotas destes, Miguel de Vasconcelos sente-se redimido na tumba. “Epa? Estarei aqui a mais?”, terá pensado o nosso investigador. "Então não fui convidado pelos espanhóis e agora sou expulso pelos portugueses?"
A hesitação percebe-se: "Faço peixeirada ou não?". A boa educação lá fez penosamente o seu caminho: mostrando diplomaticamente o desagrado, distribuiu cartões-de-visita pelos colegas galegos e veio embora. Imaginemos o que pensou e sentiu a fazer quilómetros abaixo até ao Porto. "Nunca tal vi!". Nem nós.
Guardado estava o melhor bocado: a fim da tarde, recebe dois e-mails dos colegas galegos, de duas instituições, apresentando pedido embaraçados de desculpas. E, com esse gesto, não é que vinha também o pedido para uma nova reunião com o INESC Porto (só com o INESC Porto), convidando o grupo do nosso infeliz para fazer parte do consórcio do projecto que eles pretendiam submeter.
E logo telefonam os galegos, queriam acertar detalhes. A conversa que se segue é completamente fantasiosa, inventamo-la por gosto pois o BIP não tem acesso às escutas:
- "E os da ********?", perguntaria decerto o nosso investigador, ainda incrédulo.
- "Bueno... ellos son muy complicados...", ouviria do outro lado. Isto dentro do maior respeito transfronteiriço, claro, pois que a comunicação poderia ter sido em galego mesmo, idioma geneticamente português que se reconheceria de imediato se escutássemos a palavra "complicadinhos".
Já temos noticiado esforços denodados dos nossos colaboradores para assegurarem contratos e internacionalização, mas que um deles se ponha a jeito para levar porrada, ser mal tratado e expulso, e com isso consiga ganhar um projecto, confessamos, é estratégia audaciosa.
E em época de crise, se precisarmos de trabalho, sempre podemos pedir aos compatriotas "complicados" que organizem mais umas reuniõezitas daquelas...