Fora de Série
Este espaço destina-se a prestar homenagem a um colaborador que mensalmente se distinga com especial relevo na sua atividade. A escolha final é da responsabilidade da Redação do BIP mas a colaboração das Coordenações de todas as Unidades é preciosa pois as sugestões e motivações são fundamentalmente da sua responsabilidade...
NUNO CRUZ
1. Qual foi o primeiro pensamento que teve quando soube que tinha sido eleito “Fora de Série”?
“Oh, não, vou ter de responder a um questionário…”.
2. Passou cerca de um ano sobre a integração do ROBIS no INESC Porto. Já se sente um “inesquiano de gema” ou ainda está a habituar-se à ideia de ser investigador do INESC Porto?
Penso que só é necessário tempo de habituação quando as mudanças são traumáticas ou de alguma forma difíceis. A cultura de exigência do INESC Porto é clara e assenta em organização, profissionalismo, diálogo e transparência. Penso que ninguém se pode sentir surpreendido ao entrar e todo o ambiente respirado no INESC Porto ajuda no processo de integração.
Este primeiro ano decorreu a um ritmo muito acelerado e não me pareceu necessário desperdiçar tempo nesse “período de habituação”. Havia (e há!) tanta coisa interessante para fazer!
3. De que forma é que as competências do ROBIS e as das restantes unidades de I&DT do INESC Porto se complementam?
A Robótica é uma disciplina transversal, integradora. Talvez os pontos mais comuns dos seus investigadores sejam a Automação e o Controlo, mas as competências globais da unidade agregam diversos domínios da eletrotecnia em função do background e da especialização dos seus investigadores. De qualquer maneira, em muitas situações acabamos por saber um pouco de tudo sem sabermos muito de nada… As restantes unidades são mais específicas e espelham áreas de conhecimento mais bem definidas. Para nós, isto pode ser visto como um repositório dinâmico de conhecimento ao nosso dispor, que tem sido já utilizado de forma muito positiva, em particular nas novas candidaturas a projetos. Neste aspeto, gostaria de salientar o papel do Olivier, que pelo seu conhecimento abrangente das diversas competências do INESC Porto, tem ajudado de forma significativa a coordenar algumas dessas novas propostas. Por outro lado, também esperamos que as competências do ROBIS possam ser aproveitadas pelas restantes unidades, em particular no que diz respeito à capacidade de materializar soluções que permitam a validação no terreno de soluções mais teóricas.
4.No espaço de pouco mais de um ano, o ROBIS passou de grupo para unidade. Sente-se orgulhoso deste crescimento?
Sem dúvida! É bom fazer parte de uma equipa em que os resultados globais são claramente maiores que a soma dos esforços individuais. Foi um ano de intensa atividade, com muitas propostas e negociações de projetos, mas sobretudo com muitas ideias e projetos em desenvolvimento. Tem sido um caminho entusiasmante e o futuro afigura-se risonho!
5. O ROBIS não pára de crescer e acaba de ser oficializado um processo de fusão com o Laboratório de Sistemas Autónomos (LSA) do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP). Como vê esta fusão?
Portugal é um país pequeno e acabamos sempre por encontrar os restantes grupos de robótica em diversas ocasiões, às vezes como parceiros de projetos, outras como concorrentes. No que diz respeito ao LSA, houve algum trabalho conjunto no passado mais recente, atendendo às complementaridades com o ROBIS, pelo que este processo é uma consequência natural desse relacionamento.
6. Qual deverá ser o impacto desta fusão na competitividade científica e industrial do INESC Porto/ROBIS na área da robótica face ao mercado global?
Esta fusão vai resultar num aumento de massa crítica, que é fundamental para fortalecer as competências científicas da unidade e dar estabilidade ao nível da disponibilidade de recursos humanos para a execução de projetos de I&D. Por outro lado, vai trazer competências complementares na área da robótica, que permitirá alargar as áreas de intervenção e enfrentar desafios a uma escala maior.
Sem falsas modéstias, penso que a curto prazo será difícil pensar-se em robótica sem se pensar no INESC Porto.
7. O Brasil tem-se vindo a assumir como um dos mercados chave para os projetos do INESC Porto na área da robótica. Qual é o potencial do mercado brasileiro nesta área?
Não é segredo nenhum que o mercado brasileiro tem um enorme potencial ao nível das diversas engenharias, em especial na fase atual de forte desenvolvimento do país, em que os meios humanos e tecnológicos internos são ainda insuficientes. Esta insuficiência é assumida publicamente pelas entidades Brasileiras e há uma grande abertura ao acesso a conhecimento vindo do estrangeiro, em que Portugal é reconhecido como um parceiro preferencial, não só pela sua proximidade cultural, mas principalmente pelos méritos técnicos. No caso da robótica, em particular, um dos aspetos mais relevantes na sua utilização é o aumento de eficiência. Neste aspeto, o fator escala é crucial e o Brasil tem uma quantidade e diversidade de recursos naturais que se torna quase impossível imaginar a sua prospeção e exploração sem o recurso a soluções robóticas. Por isso, penso que nesta altura o Brasil apresenta uma combinação de fatores que o torna quase um “mercado ideal” para o INESC Porto na área da robótica.
8. Esta nomeação para “Fora de Série” vem no seguimento do bem sucedido projeto TRIMARES. Qual foi o maior desafio que este projeto lhe colocou?
A resposta é simples: o cumprimento de prazos! O projeto TriMARES consiste no projeto e desenvolvimento de um novo submarino-robô autónomo para a inspeção de barragens e albufeiras no Brasil. No verão passado, estive com o Aníbal Matos no Brasil a perceber os requisitos do consórcio Brasileiro. Elaborámos uma proposta com base na nossa experiência prévia com o submarino MARES, que pela sua modularidade poderia ser expandido para cumprir os requisitos pretendidos. O contrato foi assinado em agosto e, passados seis meses, o TriMARES está pronto para os primeiros testes na água. Todo o projeto decorreu a um ritmo acelerado desde o primeiro dia e exigiu um planeamento cuidado, uma vez que alguns dos componentes adquiridos tiveram longos prazos de entrega de alguns meses. Foi necessário desenhar e fabricar dezenas de peças que se foram encaixando como “lego” ao longo destes seis meses, para além dos sistemas eletrónicos e de uma quantidade infindável de cabos e conectores. No final, a sensação de ver toda esta “orquestra” a funcionar é indescritível! Devo realçar que o apoio incondicional de toda a estrutura do INESC Porto foi fundamental para conduzir ao sucesso do projeto. Aliás, aproveito para agradecer publicamente o papel da contabilidade, que ao longo destes meses teve de lidar com muitas dezenas de encomendas, de vários fornecedores (sobretudo estrangeiros).
9. Qual é a importância estratégica deste projeto para o ROBIS em particular e para o universo INESC Porto em geral?
No caso do ROBIS, este projeto mostra que tem capacidade para cumprir requisitos operacionais exigentes e produzir tecnologia que será utilizada por terceiros, o que difere muito dos tradicionais protótipos académicos que são desenvolvidos para utilização interna.
Do ponto de vista do exterior, a exportação de tecnologia de ponta Portuguesa para um mercado tão importante (e apetecível) como o Brasil permite afirmar o INESC Porto como um “player” relevante no panorama da robótica internacional.
10. Terminaremos este breve questionário, pedindo que comente a seguinte citação de António Paulo Moreira, da coordenação do ROBIS, que o nomeou para esta distinção.
Gostava de destacar o Nuno Cruz pelo seu empenho e pelos conhecimentos demonstrados ao longo do projeto TriMARES, desde a conceção geral do submarino autónomo, ao seu desenho mecânico, passando pelos sensores, os actuadores e os sistemas de controlo e de gestão da energia.
Naturalmente que é com grande satisfação e orgulho que vejo este reconhecimento pelo trabalho neste projeto. Como é evidente este é um trabalho de equipa e estamos todos de parabéns!