A Vós a Razão
As dores do crescimento
Por Graça Barbosa*
Aceitei o convite do BIP para dar voz à minha razão – ou à falta dela – acerca de um tema que a todos nós diz respeito: o crescimento do INESC Porto.
O título deste artigo revela desde logo o meu sentimento em relação a este crescimento: é um crescimento que eu não desejei, que muitas vezes me aflige, cujo sentido nem sempre entendo mas que, tal como o crescimento súbito de um adolescente, é um processo natural, com o qual há que aprender a lidar. Esta comparação com o crescimento do adolescente surgiu na minha mente ao refletir sobre este assunto e pareceu-me uma boa forma de abordar esta questão e talvez ajudar a encará-la com maior serenidade.
Quando eu vim para o INESC, o que é agora o INESC Porto não tinha ainda existência autónoma, podendo ser comparado ao feto ainda em gestação. Depois nasceu, deram-lhe o nome de INESC Porto e cresceu, como uma criança saudável e bem comportada, controlável, não dando demasiados problemas aos seus “cuidadores”.
Mas eis que a criança se transforma num adolescente que desata a crescer rapidamente. Nessa altura, o jovem INESC Porto percebe que esse crescimento nem sempre é harmonioso, é a fase “desengonçada”, em que umas partes crescem mais depressa do que outras, as alterações em si próprio sucedem-se, os apelos externos multiplicam-se. O jovem INESC Porto tem alguma dificuldade em conviver com esse corpo subitamente enorme, que às vezes parece não lhe pertencer, e por vezes deseja secretamente voltar a ser pequenino. Também não sabe bem como relacionar-se com os outros e como responder às solicitações exteriores. Uma coisa é certa: já não é a criança bem comportada que fora um dia. Por vezes é contraditório, não sabe bem o que quer, mas quer experimentar tudo, aproveitar todas as oportunidades, ir a todo o lado, conhecer toda a gente, trazer amigos para casa, integrá-los na sua família. Agora, até quer formar uma banda com os seus amigos e dar-lhe um nome “cool”.
Os “cuidadores” andam de cabeça perdida, não conseguem aceitar facilmente tantas mudanças, tantos projetos, tantos novos amigos. Já perceberam que o jovem INESC Porto deixou de ser controlável como quando era uma criança pequena. Aos poucos, vão interiorizando que já não podem pretender saber tudo o que se passa com ele, não podem segui-lo para todo o lado, não podem protegê-lo das cabeçadas… E, finalmente, acabam por concluir que não têm outra alternativa senão mudarem eles próprios, posicionando-se de outra forma perante ele: incutindo princípios, reforçando valores, estabelecendo as regras básicas e as balizas dentro das quais o jovem deverá ser autónomo e, espera-se, responsável…
…e aguardar serenamente pela idade da razão.
*Responsável pelo Departamento de Informação e Logística (DIL)