Fora de Série
Este espaço destina-se a prestar homenagem a um colaborador que mensalmente se distinga com especial relevo na sua atividade. A escolha final é da responsabilidade da Redação do BIP mas a colaboração das Coordenações de todas as Unidades é preciosa pois as sugestões e motivações são fundamentalmente da sua responsabilidade...
Bernardo Silva
1. Soubemos que fez três diretas no INESC Porto durante o mês passado. Em algum desses momentos passou-lhe pela cabeça que iria ser eleito “Fora de Série”?
Quem vos contou? Não, ser “Fora de Série” nunca me passou pela cabeça. Quanto às diretas, só as fiz porque os trabalhos em questão necessitavam de uma quantidade enorme de simulações e, simultaneamente, tinham um tempo de entrega bastante curto.
2. Lembra-se de quando foi a primeira vez que ouviu falar no INESC Porto? Qual era a imagem que tinha do INESC Porto antes de integrar a instituição?
A primeira vez em concreto, não sei quando foi. Lembro-me de ouvir falar do INESC Porto enquanto aluno do curso de Engenharia Eletrotécnica na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Na altura pensei que era somente um edifício onde os professores tinham gabinetes, pois por diversas vezes visitei o INESC Porto para entregar trabalhos ou tirar dúvidas (normalmente antes dos exames). Mais ou menos no 3º ano do curso, comecei a aperceber-me de que o INESC Porto era algo mais. Os responsáveis por essa perceção foram os professores Manuel Matos, João Peças Lopes e Vladimiro Miranda, que durante as aulas utilizavam exemplos práticos de projetos desenvolvidos no INESC Porto.
3. O que é que motiva um investigador a trabalhar no INESC Porto, mais concretamente na USE (Unidade de Sistemas de Energia)?
O INESC Porto “per si”, sendo uma instituição de investigação e desenvolvimento com prestígio internacional, deveria bastar como fonte de motivação para qualquer investigador. No caso particular da USE, um investigador deve sentir-se motivado por poder contribuir em projetos de investigação de elevada importância, trabalhos de consultoria para a indústria nacional e internacional e “projetos híbridos”, isto é, projetos requeridos pela indústria em que se torna necessário aplicar os conceitos do estado da arte da investigação em determinadas áreas de intervenção.
4. Sente-se orgulhoso por colaborar numa Unidade tão prestigiada internacionalmente como é o caso da USE? Como caracterizaria a cultura e o ambiente desta Unidade?
Sinto-me bastante orgulhoso. A perceção do prestígio da Unidade é algo que denotei nos primeiros contactos com clientes e parceiros internacionais, que respeitam e admiram bastante o trabalho por nós desenvolvido. Quanto ao ambiente da USE, posso caracterizar como o de união, amizade e entreajuda. É de facto uma equipa (não só de futebol)! Penso que estes fatores são fundamentais para o funcionamento da Unidade nos moldes atuais.
5. O Bernardo foi nomeado “Fora de Série” no âmbito da sua participação, em simultâneo, em três projetos: o projeto Twenties, o projeto REN-FACTS e os estudos de integração em Cabo Verde. Houve algum momento em que tenha pensado que não iria conseguir “dar conta do recado”?
Sim, em todos os momentos até ao último. Até porque não foi um “recado” normal! Foi, de facto, um nível de exigência bastante elevado ao qual tentei responder do melhor modo que pude. As noites sem dormir e as noites mal dormidas foram a única possibilidade de executar todas as tarefas no espaço de tempo disponível. Só acreditei que era possível depois de ter as tarefas concluídas.
6. Qual é a importância estratégica destes projetos no âmbito da USE?
Todos os projetos enumerados têm importância estratégica em diferentes vertentes. No TWENTIES estamos a desenvolver conceitos inovadores para o controlo e operação de parques eólicos offshore interligados através de redes HVDC (“High Voltage Direct Current”) multiterminais. Esta é uma nova área de intervenção da USE. Sendo assim, este projeto está a permitir-nos adquirir “know-how” nesta área de intervenção. Os outros dois projetos são projetos com a indústria. O REN-FACTS, é um projeto com a Rede Eléctrica Nacional (REN), onde se pretende maximizar a integração de fintes renováveis sem comprometer a segurança de exploração da rede, através da introdução de dispositivos FACTS (Flexible AC Transmission Systems). Por fim, no projeto de Cabo Verde, estamos a calcular os limites de integração de fontes renováveis nas diversas ilhas do arquipélago, a avaliar a necessidade de dotar o sistema de dispositivos de armazenamento e a definir os requisitos para um sistema SCADA (Supervisory Control and Data Acquisition). Todos os projetos são importantes, pois permitem transferir para a indústria os conceitos e as metodologias de controlo desenvolvidas na Unidade.
7. Para além de ter executado um elevado volume de trabalho, o Bernardo também foi capaz de garantir um elevado nível de qualidade do mesmo. Se pudesse quantificar, como classificaria a sua evolução profissional desde que integrou o INESC Porto?
Integrei a equipa da USE logo que acabei o curso. Desde então, tenho desenvolvido diferentes tipos de trabalho que me permitiram contactar com variados problemas, assim como ferramentas e metodologias para a sua resolução. Sinto que ao contribuir nos projetos estou simultaneamente a evoluir profissionalmente, pelo que classifico a evolução como bastante satisfatória.
8. O Bernardo pretende seguir um percurso académico ou tem como objetivo tentar uma experiência na indústria?
Acho que o percurso académico perde o significado se não estiver em estreito contacto com a indústria. Por outro lado, penso que não existe a necessidade de trabalhar fisicamente na indústria para ter uma experiência na indústria. Podemos, tal como acontece no INESC Porto, trabalhar com e para a indústria. Porque não seguir um percurso académico sem deixar a vertente de colaboração com a indústria?
9. Que conselhos daria a um investigador que acaba de integrar o INESC Porto?
Em primeiro lugar, um investigador acabado de integrar o INESC Porto deve aproveitar a oportunidade de estar rodeado por pessoas com bastante capacidade e conhecimento para, com humildade, aprender com essas pessoas. Deve também ter bastante responsabilidade e rigor no trabalho desenvolvido. Por fim, acho que naturalmente uma dose de espírito crítico na proposta de novas soluções de abordagem aos problemas é algo que valorizará o investigador, distinguindo-o de um executante de tarefas.
10. Terminaremos este breve questionário pedindo que comente a sua nomeação, feita por Manuel Matos, coordenador da USE
A USE propõe o Bernardo Silva, bolseiro FCT do programa MIT-Portugal, para Fora de Série do mês de junho.
Sendo estudante de doutoramento, o Bernardo Silva desenvolve a sua atividade principalmente no projeto europeu Twenties, mas, devido às suas competências no âmbito da modelização e simulação, tem participado também no projeto REN-FACTS (contrato com a REN) e nos estudos de integração em Cabo Verde (contrato com a Gesto).
No mês de maio, a sobreposição destes trabalhos exigiu uma dedicação excecional do Bernardo, quer em volume de trabalho, quer em termos das exigências técnicas a satisfazer, que ele satisfez plenamente, obtendo resultados de elevada qualidade.
Sinto bastante satisfação em ver o trabalho reconhecido pelo Coordenador da Unidade, o Prof. Manuel Matos. Simultaneamente, sinto um acréscimo de responsabilidade em futuros trabalhos. Espero continuar a ser capaz de “dar conta do recado”.