Fora de Série
Este espaço destina-se a prestar homenagem a um colaborador que mensalmente se distinga com especial relevo na sua atividade. A escolha final é da responsabilidade da Redação do BIP mas a colaboração das Coordenações de todas as Unidades é preciosa pois as sugestões e motivações são fundamentalmente da sua responsabilidade...
Pedro Barbeiro
1. Qual é a sensação de ser nomeado “Fora de Série” do INESC TEC menos de dois anos após ter integrado a instituição?
Apesar de em algumas ocasiões (e em tom de brincadeira) ter ouvido colegas meus tecerem comentários como: “um dia destes ainda vais ser eleito Fora de Série”, a minha primeira reação foi mesmo de grande surpresa. Penso que não poderia ser de outra forma, olhando à elevada qualidade dos investigadores de todas as Unidades que, certamente, executam as suas tarefas com uma enorme capacidade de trabalho e com base em rigorosos padrões científicos e tecnológicos (valores que marcam desde há muito esta instituição).
Esta é igualmente a razão que transforma o sentimento inicial de admiração numa sensação de grande satisfação e contentamento por ver reconhecido e premiado o trabalho desenvolvido neste relativo curto espaço de tempo.
2. Como surgiu a oportunidade de trabalhar no INESC TEC? Qual era a imagem que tinha do INESC TEC antes de integrar a instituição?
A oportunidade surgiu após a conclusão da minha dissertação de final de curso, no primeiro semestre de 2010. Nessa altura, fui convidado a candidatar-me a uma bolsa de investigação no âmbito do projeto Europeu MERGE, bolsa onde fui aceite e a que tenho estado associado até à data.
A primeira vez que ouvi falar desta instituição foi durante a faculdade. Concretamente, lembro-me de ouvir referências a projetos realizados no INESC Porto em algumas disciplinas lecionadas pelos professores Vladimiro Miranda, Manuel Matos e João Peças Lopes. Nessa época já fiquei com uma imagem, ainda que de índole muito geral, sobre o universo científico e tecnológico deste instituto.
No entanto, foi durante o período de realização da minha tese que tive a oportunidade de conhecer de forma mais aprofundada o trabalho de excelência aqui realizado, especialmente o que é desenvolvido pela Unidade de Sistemas de Energia (USE). Estando sob a orientação do Prof. Carlos Moreira da USE, foi-me possível passar muito do meu tempo nas instalações desta Unidade.
3. Está a trabalhar na sua área de preferência? Qual é a sua formação base?
Sim, tendo obtido o Mestrado Integrado em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores na área de Energia, especialização em Energias Renováveis, foi-me dada oportunidade de colaborar em diferentes projetos, todos eles integrando conceitos avançados e atuais relacionados com a minha área de formação.
Saliento áreas como as redes elétricas inteligentes, produção distribuída, veículos elétricos e de muitos outros conceitos que, além de possuírem um conjunto de especificidades técnicas bastante apelativas para serem estudadas, podem desempenhar um papel fulcral na resposta às crescentes preocupações ambientais. Estas são algumas das razões que me motivam particularmente, levando-me a enfrentar os desafios colocados com especial prazer.
4.A nomeação do Pedro surge no âmbito de atividade na área de consultoria. O seu sonho passa por seguir uma carreira académica ou pretende tentar uma experiência profissional na indústria?
Sinceramente, tenho refletido sobre essa questão várias vezes nos últimos tempos, mas até agora ainda não encontrei resposta definitiva. Como se tem observado em muitos projetos realizados no INESC TEC, ambas as vertentes podem complementar-se, possuindo cada uma aspetos próprios aliciantes. No que toca à parte académica, considero a possibilidade de realizar um grau de doutorado muito motivadora e desafiante, dado que me permitiria continuar a aprofundar e a adquirir novos conhecimentos numa área específica. Esta ideia torna-se mais aliciante se tiver por finalidade servir como ponto de partida para alimentar novas aplicações a nível industrial.
Por outro lado, embora a vertente industrial pura não constitua um desafio tão grande a nível intelectual, possibilita a interação direta com o consumidor final e a resposta aos elevados e difíceis requisitos que este normalmente coloca (mesmo considerando que o contacto com o cliente não é tarefa fácil). Uma carreira industrial caracteriza-se ainda pelo potencial de evolução profissional e económico inerente a uma grande empresa.
Assim, independentemente da minha decisão futura (obviamente influenciada pelo tipo oportunidades que se propiciem), encontrarei certamente valores que preencherão os meus requisitos ao nível técnico-profissional, tanto na vertente industrial como na académica.
5. O Pedro está envolvido em três projetos de consultoria: integração de energias renováveis no arquipélago de Cabo Verde, MERGE e REIVE. Qual é o maior desafio associado a trabalhar em três projetos desta envergadura e em simultâneo?
O MERGE, devido à sua dimensão Europeia, integra um grande número de parceiros e pressupõe o desenvolvimento de uma significativa quantidade de plataformas de simulação, acompanhado da realização de uma grande diversidade de estudos, no sentido de avaliar a integração massiva de veículos elétricos nas redes elétricas europeias. Obviamente, esta situação coloca desafios extremos, quer ao nível da gestão de recursos humanos e materiais, quer ao nível do conhecimento necessário para a elaboração das ferramentas computacionais que foram especificadas.
No projeto REIVE ocorrem desafios semelhantes, mas inseridos numa escala nacional. No que toca ao trabalho de consultadoria realizado para a GesTo Energia, devido ao “know-how” adquirido na USE em projetos semelhantes, os desafios principais não se prenderam tanto com a necessidade de desenvolver novas ferramentas e processos de análise, mas com outros aspetos. Destaco a existência de pequena margem para erro e o grande volume de trabalho necessário na fase de modelização dos sistemas eletroprodutores de todas as ilhas analisadas. Nesta fase, devido à escassez de dados caracterizadores das redes elétricas das ilhas, houve necessidade de realizar um conjunto de etapas adicionais, essenciais à correta avaliação da viabilidade técnica do mix de geração renovável que se pretende instalar no arquipélago de Cabo Verde.
Se juntarmos a estes desafios a simultaneidade de trabalho em várias fases dos referidos projetos e a necessidade de cumprir com todos os prazos estipulados, obtém-se a mistura que responde à pergunta colocada, ou seja, temos um grande desafio à porta.
6. Sente o peso da responsabilidade por estar ligado a uma Unidade com o prestígio (interno e externo) da USE (Unidade de Sistemas de Energia)?
Olhando diretamente para questão e sem refletir poderia pensar que sim, mas na verdade a resposta é não, simplesmente porque toda a responsabilidade que sinto no meu dia-a-dia tem origem na minha maneira normal de lidar com as tarefas a que tenho de dar resposta e que, basicamente, é reflexo da minha educação, experiência académica e de vida. Ou seja, diariamente procuro realizar todas as tarefas da melhor forma que posso e sei e sempre com sentido de responsabilidade máximo.
Portanto, embora o prestígio interno e externo da Unidade que integro seja elevado, o grau de responsabilidade que normalmente assumo também o é, não existindo margem para ser substancialmente acrescido. Caso contrário o peso psicológico atingiria valores incomportáveis.
7. Como descreveria o ambiente que se vive nesta Unidade?
Respira-se um ambiente muito saudável, tanto a nível profissional como pessoal, onde qualquer pessoa, independentemente da nacionalidade, grau académico e idade se integra facilmente e rapidamente começa a adquirir competências na sua área de interesse. É claro que existem momentos de maior tensão, nomeadamente quando o desenvolvimento dos projetos é banhado por alguns infortúnios ou quando os recursos humanos são escassos perante as necessidades desta Unidade.
Mas devo sublinhar, baseando-me em experiência própria, que o espírito de entreajuda existente na USE é suficientemente forte para rapidamente “chutar para canto” aqueles momentos, como prova o sucesso alcançado por esta Unidade ao longo dos últimos anos.
8. Quais são as principais mais-valias que uma instituição como o INESC TEC/USE oferece a um investigador em início de carreira?
Desde logo, e falando na primeira pessoa, oferece a possibilidade de consolidar conhecimentos adquiridos e/ou desenvolver novas competências ligadas à área de intervenção para a qual fomos selecionados. Dado o know-how existente num conjunto alargado de áreas e a fácil comunicação entre todos os profissionais que integram a instituição, um investigador que queira ir para além das competências para as quais está contratado, pode facilmente usar os meios disponíveis para adquirir conhecimento adicional em outras áreas do seu interesse.
A possibilidade de contactar com um conjunto diversificado de empresas, institutos e universidades, o que acontece em muitos dos projetos desenvolvidos no INESC TEC, pode abrir portas aos jovens investigadores que, posteriormente, pretendam continuar a sua carreira académica, ou ingressar na indústria.
9. Sente que cresceu como profissional desde que integrou o INESC TEC/USE? Quais são as principais diferenças que sente a este nível?
Sem dúvida, mas obviamente esta é daquelas perguntas que mesmo querendo, pareceria muito mal se dissesse o contrário! À parte da ironia, a verdade é que após uma fase inicial de adaptação relativamente fácil, tenho vindo a observar um crescimento significativo no sentido de um profissional competente e íntegro.
Acima de tudo, noto uma maior capacidade e facilidade na aplicação de conhecimentos adquiridos e na aquisição de novos, o que se traduz na execução de determinadas tarefas de forma mais rápida e objetiva. Devo referir que um dos fatores que mais tem contribuído para a minha evolução como profissional reside no debate de ideias e na passagem de conhecimento que se faz diariamente entre todos os profissionais da USE, abrangendo desde professores com muitos anos desta casa até investigadores em início de carreira.
10. Terminaremos este breve questionário, pedindo que comente a seguinte citação de Manuel Matos, coordenador do USE, que o nomeou para esta distinção?
"O Pedro Barbeiro está envolvido no projeto de Integração de fontes de Energia Renovável no Arquipélago de Cabo Verde, no projeto Europeu MERGE e no projeto REIVE. As suas tarefas envolveram a definição de um plano de investimentos para as ilhas e análise dos impactos do VE em redes de transporte e distribuição de energia elétrica. O trabalho desenvolvido foi de grande qualidade e a sua execução simultânea exigiu um desempenho excecional, incluindo muitas noites de trabalho para conseguir cumprir os prazos estipulados. É justo que esta atitude - que não é só deste mês - e estes resultados sejam reconhecidos."
Sem falsa modéstia, penso que seria impossível não ficar orgulhoso e lisonjeado ao ler o comentário anterior. Sendo proferido pelo Prof. Manuel Matos, coordenador da USE, além da satisfação ser redobrada, acarreta uma responsabilidade e motivação acrescida. Agradecendo ao Prof. Manuel Matos as suas palavras e a distinção honrosa concedida, gostaria de terminar, dizendo que tentarei usar a motivação extra como uma aliada poderosa no cumprimento de tarefas futuras, de forma a manter o trabalho desenvolvido dentro dos padrões que se exigem a uma Unidade com o prestígio da USE.