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"Sim, é verdade que o meu ponto de vista é o de um anarquista louco e extremista – tão extremista que até anti-anarquismo eu sou. Muito prazer.", Manuel Parente (CEGI)

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Asneira Livre

Crónicas de um (meio) anarquista (meio) louco

Por Manuel Parente *


Curiosamente, a quantidade de temas que podiam ser abordados numa crónica da minha parte é uma lista bastante mais extensa do que eu esperaria. Poderia falar de como consegui aparecer de muletas no CEGI quando tinha menos de 1 mês de “casa”. Ou daquela vez em que fui “raptado” por uma senhora já com alguma idade que ninguém sabia quem era e que, de algum modo que ainda me ultrapassa, acabei por participar numa reunião entre ela e um dos Diretores do INEGI (sim, do INEGI e não do INESC TEC) sem saber como nem do que se tratava (deviam ver a cara dos meus colegas quando lhes descrevi o que se tinha acabado de passar). No entanto, há um tema ainda mais interessante no contexto de “asneira livre” que promete aliciar o interesse dos meus colegas inescquianos.

Como já todo o INESC TEC deve ter reparado, naquele tempo que sucede ao almoço e precede o regresso ao trabalho para o resto da tarde, os cegianos gostam de se reunir à entrada no nosso edifício e levar a cabo umas discussões (extremamente acesas), predominantemente sobre os temas política e/ou Bitcoins.

cegi

Ora, eu, na qualidade de engenheiro-civil-que-nada-percebe-de-nenhum-dos-assuntos, adoto um ponto de vista incrivelmente pragmático: um é incrivelmente etéreo e o outro extremamente desnecessário. Sim, é verdade que o meu ponto de vista é o de um anarquista louco e extremista – tão extremista que até anti-anarquismo eu sou. Muito prazer.

Felizmente, ainda não cheguei a um estado de loucura tal que me leve a partilhar esta ideia durante as “discussões acesas” do CEGI, sob pena de toda a atenção se virar para mim e de acabar impalado à porta da nossa sala como um aviso a futuros insurgentes com ideias semelhantes. De facto, quando a minha opinião é solicitada durante estas discussões, limito-me a um sorriso exageradamente cortês e aceno vivamente como quem está a partilhar opiniões com ambos os lados muito imparcialmente. Pois bem, agora que já sou “da casa”, decidi de uma vez por todas que posso assumir a rebeldia e desistir do social e politicamente correto: para começar, em vez de estarmos a discutir política e o valor das várias moedas, porque é que alternativamente não discutimos a necessidade (ou não) da sua existência? (está na altura de acrescentar uma banda sonora a esta loucura toda – sugestão óbvia: Imagine by John Lennon).

Considerando a moeda de um ponto de vista simplista, esta é, na sua origem, uma prova da contribuição do indivíduo para uma sociedade ou comunidade, cujo uso primordial é a obtenção dos bens e serviços essenciais à vida, nomeadamente alimento e abrigo. Ora, se nós no INESC TEC conseguirmos alcançar os objetivos para os quais já estamos a caminhar, seremos capazes de criar, pelo poder da colaboração entre os nossos centros de investigação, uma infraestrutura robótica, autónoma e auto-suficiente, capaz de garantir alimento e abrigo, por meio de atuação na agricultura (sem querer criar pressão para a malta do SmartFarming!) e nas indústrias da construção (e.g. aplicações da Indústria 4.0), respetivamente. Atingindo estes objetivos, qual é a necessidade de continuar a existir uma moeda? Para além disso, se não há a necessidade de competirmos por melhores condições de vida, por essas estarem garantidas à partida, para onde vai evoluir a noção de propriedade? E de países e nações? Será que vamos tornar-nos um bando de preguiçosos e destruir o nosso potencial de evolução natural, ou seremos capazes de nos unir como habitantes de um planeta global e trabalhar para um bem comum? Obviamente, neste contexto possivelmente utópico que Lennon continua a “martelar” nos nossos ouvidos (assumindo que as minhas instruções multimédia foram seguidas), terá a política de hoje alguma utilidade?

Para finalizar esta tese sarcasticamente repleta de coerência, podemos concluir que neste contexto somos todos uma cambada de (meio) anarquistas (meio) loucos, que tentam insistentemente acabar com o mundo tal como o conhecemos, seja por diversão ou para construir uma versão melhorada do mesmo (ou ambos). Fica também justificada a minha falta de contribuições (até ao presente) nas discussões acesas do CEGI sobre estes temas: não vale a pena discutir as vantagens e desvantagens de moedas e políticas, se estamos ao mesmo tempo a trabalhar para acabar com elas!! Os dias no INESC TEC são uma aventura.

* Colaborador no Centro de Engenharia e Gestão Industrial (CEGI)