A Vós a Razão

Ciência e tecnologia como bases de aproximação e de diálogo

*Por Raquel Pestana

A convite da Alexandra Xavier, coordenadora da Unidade de Inovação e Transferência de Tecnologia (UITT) do INESC Porto, aceitei o desafio de orientar alunos do Ensino Secundário no estágio científico “Fazer da Ciência e da Tecnologia a minha, a tua, a nossa linguagem”. Acredito que esta viagem mudou as perspectivas dos jovens participantes face ao mercado, ao tema da “inovação” e à integração de novas tecnologias nas empresas e, consequentemente, no mercado. Mais, fê-los descobrir que, para além da “veia” científica (até ao momento mais desenvolvida), a “veia” empreendedora também já se encontrava latente.

Sou licenciada em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas Artes da UP e, por sentir as necessidades de inovação no mercado, nomeadamente no meu sector de actuação, em 2009 ingressei no MIETE - Mestrado em Inovação e Empreendedorismo Tecnológico - na Faculdade de Engenharia (UP).

O estágio proposto pelo INESC Porto, ao abrigo da Iniciativa “Ocupação Científica nas Férias – Jovens Ciência Viva nos Laboratórios”, promovida pela Ciência Viva - Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, decorreu na primeira semana do mês de Julho.

A UITT elaborou um plano de actividades onde, em conformidade com os objectivos do próprio programa de enquadramento, procurou sensibilizar os jovens alunos para a inovação e para os respectivos desafios do empreendedorismo científico e tecnológico, estimulando-os a desenvolver a curiosidade e a proactividade como elementos propulsores para vencer eventuais resistências no processo de aprendizagem.

Com a duração de (apenas) cinco dias, a versão de 2010 proporcionou aos jovens inscritos no programa uma aproximação à realidade da investigação científica e tecnológica, bem como ao ensino experimental, conhecendo de perto as unidades de investigação do INESC Porto através de conversas informais com os investigadores. Estas conversas permitiram aos alunos perceber a diversidade de projectos das unidades, desenvolvidos ou ainda em desenvolvimento, tendo o projecto “inovGrid” - redes energéticas inteligentes - da EDP sido o mais disputado, discutido e aprofundado pelos alunos, arrastando-se no tempo, tal foi o interesse demonstrado.

O que mais apreciei nas apresentações, não me referindo apenas às realizadas pelas unidades de investigação do INESC Porto, mas a todos os promotores com quem tivemos a oportunidade de conversar, foi a sua capacidade de transformar simples apresentações em aulas vivas, onde a troca de informação se assumiu apaixonante.

Outro objectivo do programa foi a sensibilização dos alunos para os desafios que as “start-ups” portuguesas de base tecnológica enfrentam nos nossos dias, conhecendo de perto e conversando directamente com os empreendedores de três empresas incubadas na UPTEC – Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto – como a BLB Engenharia, Ideia.M e Practical Way, e ainda, a “start-up” D’Oliveira&Saavedra | A Marca Portuguesa de Pianos, onde aprenderam que muitas vezes as empresas têm de mudar de estratégia para “conquistar” o seu lugar no mercado.

O gosto pelo conhecimento científico e pelo empreendedorismo tecnológico foi encorajado nos alunos através do contacto com casos reais, da aprendizagem recorrendo a ferramentas e metodologias criativas e, por fim, da assimilação de conceitos ligados ao tema “inovação”  com a elaboração do mini-plano de negócios – projecto final de estágio.

A criação do mini-plano de negócios fez com que os alunos passassem por várias fases  projectuais, integrando as valências de cada um e as diversas competências da própria equipa. Estes "jovens cientistas empreendedores” conseguiram ainda enriquecer todas as actividades realizadas e, de forma muitíssimo bem-humorada, aqueceram o já tão “abafado” ambiente da nossa magnífica sala, onde o “céu” já não era limite [e tantas vezes solicitamos “free pass” para aquele 7º andar sem nunca passarmos do 4º piso (...)].

Assim sendo, devo, mais uma vez, felicitar os alunos José Sarilho, Mariana Ferreira e Raquel Leal por surpreenderem com o elevado nível de motivação, capacidade de trabalho e concretização das ideias, pela compreensão do potencial existente no trabalho colaborativo, onde a troca de sinergias entre indivíduos com conhecimentos distintos são “chave de sucesso”, estando de parabéns pelo projecto “Techonan” desenvolvido no curto espaço de tempo que lhes foi disponibilizado ( ver “diário de bordo” em: http://ciencia-viva.inescporto.pt).

E, como salientaram a Andreia Cardoso e o Daniel Delgado (UITT), no último dia após apresentação do projecto, os “meus” miúdos convenceram-nos, e a eles próprios, do potencial da tecnologia investigada. Estávamos todos de parabéns por mais uma bem sucedida sessão dos estágios Ciência Viva.

Concluindo, o programa de estágio científico organizado pelo INESC Porto assumiu-se como uma ferramenta capaz de fomentar o intercâmbio e a interacção entre os jovens estudantes, tomando a ciência e a tecnologia como bases de aproximação e de diálogo.

Despedimo-nos de todos, circulando lentamente com um “pavonear insuflado” de satisfação.

*Monitora do Estágio "Ocupação Científica nas Férias"