A VÁLVULA
Será preciso gritar que "O Rei vai sem epiderme?"
É que "o Rei vai nu", já parece que não surte efeito. O rei é, neste caso, o QREN e as vestes diáfanas que o cobrem são as regras que o conformam – o verdadeiro e insano delírio administrativo em que se transformou aquilo que podia ser simples e bom para o país.
O QREN podia ser uma forma de injeção de dinheiro na economia, dinheiro comunitário, já se vê, agora que o dinheiro do Orçamento do Estado é contado à migalha e a Banca se torce de carência.
Em vez disso, na forma em que está concebido e é gerido, o QREN exige ainda mais endividamento das empresas e instituições.
Para executar os projetos financiados (parcialmente) pelo QREN, é preciso gastar primeiro e só mais tarde se recebe. É esta a lógica.
Para fazer pedidos de pagamento, o processo é tão desnecessariamente complexo que as empresas têm que contratar pessoal adicional só para essa função. É este o absurdo.
O verdadeiro e insano delírio está num modelo concebido para justificar a existência de consultores e verificadores e revisores e amanuenses e mangas de alpaca, mas que ignorou totalmente a realidade da vida e do país – e dos objetivos de um Programa de estímulo. Aliás, ignorou toda a realidade pois deve ser caso único na Europa: em que a burocracia dos projetos nacionais é gigantescamente maior do que a dos projetos europeus.
Este editorial não constitui um libelo completo nem um relatório. O Editorial é, por vezes, a válvula por onde tem que escapar o vapor.
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