Fora de Série
Este espaço destina-se a prestar homenagem a um colaborador que mensalmente se distinga com especial relevo na sua atividade. A escolha final é da responsabilidade da Redação do BIP mas a colaboração das Coordenações de todas as Unidades é preciosa pois as sugestões e motivações são fundamentalmente da sua responsabilidade...
Cláudia Ferreirinha
1. O “Prémio Estímulo à Investigação da Fundação Calouste Gulbenkian” já lhe valeu a distinção da rubrica “Pessoas” no portal noticias.up.pt. Agora é eleita “Fora de Série” do INESC TEC. Esperava que o Prémio da Gulbenkian lhe trouxesse este tipo de reconhecimento?
Sinceramente, não. Mas fico muito feliz com ambos os reconhecimentos.
2. Como surgiu a oportunidade de colaborar no INESC TEC/UOSE (Unidade de Optoeletrónica e Sistemas Eletrónicos)?
Através de uma unidade curricular do Mestrado Integrado em Bioengenharia, chamada Projeto de Bioengenharia. Um dos temas propostos era a identificação da bactéria E. coli através de um dispositivo Lab-on-a-chip, a ser desenvolvido em parceria com o INEB (Instituto de Engenharia Biomédica) e o INESC TEC/UOSE.
3. A Claúdia integra o INESC TEC/UOSE há cerca de meio ano. De que forma é que esta experiência está a contribuir para o seu desenvolvimento profissional?
É uma experiência um bocadinho diferente do ambiente puramente académico, apesar de se tratar de um laboratório inserido num campus universitário. O trabalho é muito mais focado na investigação científica do que em qualquer projeto que possa ser desenvolvido ao longo do curso, no âmbito de uma unidade curricular. Assim, permite-me melhorar as minhas competências na área da investigação, aprender novas técnicas laboratoriais e ter uma melhor perceção do que significa uma carreira na área científica a nível de laboratório de investigação.
4.Atualmente está a frequentar o Mestrado Integrado em Bioengenharia (Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto). Quando concluir o Mestrado, os seus planos passam por realizar o doutoramento ou pretende lançar-se diretamente na indústria?
Ainda não tenho os meus planos completamente definidos, mas o doutoramento não me parece muito próximo. Gostaria de fazer uma formação na área da Gestão, que é uma área que sempre me atraiu imenso e, se possível, ir conciliando essa nova vertente com a investigação.
5. A UOSE é a Unidade do INESC TEC com um maior índice de produção científica. Na sua opinião, a que se deve este sucesso científico?
Certamente que tem de estar relacionado com a qualidade da investigação que é produzida. Um outro fator que penso que possa condicionar este resultado é o facto de se tratar de uma Unidade que tem como alicerce a “ciência pura”, não tão diretamente relacionada com a procura típica da Engenharia em solucionar um problema específico. Aqui, na minha opinião, é feita investigação como via de obtenção de conhecimento, e não tão diretamente de obtenção de resultados.
6. Como surgiu a sua candidatura ao programa de Estímulo à Investigação da Fundação Calouste Gulbenkian?
Se não estou em erro, tivemos conhecimento do programa através da Internet. E como uma das categorias era Química, nomeadamente no que diz respeito à qualidade da água, achamos que este projeto se poderia enquadrar perfeitamente no pretendido.
7. Como é que soube que tinha sido um dos vencedores daquele Prémio da Gulbenkian? Contava ser um dos contemplados?
Através de um contacto telefónico por parte da Fundação Calouste Gulbenkian. Foi, na verdade, uma chamada engraçada porque quando atendi estava a contar que fosse outra entidade, também de Lisboa, da qual aguardava uma chamada. Fui mesmo apanhada desprevenida. E como não contava ser uma das contempladas… foi uma boa surpresa!
8. A Cláudia desenvolveu uma aproximação altamente inovadora para a deteção da bactéria Escherichia coli. Há alguma área de investigação em particular que gostaria de explorar em projetos futuros?
Há áreas que me interessam mais do que outras à partida, mas ainda não tenho nada muito definido. Consoante as oportunidades que forem surgindo eu vou definindo o meu rumo. Gosto de desafios…
9. Paralelamente à investigação, os seus interesses passam pelo Violoncelo (estudou Violoncelo no Conservatório de Música), pelas línguas (estudou alemão no Goethe Institut Porto) e pela formação profissional (possui o CAP de formadora). É ainda membro do grupo do Porto da Associação Estudantil “Board of European Students of Technology. De que forma é que esta diversidade de atividades enriquece o seu trabalho como investigadora?
Estas atividades já são parte de mim… como eu costumo dizer, são este tipo de coisas que me permitem desempenhar um bom trabalho a nível académico porque “mantêm a minha sanidade mental”. Eu não me dou muito bem com a monotonia, de maneira que estas atividades permitem-me quebrar a rotina, ao mesmo tempo que me possibilitam trabalhar e desenvolver as minhas competências pessoais e interpessoais. E cada uma delas deixou uma marca na minha maneira de ser, na minha maneira de encarar desafios, no meu comportamento, nas minhas capacidades cognitivas… tudo isto é trabalhado fora do mundo académico/profissional, acabando por se refletir também nessa vertente.
10. Terminaremos este questionário, pedindo que comente a sua nomeação, a qual foi feita pela coordenação da UOSE.
A deteção de bactérias é um procedimento complicado e demorado e os métodos usuais como PCR (Polymerase Chain Reaction) ou cultivo de bactérias são bastante caros. A Cláudia tem tentado uma aproximação totalmente radical que consiste em determinar a presença de um determinado metabolito, único para cada bactéria, de forma a ter uma caracterização específica e em tempos relativamente curtos. Nesta linha, o seu trabalho foi direcionado na determinação de uma enzima específica de Escherichia coli mediante uma reação fluorescente e a interação da bactéria com nanoporos e a consequente “pegada“ única observada no espectro de intensidade elétrica. A proposta de este trabalho mereceu a atribuição do prémio Gulbenkian de incentivo a investigação para jovens talentos.
Gostaria de agradecer a todos aqueles que estiveram, até à data, envolvidos neste projeto e aos professores por toda a orientação, que tem sido preciosa ao longo destes tempos. E, obviamente, à Fundação Calouste Gulbenkian e ao INESC TEC, por todo o incentivo. É, para mim, um privilégio ter sido distinguida no âmbito deste programa!