Alargar o debate cívico
O progresso de Portugal, em ciência e tecnologia, nas últimas duas décadas, é impressionante. As razões desta evolução vitoriosa foram já muito dissecadas, mas é bom recordar o papel essencial, introduzido por Mariano Gago, de uma cultura de avaliação e exigência.
As universidades e os centros de investigação constroem conhecimento e formam pessoas, mas só poderão fazer mais se a matéria prima que lhes chega vier bem preparada. Por isso, a visão estratégica da ciência em Portugal tem que abranger a formação anterior – tem que contribuir para a qualificar.
Assim, é nosso dever cívico olhar para o ensino secundário e, antes disso, o básico. E básico, básico, para quem tem a engenharia como foco, é a matemática.
É, pois, preocupante observar o faz-desfaz-faz-desfaz que periodicamente ocorre na definição de programas e metas, num oscilar de pêndulo exasperante. Portugal é um país de formação de engenheiros (só atrás da Alemanha, na EU, segundo as estatísticas oficiais) – então, porque é que não se pergunta às escolas de engenharia, e aos centros de investigação em engenharia, o que pensam do assunto?
A cultura de avaliação tem a virtude de emitir os sinais de comportamento corretos de que, sem esforço, não é devido benefício - nullum praemium sine labore. O benefício não é um direito, é uma conquista, é um reconhecimento, é um merecimento. Obriga a combate, que conduz à superação – e foi isso que aconteceu ao sistema científico nacional.
Que está a acontecer no ensino básico e secundário? Os sinais comportamentais estão corretos? Ou, pelo contrário, na busca de um certo tipo de êxito, estimula-se o ensino a não ser exigente?
Importa que os atores da universidade e da ciência participem neste debate.
Uma política humana tem que servir os cidadãos todos. Mas a necessidade de inclusão e sucesso escolar não pode ser face oposta de um imperativo de exigência e avaliação. É preciso, incontornavelmente, imaginação para conciliar estes objetivos. Os cientistas têm-na, com certeza – perguntem-lhes.