Fora de Série
Este espaço destina-se a prestar homenagem a um colaborador que mensalmente se distinga com especial relevo na sua atividade. A escolha final é da responsabilidade da Redação do BIP mas a colaboração das Coordenações de todas as Unidades é preciosa pois as sugestões e motivações são fundamentalmente da sua responsabilidade...
CARLOS MOREIRA
1. Qual foi o seu primeiro pensamento quando soube que tinha sido eleito “Fora de Série”?
Sinceramente, acho que fiquei sem reação! Quem me conhece sabe que é assim.
2. O Carlos colabora nesta instituição há quase uma década. Como surgiu a sua ligação ao INESC TEC?
A minha ligação ao INESC TEC começou em julho de 2003 (quando o nome do Laboratório Associado ainda era INESC Porto), quando estava a terminar a licenciatura na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).
Nessa altura, tive oportunidade de desenvolver o “Trabalho de fim de Curso” com o Prof. Vladimiro Miranda e com o Prof. Peças Lopes, o que me foi permitindo ter alguns contactos com o INESC Porto, motivando o interesse pela instituição e pelo trabalho que então desenvolvia. Quando concluí a licenciatura estava aberta uma bolsa de investigação de um projeto europeu que teve muito sucesso – o projeto MICROGRIDS – e o Prof. Peças Lopes lançou-me o desafio de concorrer a essa bolsa. Gostei do desafio e concorri a essa bolsa, estabelecendo-se assim a minha primeira ligação à instituição.
3. O que é que motiva um investigador a trabalhar no INESC TEC, mais concretamente na USE (Unidade de Sistemas de Energia)?
Hoje em dia, o INESC TEC é uma referência internacional em diversas áreas de atividade, o que por si só constitui um fator de motivação para fazer parte da instituição. No que diz respeito à realidade que melhor conheço (a realidade da USE), desde cedo tive oportunidade de contactar de perto com dois fatores que dotam esta Unidade de uma cultura muito própria e que entendo ser uma base sólida para o desenvolvimento da atividade de qualquer investigador.
Em primeiro lugar, o ambiente de trabalho que é criado entre toda a equipa - desde os elementos seniores até aos recém-chegados - permite estabelecer um forte sentido de equipa e de ajuda mútua, que por vezes extravasa para o plano pessoal.
Em segundo lugar, a cultura de organização interna no plano da participação e organização de projetos de investigação nacionais e internacionais e no plano das atividades de formação e participação em eventos científicos permite estabelecer um balanço muito saudável entre consultoria e investigação científica de base. Neste segundo ponto, não posso deixar ainda de referir a forte ligação ao setor empresarial, onde se pode verificar um percurso ativo na identificação de soluções para um vasto leque de clientes.
4. A USE já se assumiu como uma referência internacional na área da Energia. Como descreveria o momento atual da Unidade?
A atividade da USE esteve sempre alinhada com os principais desafios que em cada momento se estabeleceram na área dos Sistemas de Energia, o que contribuiu de forma decisiva para que a Unidade se pudesse afirmar como uma referência a nível nacional e internacional.
Atualmente, a USE atravessa um momento muito importante na consolidação da sua atividade em diversos domínios, momento esse que foi antecedido por um período de franco crescimento científico e por uma enorme projeção internacional.
Nos últimos anos, a USE desenvolveu um leque alargado de projetos que permitiram a afirmação da sua capacidade de liderança científica e de inovação em áreas emergentes, que catapultaram a Unidade para esse patamar de reconhecimento. Simultaneamente, a USE tem sido motor de desenvolvimento e de transferência tecnológica para a indústria nacional, sendo de destacar a atividade desenvolvida no setor da energia eólica e das redes elétricas inteligentes.
Esta posição privilegiada, quer a nível científico, quer a nível industrial, é certamente motivo de satisfação e orgulho, mas é também fator de responsabilidade futura em termos da ampliação da capacidade de inovação da Unidade.
5. Quais serão, na sua opinião, os principais desafios para a USE – bem como para a investigação na área dos Sistemas de Energia – nos próximos 10 anos?
A USE tem demonstrado uma enorme capacidade para identificar e estabelecer prioridades estratégicas em diversas áreas dos Sistemas de Energia, o que tem sido fator de sucesso para a sua referenciação nacional e internacional. Assim, enquanto entidade de referência, a USE tem a responsabilidade de contribuir para a definição das grandes linhas orientadoras e de desenvolvimento futuro do seu domínio de atividade.
Certamente que a definição dessas grandes linhas orientadores e a consequente contribuição para a realização das mesmas ocorrerá nas Smart Grids. A próxima década contribuirá certamente para a maturação, desenvolvimento e replicação dos conceitos que têm vindo a ser desenvolvidos no que diz respeito à integração dos veículos elétricos, microgeração, produção dispersa e, mais recentemente, a questão da operação das redes pan-europeias (onde a produção eólica off-shore aparece com carácter de grande relevância).
Um dos desafios da USE na próxima década passa certamente por encontrar o seu espaço de excelência neste domínio, à semelhança do percurso que tem vindo a estabelecer nesta última década.
6. De que forma é que a criação do Laboratório de Mobilidade Elétrica e Microgeração poderá contribuir para que a USE consolide o seu posicionamento de excelência?
A criação do Laboratório de Mobilidade Elétrica e Microgeração é uma realização na qual o Prof. Peças Lopes deixa de forma bem vincada o seu empenho e dedicação (por arrasto, atrevo-me a dizer que contribuíram também para contagiar a USE).
O Laboratório de Mobilidade Elétrica e Microgeração é certamente um dos expoentes, senão o expoente máximo, do papel nacional e internacional que a USE tem vindo a desenvolver no âmbito das Smart Grids. No entanto, esse trabalho nunca foi completo, no sentido em que ficou sempre limitado à conceptualização de soluções e à sua validação mediante a simulação computacional. Obviamente que se trata de um passo fundamental no processo da investigação e desenvolvimento, mas que necessita de uma maior maturação e validação até que essas mesmas soluções sejam adotadas no terreno.
O laboratório é o elemento que faltava à USE para permitir fechar esse ciclo de desenvolvimento. Para todos os efeitos somos engenheiros, pelo que percecionar o funcionamento de determinada solução, ou pelo menos poder demonstrá-la em termos de prova de conceito, é uma mais-valia de valor indiscutível. Esse fator diferenciador - poder testar e poder verificar o funcionamento de determinada solução - contribuirá certamente para a capacidade de afirmação nacional e internacional da USE, o que poderá igualmente fomentar a sua atividade de suporte industrial e de investigação no âmbito da definição e desenvolvimento das Smart Grids.
7. A atividade que o Carlos desenvolve no INESC TEC/USE passa não só pela gestão de projetos de investigação, mas também pela gestão de trabalhos de consultoria com a indústria. Qual destas duas áreas prefere?
Não posso estabelecer claramente uma preferência por um projeto de investigação face a um projeto de consultoria. Em qualquer um dos projetos há desafios e timings, o que os torna igualmente aliciantes.
Se por um lado nos projetos de investigação científica há mais espaço e tempo para a definição de novas soluções e para a criação de novas ideias, os projetos de consultoria permitem concretizar em realizações práticas muito do que foi o pensamento teórico resultante dos ditos projetos de investigação científica. Claro que na parte da consultoria temos sempre de apelar ao bom senso e ao espírito de criatividade para ajudar a solucionar desafios que nos são colocados em intervalos de tempo por vezes muito reduzidos.
No que diz respeito à minha atividade na USE, tenho tido o privilégio de conseguir uma ligação muito estreita entre estes dois mundos que se complementam.
8. De que forma é que o trabalho que desenvolve no INESC TEC/USE enriquece a sua atividade enquanto docente do Ensino Superior?
O trabalho que tenho vindo a desenvolver na USE tem servido a minha atividade docente essencialmente em duas grandes vertentes.
Em primeiro lugar, a atividade de investigação e consultoria é um constante desafio à criatividade e capacidade de organização e estruturação de ideias, o que é uma mais-valia no sentido de se criarem formas alternativas para transmitir o conhecimento aos futuros engenheiros.
Em segundo lugar, o trabalho desenvolvido na USE é sem dúvida fonte de exemplos de aplicação de determinados conceitos que vou transmitindo aos alunos, contribuindo assim para ajudar a criar um maior sentido prático dos mesmos, bem como para a sua melhor compreensão. Além disso, serve igualmente para ir lançando algumas questões práticas que frequentemente servem de fermento para que os estudantes se interessem por determinadas temáticas, e que muitas vezes culminam na realização de dissertações de mestrado.
9. Que conselhos daria a um investigador que acaba de integrar o INESC TEC?
Ingressar numa instituição como o INESC TEC deve ser encarado desde o início como uma oportunidade de crescimento a todos os níveis, que permitirá atingir elevados níveis de valorização.
Para tal, são determinantes fatores como a capacidade de trabalho e de integração em equipas multidisciplinares, bem como a capacidade e disponibilidade para colaborar, aprender e evoluir em equipa.
Obviamente que no campo de ação que cada um deverá ser capaz de conseguir criar, é ainda de se esperar uma boa dose de autonomia e dedicação para a criação de soluções inovadoras, as quais contribuirão de forma decisiva para a valorização do investigador.
10. Terminaremos este breve questionário pedindo que comente a sua nomeação, feita por Manuel Matos, coordenador da USE.
O Carlos Moreira é docente do Ensino Superior e responsável pela área de Smart Grids da USE, sendo também responsável direto por diversos projetos, como o projeto europeu TWENTIES, o projeto REN-FACTS, os estudos para a ENERCON e para a EDP (grupos reversíveis). Além disso, assegura parte da gestão do projeto REIVE.
Em todos estes projetos participa ativamente na produção de resultados e deliverables. No mês de fevereiro, teve uma enorme atividade nestes projetos, mostrando uma grande dedicação e produzindo trabalho de grande qualidade.
É obviamente com muita satisfação que leio as palavras de reconhecimento do Prof. Matos relativamente ao trabalho que tenho vindo a desenvolver.
O reconhecimento do trabalho desenvolvido é o aspeto mais importante desta nomeação, que alio a um forte sentido de responsabilidade futuro para continuar a enfrentar os desafios que me vão sendo colocados.
Não posso deixar de agradecer aos restantes colegas da USE, que contribuíram para o sucesso do trabalho em curso e, consequentemente, para esta nomeação.