O REI VAI NU
Hoje pode afirmar-se, já sem receio do contraditório, que a asfixia da Ciência e Tecnologia prossegue em Portugal na sua marcha de rolo compressor.
Todas as razões invocadas remontam a uma mesma fonte: a teia kafkiana tecida pelo QREN. Escolham a metáfora – o delta do Nilo, os braços de lava de um vulcão, os tentáculos de um polvo: tudo conflui a montante para uma única fonte de absurdo.
Este programa anuncia a abundância mas gera a falência. A anunciada injeção de capital no tecido económico traduz-se, afinal, numa simples frase: injeção de mais dívida. E porquê? Porque as mentes iluminadas que conceberam o programa decidiram aplicar o princípio de “primeiro pagas, depois sofres, no dia de são nunca talvez recebas”.
Para executar QREN, portanto, é preciso dispor de tesouraria. Quanto mais importante for o projeto, mais tesouraria é precisa. Somos todas uns ladrões, parece, e é preciso açoitar estes energúmenos, nada de adiantamentos, portanto.
Tudo indica que a realidade portuguesa é olimpicamente ignorada – a realidade que crise e dívida são sinónimos.
O QREN é duplamente pernicioso à economia portuguesa: porque nesta fase de crise obriga à geração de mais dívida, em vez de injetar dinheiro na economia – e porque gera expectativas irrealizáveis, com a consequente frustração e desvio de energias das ações que poderiam ser mais úteis.
O financiamento da FCT, para fora das regiões de Lisboa e Vale do Tejo, é QREN. Para o INESC TEC e outros Laboratórios Associados, tem o nome poético de PEst (programa estratégico). Resultado? O desastre anunciado.
Têm as instituições de ciência em Portugal a disponibilidade de tesouraria para aguentar “adiantamentos” de milhões do bolso próprio?
Têm os recursos humanos acesso às doses de Prozac, Xanax e similares para enfrentar o delírio burocrático inventado escusadamente pelo QREN?
Quem põe mão nisto? Onde está a força do poder político, para fazer imperar o bom senso nesta máquina desgovernada?
A frustração maior talvez seja a provocada pela cega obstinação em manter o absurdo – a demonstração régia de que os conluios de delirantes burocratas têm mais poder que os políticos que nos governam.
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