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Tecnologia INESC TEC chega ao mar

Operações de busca e salvamento facilitadas com robôs INESC TEC

Imagine que um navio de passageiros encalha ou se afunda em alto mar, mas as condições marítimas e atmosféricas não permitem às equipas de busca e salvamento efetuar as operações de resgate de vítimas em segurança. Uma solução será usar robôs autónomos que podem auxiliar as equipas de resgate em situações de catástrofe. É isso que propõe o projeto ICARUS (Integrated Components for Assisted Rescue and Unmanned Search operations), que conta com a participação do INESC TEC, num consórcio que agrega 24 parceiros europeus. Projeto na área de segurança, o ICARUS conta com a intervenção de duas Unidades INESC TEC e vem mais uma vez pôr à prova as suas competências no domínio da robótica marítima.

Um projeto ambicioso

Arrancou no início do mês de fevereiro o projeto ICARUS (Integrated Components for Assisted Rescue and Unmanned Search operations – Componentes integradas para assistência a operações de busca e salvamento), um trabalho que conta com 24 parceiros europeus. Financiado no âmbito do 7º Programa-Quadro na área da segurança, este projeto tem por objetivo desenvolver ferramentas robóticas que vão auxiliar as equipas de resgate em operações de busca e salvamento. Este trabalho, com duração de quatro anos, aborda duas componentes de segurança – terrestre e marítima –, estando o INESC TEC a liderar os trabalhos relativos à componente marítima, como resultado da sua experiência na robótica aquática, de que os submarinos MARES e TriMARES (vencedor do Prémio Inovação da Exame Informática), ou as embarcações ROAZ ou FAST, são exemplos a destacar.

Destaque1   Aníbal Matos

Para este projeto, orçamentado em 17 milhões de euros, o INESC TEC contribui com o know-how de duas Unidades – a Unidade de Robótica e a Unidade de Sistemas de Informação e de Computação Gráfica (USIG). Enquanto a Unidade de Robótica ficará responsável por criar a toda a tecnologia robótica, a USIG vai colaborar no desenvolvimento do sistema de supervisão e controlo e também no sistema de treino e suporte. Relativamente à supervisão e controlo, serão integrados dados geoespaciais com dados dos sensores dos veículos robóticos numa base de dados espacial, e será criado um interface de alto nível para supervisionar veículos e equipas de busca e salvamento, fornecendo informação relevante sobre todo o cenário de operação e seus intervenientes. Com o sistema de treino e suporte, serão desenvolvidos jogos sérios para que supervisores e operadores possam obter certificação na manipulação do sistema. Este sistema irá ainda auxiliar os supervisores das operações nas tomadas de decisão em situações críticas.

Questionado sobre como surgiu a ideia para este trabalho, Aníbal Matos, investigador da Unidade de Robótica e responsável do INESC TEC neste projeto, afirma que na Unidade de Robótica já tinham identificado esta área de busca e salvamento como uma área de aplicação relevante e estavam a iniciar contactos para perceber como podiam desenvolver tecnologia nesta vertente. Então, refere o investigador, “resolvemos associar-nos a um consórcio europeu que se estava a formar nesta área e que tinha a componente de Terra razoavelmente coberta, mas que não tinha parceiros para a área do Mar. Vimos aí uma oportunidade importante”, esclarece.

Resgates mais seguros para equipas de salvamento

E o que é diferente e inovador no ICARUS? “Vamos tentar fazer com que os robôs que estão a ser desenvolvidos possam ser utilizados em cenários de crise, por exemplo, num cenário de um desastre natural ou não, para ajudar as equipas de busca e salvamento”, explica Aníbal Matos. E exemplifica: “vimos há pouco tempo um acidente com aquele navio de cruzeiro no Mediterrâneo. Aqui, dispor de ferramentas que pudessem proceder a operações de busca e salvamento de noite, um período durante o qual as equipas de intervenção não atuam, poderia ter permitido salvar mais vidas”. Mais ainda, estas ferramentas podem ser usadas em alturas em que as condições do mar e atmosféricas são adversas e a visibilidade é baixa.

Destaque 2   TriMares

As ferramentas permitem, então, operações de resgate mais seguras para as equipas de salvamento, e, “na verdade, esta é uma das partes mais importantes deste trabalho – perceber como as ferramentas robóticas podem integrar estas operações”, esclarece o investigador. No entanto, para Aníbal Matos o equipamento não vem de forma alguma substituir os operacionais de busca e salvamento, mas funcionará antes como um instrumento complementar de auxílio. Ainda assim, pretende-se que estas ferramentas robóticas sejam dotadas de alguma autonomia para que possam assim encontrar sobreviventes de catástrofes, libertando as equipas de salvamento das tarefas mais difíceis e perigosas.

Equipadas com sensores para deteção de humanos e dotadas de capacidade de comunicação com o exterior, estas ferramentas robóticas marítimas vão possuir um elevado grau de autonomia para dar resposta em cenários de catástrofe ou acidente. Uma das ferramentas a ser desenvolvida de raiz será uma balsa de salvamento robotizada. “Estamos neste momento na parte da definição de requisitos e acreditamos que daqui a um ano teremos algo para mostrar”, revela o investigador. Esta balsa será depois complementada por equipamento aéreo.

Um consórcio de excelência

O consórcio do ICARUS é coordenado pela Academia Militar Belga, e, mais diretamente, o INESC TEC está atualmente a colaborar com a Marinha Portuguesa, um dos parceiros do projeto, e ainda com duas entidades sediadas em Itália, sendo uma delas uma empresa que desenvolve ferramentas robóticas, a CALZONI, e a outra o centro de investigação da NATO (NATO Underwater Research Centre – NURC). O INESC TEC ficará ainda responsável pela demonstração em cenário marítimo, que vai ser feita em Portugal.

um   Assinatura Protocolo com Marinha Portuguesa

As mais-valias que se podem tirar de um consórcio desta natureza são claras. Por um lado, este é um consórcio alargado, o que permite ao INESC TEC “contactar com parceiros diferentes e com backgrounds distintos, o que é muito positivo porque podemos trocar experiências com outros investigadores”, adianta o investigador. Por outro lado, “conseguimos de alguma forma mostrar as nossas capacidades e até potenciar outros projetos no futuro”, continua. Quanto à aplicação da tecnologia a ser desenvolvida no âmbito deste consórcio, Aníbal Matos mostra-se confiante “até porque alguns dos parceiros são instituições que acreditam que este projeto vai ter resultados e portanto participam também no sentido de poderem no final transformar os resultados do projeto em valor”, conclui.

No próximo mês de maio, o projeto ICARUS será ainda o ponto central de um workshop organizado pelo INESC TEC, e que se realiza no âmbito do Fórum do Mar (na Exponor, de 10 a 12 de maio), onde o INESC TEC também estará representado. De recordar que este evento decorre um ano depois da assinatura do protocolo com a Marinha Portuguesa com o objetivo de combinar sinergias e promover uma posição de liderança no contexto da economia do Mar.