ELOGIO DO PORTO SEGURO
Quando Cabral arribou a costas americanas, não encontrou melhor topónimo que Porto Seguro para identificar um local como permitindo todas as esperanças. Antes dele, Bartolomeu Dias fora pessimista e vira D. João II corrigir as Tormentas para a Boa dita.
Todos precisamos das duas coisas: porto seguro e esperança. Só assim o cais é início do sonho em vez de depósito da sucata da vontade morta.
As crises são como o tufão impiedoso. Deixam terra em escombros, levantam marés hostis e derrubam molhes, arrasam o porto. O que não fazem é aniquilar a esperança: essa missão corrosiva foi reservada pelos deuses aos homens.
Um porto reconstrói-se. Esse esforço pode até, de repente, resultar benéfico, mobilizador, injetar energia nova. Nada há como construir para empolgar a própria esperança. Mas quando esta é ferida, agravada, mutilada, não há cais que valha, não há veleiro que navegue e o horizonte, que devia libertar, aprisiona, sufoca, estiola e mata.
Pode o contexto gerar perplexidades, angústias, incertezas. Pode uma ação humana resultar em tensões dissociadoras que, se quisermos ser fortes, seremos sempre fortes. Ninguém muda o que somos, se somos o que devemos. O nosso Porto Seguro é a nossa vontade. Se navegar é preciso, ninguém segura quem quer ir, e vai.
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