Asneira Livre
Vamos lá ver o que é uma asneira
Por Edgar Jimenez*
Como muitos outros colegas Inesquianos no passado, recebi o convite do BIP para escrever uma “asneira livre”. Quando uma pessoa leva já algum tempo a escrever só resultados de investigação, o convite parecia um verdadeiro desafio ao propor “um tema livre”. Nos três anos que já passei no INESC TEC só tenho escrito sobre aeroportos e, por acaso, estou a escrever agora num aeroporto, o meu favorito, o do Porto. Mas não vou falar nisso, que é do que sempre me ouvem falar os meus colegas da UESP e não quero chatear mais com o tema.
Não sendo português, a minha primeira tarefa é investigar o que é uma “asneira”... até diria que fiz uma revisão de literatura, mas espero que os editores do BIP não sejam tão estritos nestas matérias. Ainda com muito calão por aprender, normalmente ouço a palavra quando uma mãe diz ao filho “ó miúdo, não digas/faças asneiras”. Assim, com recurso ao dicionário, vejo que o que me pedem para dizer podem ser tolices, disparates ou “más palavras”. Ciente da reputação do INESC TEC como instituição de vanguarda da ciência e a tecnologia, só posso ficar com os disparates.
Fica então a minha proposta disparatada: indexar o BIP numa base de dados de renome. Assim todos os colaboradores poderiam incrementar exponencialmente a nossa produção científica. Afinal já foram debatidos neste espaço grandes enigmas da ciência, como a responsabilidade da “sala de extinção” do piso 1 na evolução das formas de vida na Terra, em especial aquelas que não conseguem publicar muitos artigos.
Fantásticos avanços tecnológicos desenvolvidos localmente também poderiam figurar nesse “BIP Journal of Science and Technology”, como os algoritmos de encriptação do elevador do novo edifício; ou os sensores de presença das luzes, também do novo edifício, que só ligam quando uma pessoa já passou no corredor às escuras (como metáfora para os estudantes de doutoramento que nos lembra que há luz no fundo do túnel, mas só consegues vê-la quando lá estiveres).
Para além dos disparates, também me pediram para falar na minha experiência no INESC TEC. Na verdade, tem sido tão variada e sempre positiva que ultrapassaria o limite de palavras deste espaço (não é fácil esquecer que este não é um artigo peer-reviewed e que não vai passar pelas mãos de um maldito editor). Basta dizer que me sinto muito orgulhoso de fazer parte da equipa, não só da UESP, pois por vezes sento-me também da UITT, e claro, do INESC TEC no seu todo.
No entanto, não podia deixar passar uma experiência mais ou menos frequente, dentro e fora do INESC TEC, que tem a ver com a minha origem: Colômbia (devia ter começado por aí?). Existem sempre há comentários infelizes a que nos vamos habituando, eu e os meus compatriotas, quando estamos no estrangeiro. Por sorte, no Porto sempre me senti muito bem recebido e é uma grata surpresa saber que na cidade há grande estima pelos colombianos (é pena eu não ter bom jeito para o futebol... ainda bem que os meus companheiros da UESP achavam que eu era paraguaio no torneio de futebol e não tinham grandes expectativas).
De resto, deixo-vos o trabalho de perguntar aos meus orientadores se têm gostado daquele produto colombiano tão apetecido pelo mundo fora. Acertaram, estou a falar do café! São eles os únicos afortunados a quem tenho tido a oportunidade de oferecer alguns quilos que vêm sempre na minha mala quando vou à Colômbia. De certeza que acham que é tão bom como o vinho português, que também sempre vai na minha mala de regresso.
Como não podia ser de outra forma, acabo este curto relato no avião (que só por acaso hoje não é low-cost) a pensar... e se o doutoramento não der certo, haverá espaço no BIP para foto-reportagens de viagens? Como nem toda a gente gosta de aeroportos, tiro a máquina e procuro tirar uma boa foto a partir da janela... oops! Fiquei na asa... enfim, vou voltar ao doutoramento.
*Colaborador da Unidade de Engenharia de Sistemas de Produção (UESP)