Fora de Série

Este espaço destina-se a prestar homenagem a um colaborador que mensalmente se distinga com especial relevo na sua atividade. A escolha final é da responsabilidade da Redação do BIP mas a colaboração das Coordenações de todas as Unidades é preciosa pois as sugestões e motivações são fundamentalmente da sua responsabilidade...

RICARDO CAMPOS

1. O doutoramento do Ricardo Campos está a valer-lhe várias distinções, nomeadamente o Fraunhofer Portugal Challenge 2013. Esperava este tipo de impacto?

De todo. Tinha apenas a expetativa de fazer um bom trabalho. Certezas, nenhumas! Podemos controlar grande parte das “variáveis”, porém, determinar à partida o sucesso de uma ideia é claramente um exercício de futurologia. Fundamentalmente, o importante é focarmo-nos no nosso trabalho e termos confiança. Uma coisa acaba por puxar a outra. Inevitavelmente é preciso ter também alguma sorte. Eu tenho tido alguma! Quanto mais trabalho, mais sorte tenho :). Tudo o resto vem naturalmente.

2. Pode explicar sucintamente os resultados do seu trabalho de doutoramento?

O trabalho insere-se na área de investigação da “Pesquisa de Informação Temporal”. Com as aplicações desenvolvidas pretendemos otimizar a pesquisa de informação na Internet, oferecendo uma contextualização temporal aos resultados apresentados. Esta situação é particularmente importante no caso de pesquisas temporais onde os utilizadores tendem a ser subjetivos ao expressar as suas intenções (e.g. “implantação da república” em vez de “implantação da república 1910”), nomeadamente por falta de conhecimento.

As aplicações desenvolvidas pretendem auxiliar o utilizador no processo de pesquisa de informação, procurando oferecer uma contextualização temporal dos resultados devolvidos. Nesse sentido, o sistema é passível de ser aplicado a diferentes realidades e contextos, seja numa perspetiva mais empresarial (e.g., “iPad”), cultural (e.g., “o anjo branco”,  “avatar movie”), política (“margaret thatcher”), musical (“carlos paião”) ou na procura de informação sobre um simples acontecimento (“haiti earthquake”). No fundo procuramos melhorar a qualidade dos resultados devolvidos, tornando o processo de pesquisa user-friendly.

3. Pretende dar continuidade ao trabalho que desenvolveu no âmbito da sua tese de doutoramento?

Sem dúvidas. Temos vindo a trabalhar no sentido de melhorar a aplicação com a integração de novas funcionalidades. O facto de estarmos a competir a uma larga escala com alguns dos melhores investigadores da Google, Yahoo e Bing exige uma atitude de permanente inovação. Trata-se de um desafio extremamente aliciante, que estimula a nossa criatividade e nos mantém focados na descoberta de soluções inovadoras.

4.Qual é a importância de vencer o Fraunhofer Portugal Challenge para alguém que, como o Ricardo, aposta numa carreira de investigador e de docente do Ensino Superior?

A Fraunhofer é atualmente é o maior instituto europeu para a promoção de investigação aplicada. O Fraunhofer Portugal Challenge, promovido pela Fraunhofer AICOS, tem por objetivo premiar a investigação científica de utilidade prática desenvolvida em Universidades Portuguesas. Ter ganho este prémio é, sem dúvida, um passo importante para a minha carreira. Sabíamos que seria difícil ganhar a competição, mesmo depois de termos passado as duas primeiras fases. Qualquer um dos três finalistas podia ter vencido. Foi certamente uma decisão difícil para o júri.

5. Está a trabalhar na sua área de preferência? Qual é a sua formação base ?

Trabalho na área de “Information Retrieval” desde que comecei a fazer investigação. Possuo uma licenciatura em Matemática/Informática e um mestrado em Eng.ª Informática pela Universidade da Beira Interior. Com o doutoramento, recentemente concluído na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, procurei dar seguimento ao trabalho inicialmente desenvolvido na dissertação de mestrado. A especialização no domínio da pesquisa de informação temporal foi de alguma forma influenciada em virtude da minha passagem pela Wedo Consulting, onde tive a oportunidade de participar em projetos de Data Warehouse.

6. O que motiva um investigador com a sua experiência a colaborar no Laboratório de Inteligência Artificial e Apoio à Decisão (LIAAD) do INESC TEC?

Motiva-me o facto de estar inserido num grupo dinâmico, de enorme criatividade. O LIAAD é uma unidade de excelência e uma referência no plano nacional e internacional. Poder fazer parte deste grupo é um privilégio para mim.

7. Considera que a sua atividade de investigação no LIAAD/INESC TEC enriquece a sua atividade como docente do Instituto Politécnico de Tomar?

Sem dúvida. São duas atividades estimulantes e que se complementam entre si. Se, por um lado, a investigação é um desafio extremamente aliciante, por outro lado só me sinto efetivamente completo e realizado se puder exercer as minhas funções de docência. No fundo, o contacto com os alunos é uma questão de equilíbrio emocional e de partilha de conhecimentos entre as duas partes. Conciliar as duas atividades nem sempre é fácil. No entanto, o bom ambiente que se faz sentir no Politécnico de Tomar e as excelentes condições de que disponibilizamos acabam por contribuir para ultrapassar as dificuldades inerentes ao exercício dessas atividades.

8. De que forma é que as competências do LIAAD e do restante Laboratório Associado se podem complementar, no sentido de aumentar a excelência científica de ambas as instituições?

A multidisciplinaridade das diferentes unidades é uma das virtudes do laboratório. Julgo que uma maior partilha e divulgação do que se faz em cada unidade é um passo importante para a criação de novas sinergias. Fundamentalmente, procurar pontos de ligação entre as diferentes unidades, ao nível dos interesses, competências e projetos. Eventos como o LIAAD open day, a realizar brevemente, são uma aposta nesse sentido.

9. Que conselhos daria a um investigador em início de carreira?

Vários (com humor): Fazer backups diários da informação; Ter capacidade para reconhecer que as críticas ajudam a melhorar o nosso trabalho; Assumir que ter um paper rejeitado faz parte do processo de aprendizagem e é o primeiro passo para que ele seja aceite mais tarde; Ter calma, pois fazer investigação pode ser stressante em virtude de nunca estarmos plenamente satisfeitos; Aproveitar a oportunidade para conhecer pessoas interessantes de todo o mundo; Finalmente, nunca esquecer que o doutoramento é um processo em permanente desenvolvimento e apenas o início de uma nova etapa.

10. Terminaremos este breve questionário, pedindo que comente a seguinte citação da coordenação do LIAAD, que a nomeou para esta distinção.

O Ricardo Campos terminou o doutoramento em 2013 na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (área de Ciência de Computadores) e venceu o Fraunhofer Portugal Challenge 2013 na categoria de doutoramento. É membro do LIAAD desde 2009 e Professor Adjunto no Instituto Politécnico de Tomar. O Ricardo é um incansável cientista, conseguindo sempre o difícil equilíbrio entre a fervilhante curiosidade e a produtividade pragmática.

Gostaria de agradecer ao Professor Alípio esta distinção, a qual me deixa bastante orgulhoso e motivado para prosseguir o meu trabalho. Ter tirado o doutoramento na Universidade do Porto e ter integrado o LIAAD foram sem dúvida duas importantes decisões que tomei enquanto investigador.