Fora de Série
A Série dos fora de série
Num universo de mais de 800 colaboradores, são muitos os meses em que há mais de um colaborador com um desempenho “Fora de Série”. Prova disso mesmo é o facto de, em vários meses, recebermos mais do que um nomeado. Isto determinou uma mudança de política editorial: o BIP passou a destacar todos os nomeados em cada mês, sem opção de mérito (porque todos o têm muito!). Adicionalmente, tendo por base critérios de oportunidade noticiosa, é desenvolvida uma entrevista a um dos nomeados.
ESTE MÊS FALAMOS COM Ana rita ribeiro (CAP)
1. A Ana Rita está a tirar o doutoramento na área de micromanipulação de células com pinças óticas. Qual o objetivo da sua investigação e o impacto que terá na ciência e na sociedade?
O trabalho que estou a realizar no âmbito do meu doutoramento está relacionado com a micromanipulação de células utilizando pinças óticas. Para aqueles que desconhecem o tema, este método permite que objetos com dimensões de alguns micrómetros sejam imobilizados e consequentemente manipulados, utilizando apenas um laser altamente focado. Isto acontece sem que haja contacto entre o dispositivo e a célula, sendo esta uma das grandes vantagens desta tecnologia. Normalmente estes sistemas são implementados num microscópio ótico já existente, no entanto, com o trabalho que estou a realizar no meu doutoramento, pretende-se desenvolver uma série de novos dispositivos baseados simplesmente em fibra ótica. Estes dispositivos têm a mesma finalidade, mas são muito menos dispendiosos, e mais fáceis de implementar em outro tipo de plataformas, tais como chips microfluídicos. O desenvolvimento destes dispositivos permite que áreas como a biologia e a medicina disponham de novas ferramentas que lhes possibilitam selecionar e estudar determinadas moléculas ou células, individualmente, e assistir, por exemplo, em processos de diagnóstico de doenças.
2. Além do doutoramento e da investigação, presidiu ao UP SPIE Chapter. Para quem não conhece este Grupo, pode-nos explicar qual o seu papel e descrever a sua experiência enquanto líder?
O UP SPIE Student Chapter é composto por alunos de licenciatura, mestrado e doutoramento, que estão de alguma forma ligados à ótica e à fotónica. Neste sentido, o principal objetivo deste grupo é organizar atividades que permitam a divulgação desta área, alcançando desde o público geral até à comunidade académica. O grupo formou-se em 2012, e eu estive particularmente envolvida durante os anos de 2014 e 2015 onde fui secretária e presidente, respetivamente. Liderar um grupo de pessoas não é tarefa fácil, no entanto quando se está rodeado por uma boa equipa facilita muito as coisas. Em especial, liderar o UP SPIE Chapter permitiu-me poder comunicar com mais pessoas e aumentar a minha rede de contactos, que hoje em dia é tão importante. Proporcionou-me também desenvolver as minhas competências no que diz respeito à organização de eventos, de qual a escola de Verão ASCOS é exemplo. Acho que ter a oportunidade de estar envolvida em grupos deste género, pode sem dúvida fazer a diferença no futuro, e aconselho aqueles que têm dúvidas quanto a isto, a dar um passo em frente e fazer parte deste tipo de organizações que ajudam a promoção da ciência e dos institutos em que trabalhamos.
3. Recentemente recebeu um prémio de melhor apresentação oral numa conferência nos EUA. Como é que foi a experiência de contactar e falar com milhares de participantes?
Em primeiro lugar fiquei muito feliz por conquistar um prémio desta natureza. É gratificante ver o nosso trabalho reconhecido pela comunidade cientifica, em particular pelos especialistas da área em que trabalho. A Photonics West é uma conferência bastante diversificada no que diz respeito às atividades de que dispõe, entre elas temos centenas de palestras, cursos, workshops, uma feira de trabalho, exibição de produtos por partes de empresas em que se contam mais de 1000 stands, entre outras. Dito isto, é fantástico poder contactar com pessoas que provêm de ambientes diferentes, e que trabalham com diferentes objetivos. Destaco, sem dúvida, as discussões que acontecem no final das palestras e a perceção do mundo empresarial, que se obtém ao falar com os vendedores ou ao percorrer a feira de emprego.
4. Que projetos profissionais gostava de concretizar a médio prazo? A docência/carreira académica é um dos objetivos depois de concluído o doutoramento ou gostava de ter uma experiência na indústria?
Esta é uma questão bastante difícil, no entanto, posso dizer que a curto/médio prazo pretendo continuar na investigação. Ter a oportunidade de testar novas ideias, a sensação de descoberta, e de implementação das mesmas, são privilégios que me fazem querer continuar por este caminho. Apesar disso, não ponho fora de questão uma experiência na indústria, tudo depende das oportunidades que surgirem no futuro.
5. Terminaremos este questionário, pedindo que comente a sua nomeação, feita pelos coordenadores do Centro de Fotónica Aplicada (CAP), Paulo Marques e Ireneu Dias.
Ana Rita é aluna de Doutoramento do CAP desde 2013, realizando trabalho na área da micromanipulação de células com pinças óticas.
Ao seu sentido de equipa e espírito mobilizador, traduzidos na presidência do Porto SPIE Chapter e na liderança da equipa que foi fundamental na organização Escola de Verão ASCOS, no verão de 2015, acresce a sua proatividade e iniciativa.
O seu desempenho tem sido movido por uma atitude de entusiasmo, dedicação e autonomia, que se tem traduzido em várias apresentações orais em conferências de referência. Da visibilidade do seu trabalho, numa área nova para o CAP, resultou ainda um convite para um invited paper do conceituado Journal of Ligthwave Technology.
Adicionalmente o prémio de melhor apresentação oral na Photonics West que se realizou em São Francisco no passado mês de fevereiro (uma das maiores conferências mundiais na área da ótica com aprox. 25000 participantes) justifica plenamente a sua nomeação para Fora de Série.
Primeiro quero agradecer ao Prof. Paulo Marques e ao Dr. Ireneu pela nomeação. É com muita felicidade que vejo o esforço dos últimos anos reconhecido. Em segundo lugar quero agradecer aos meus orientadores, ao Prof. Pedro Jorge e ao Prof. Ariel Guerreiro por todo apoio que me têm dado. Quero também agradecer ao Prof. Jaime Viegas do Masdar Institute of Science and Technology, em Abu Dhabi, por me ter proporcionado realizar trabalho no âmbito da fabricação de pinças óticas em fibra, que de outra forma não seria possível. Por último, espero poder continuar com a mesma dedicação e rigor o trabalho que tenho vindo a desenvolver até à data, e poder também apoiar o INESC TEC no que me for possível.