Asneira Livre
Até já
Por Sofia Sá*
Depois de um ano, seis meses e cinco dias está na hora de deixar a sala A 3.7 do edifício sede do INESC TEC. Sem querer ser demasiado lírica, vou falar-vos um bocadinho da minha experiência por cá.
A investigação, a inovação e outros assuntos como estes terminados em “ão” foram-me sempre familiares, mas apenas no sentido lato das palavras. Olhei-os, mas nunca os vi.
Quando vim para o INESC TEC comecei a embrenhar-me neles, nos conceitos, nas palavras. A sensação de “burro a olhar para um palácio” quando escrevi a primeira notícia para o BIP foi enorme (sendo que o palácio era, obviamente, o prémio arrecadado na área do big data). A vontade de fazer bem e melhor e contribuir para a comunicação da instituição era tanta que comecei a perceber rapidamente o que são contadores elétricos inteligentes, o mares e o trimares, o kinect e muito mais. Comecei também a perceber o desafio que é muitas vezes desconstruir o “engenheirês”, aquela gíria da vossa tribo que só vocês entendem.
Depois de alguns meses de trabalho, já estava mais do que ambientada a tudo o que de novo se atravessou à minha frente. Comecei a adorar (bem ao jeito adolescente) aquilo que fazia, as pessoas com quem trabalhava e até a viagem de metro que todos os dias fazia para o escritório. Já dizia o Fernando, “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”. Não querendo comparar a Coca-Cola à “Maior instituição nacional na área da I&D e transferência de tecnologia em engenharia de sistemas e computadores”, forma como apresento, todos os meses, o INESC TEC aos novos colaboradores.
Durante a minha viagem pelo INESC TEC fui dando uma mãozinha a CMU Portugal, que começou assim mesmo no diminutivo e que tem vindo a crescer significativamente. Este projeto, que me levou tantas vezes aos EUA (ainda que apenas através de textos, imagens e gravações áudio) deu mais e um diferente significado aos conceitos que acima referi: investigação e inovação.
Depois da fase de paixão adolescente pelo novo trabalho, veio a fase de rejeição, a fase do “aqui sempre foi assim, mas assim não está bem”. Sou, por defeito, bem-disposta, mas também resmungona e tenho dificuldade em acomodar-me quando acho que não o devo fazer.
Mais do que arrumar nas gavetas do conhecimento material sobre investigação e inovação, guardo nas gavetas do coração tudo o que vivi e todos os que conheci (mesmo os que me deram dores de cabeça). Guardo os amigos que fiz durante esta viagem, os feitios mais fáceis e difíceis com os quais convivi, as situações de maior pressão, as horas extra, as gargalhadas…
Vou para Bruxelas, viver e trabalhar e ser muito portuguesa, como sempre fui de outras vezes em que emigrei. Sim, quero que me chamem emigrante e não expat, como agora se usa, porque me parece demasiado fino para algo que sempre conheci como emigração.
Sim, vou para Bruxelas. Não quero perder o devaneio sonhador que é tão típico do ser português. Foi esta forma de estar tão lusitana que me fez chegar até aqui, que me fez conseguir Bruxelas e uma nova vida, uma nova casa. Quero continuar a acreditar no que é impossível aos olhos dos outros. Quero continuar a comunicar e a explicar a todos os que ainda não perceberam que o que não é comunicado não existe.
Obrigada Sandra. Obrigada Joana. Obrigada Rita. Obrigada Eunice. Obrigada equipa CMU Portugal.
Obrigada, INESC TEC.
Até já, Bruxelas.
*Colaboradora do Serviço de Comunicação (SCOM)