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"Entendo que enquanto não se realizar o matching entre os desejos das entidades privadas e as necessidades particulares das entidades públicas, poderão ser implementados sucessivos programas, uns mais sonantes que outros, que não haverá um avanço significativo nesta matéria". Paulo Diogo Ferreira (SAAF)

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Pensar Sério

A Burocracia e o INESC TEC

Paulo Diogo Ferreira*

Entre as muitas restrições que Portugal enfrenta com vista ao seu desenvolvimento, é sistematicamente inumerado pelos diversos atores na sociedade a importância da redução da carga burocrática a que o Estado sujeita empresas e famílias.

Recorrendo ao dicionário podemos verificar que a burocracia é a ação abusiva da administração, que impede o prosseguimento de uma ação com procedimentos oficiais desnecessários. Portanto, algo que urge combater, porque acontece na realidade quotidiana de todos nós.

De tempos a tempos, todo o país exulta com propostas apresentadas pelos sucessivos Governos, com vista a simplificar procedimentos e ultrapassar este desafio tão proeminente para todos nós. Apesar de ser praticamente consensual o reconhecimento do enorme esforço que tais programas acarretaram, não podemos afirmar convictamente que ocorreram melhorias significativas.

Num mundo em constante mutação, onde a informação circula cada vez com maior fluidez e rapidez, e está a distância, já não de um click, mas do nosso bolso, encontramo-nos cada vez menos predispostos a suportar os tempos de espera e de trabalho inerentes ao processo burocrático. A esse trabalho atribuímos uma utilidade muito reduzida. E se para o indivíduo/famílias este incómodo é significativo, para uma empresa este aspeto revela-se crucial, tendo em conta a necessidade proeminente de se obterem ganhos de produtividade, para responder à nova economia baseada na livre circulação e na sociedade do conhecimento. Traduzindo este parágrafo em poucas palavras, podemos afirmar que «Não há tempo!».

No Serviço de Apoio à Angariação de Financiamentos, unidade que integro no INESC TEC, diariamente somos confrontados com o expoente máximo da burocracia à portuguesa. Uma parte significativa do meu tempo de trabalho é passado a dar resposta a solicitações da administração pública ou a fazer pressão junto da mesma para que possa ser obtida uma resposta em tempo útil, sob pena de vermos um financiamento ser perdido por um pequeno detalhe. Para dar resposta às múltiplas solicitações dos diversos organismos públicos com que lidamos, somos forçados a solicitar recorrentemente informações a outros colaboradores. Facilmente compreendemos a espiral em que se cai, o tempo de trabalho perdido e que poderia ser dedicado a inovar, a abraçar novos projetos que nos tornem mais eficientes e resilientes face a um mercado que evolui a uma velocidade galopante.

Uma outra face desta mesma moeda é a dificuldade de comunicação com os organismos públicos. O famoso Balcão 2020 é o expoente máximo desta questão. Não há um email telefone, gabinete… enfim: um rosto. Quando finalmente temos uma oportunidade de partilhar as nossas dificuldade e lutas diárias, regra geral, somos confrontados com respostas redondas e com pouca abertura para qualquer mudança.

Corrigido este segundo aspeto, estou seriamente convencido que o primeiro melhoraria significativamente. Em suma, entendo que enquanto não se realizar o matching entre os desejos das entidades privadas e as necessidades particulares das entidades públicas, poderão ser implementados sucessivos programas, uns mais sonantes que outros, que não haverá um avanço significativo nesta matéria.

Até lá, aguardemos…mesmo não tendo tempo para tal!

*Colaborador no Serviço de Apoio à Angariação de Financiamentos (SAAF)