O futebol que nos ensina
Em equipa que ganha não se mexe. Eis uma sabedoria futebolística tantas vezes repetida e não menos esquecida: há sempre, tarde ou cedo, um novo treinador que vem e quer desfazer o que está, por inocência, ignorância, estupidez, cegueira ou vicioso excesso de ego, que não aguenta herdar o brilho de outrem. Sem falar da sabotagem.
O que está bem, no país, competiria preservar, potenciar. As energias seriam, então, bem orientadas para resolver o que mal está.
No que está bem, no sistema científico, conviria não tocar. Conviria nem sequer ameaçar. Sabemos como a incerteza é veneno potente, ainda que nada aconteça, pois abre a porta dos fantasmas. Conhecemos como a insegurança afeiçoa estratégias à retração e mata os impulsos de ousadia, que são o que nos pode fazer superar o que somos para cumprir o que sonhamos. As energias seriam, então, canalizadas para consolidar o que faz falta.
Ao que está bem na nossa Universidade, o bom senso convidaria a acarinhar. Os bons exemplos convidariam a estudo e replicação. As energias seriam, então, focadas no robustecimento do que é preciso estruturar. A terra queimada para reconstruir tudo de novo é chão ideológico que deu uvas.
O INESC TEC está bem, muito obrigado. O seu modelo de gestão catalisou-lhe o reconhecido êxito que enriqueceu o país, a Universidade nunca viveu um problema por causa da sua gestão. A sustentabilidade demonstrada em sucessivos 28 anos já tem, parece, significado estatístico. Tudo começa pela exigência de qualidade e pelo reconhecimento do mérito das pessoas: eis o código genético de um modelo provado. E em equipa que ganha não se mexe.
De vez em quando, dá a tentação ao treinador incauto e altera a escala da turma, vem o gestor novo e abala as estruturas sem objetivo consequente. Também no património nacional, aprendizes de feiticeiro por vezes mexem no que está bem e estragam, sem atacarem o que era preciso, que era o que está mal. Na Europa, no país, na universidade, na faculdade, no departamento, no laboratório. Esta é uma verdade cíclica, não é de agora.
Não nos parece haver perigo de sportinguização da ciência, que nos leve para o fundo da tabela depois de andarmos habituados às posições de topo. Mas, em tempos difíceis, por vezes os intuitos mais angelicais têm efeitos diabólicos, o pânico, medo, incerteza, insegurança ou falta de dinheiro fazem recuar a lucidez. Por isso, convém sermos avisados e firmar a mão no leme ou ninguém nos vale: pois o tempo é de delírios e incertezas, ninguém faz por nós o que deixarmos por fazer.
Estamos permanentemente disputando o direito a existir e prognósticos que nos descansem, só no final do jogo.