Pensar Sério
Sol que guia
Por Tiago André Silva*
Como único elemento canino do INESC TEC vou aproveitar esta oportunidade para vos dar a conhecer um pouco da minha vida. O meu nome é Sol, nasci em YorkTown Heights, estado de Nova Iorque, Estados Unidos da América. Eu e os meus irmãos nascemos a 24 de junho de 2013 com um propósito: ser cão-guia. Fui escolhido porque reúno uma série de características: sou calmo, atento, sempre preocupado com o meu dono e com muita vontade de aprender. Mas para chegar aqui, tive muito que trabalhar e assim se conta a minha história.
Quando tinha poucos meses de vida, fui entregue a uma família de acolhimento. A minha responsável chamava-se Audry Mattle, e juntamente com a sua família ensinaram-me a educação básica. A Audry foi ensinada a educar-me os comandos básicos de obediência como “sit”, “hill”, “down” e “out”, entre muitos outros. Com ela brinquei muito, fui ao cinema, fui à a escola e fomos muito felizes. Depois regressei à origem, à escola que me formou, A Guiding Eyes for the Blind onde tive a minha formação profissional. Treinei diariamente com afinco, para que um dia pudesse ser um cão-guia. Em maio de 2015, a escola avisou-me que tinha sido selecionado para a turma desse mês e que, possivelmente, caso encontrasse o parceiro ideal, seria entregue. Foi assim que a minha vida voltou a mudar. O meu dono, que durante esse dia tinha passeado com outros dois cães, chegou até mim. Empenhei-me ao máximo nesse treino para que me escolhessem como seu parceiro. Nunca me poderei esquecer: no final do treino ele abraçou-me e disse ao treinador: “É ele é ele!”. A partir do dia 12 de maio de 2015 nunca mais nos separámos!!
Vamos juntos para todo o lado! Andamos de autocarro, metro, barco, avião, comboio, sempre juntos! Já conseguimos terminar a licenciatura, estamos a terminar o mestrado e até conseguimos estagiar no INESC TEC!
A primeira vez que fizemos o trajeto para o INESC TEC sozinhos, foi num chuvoso sábado em fevereiro de 2016. Chovia muito e só tínhamos treinado uma vez o trajeto, mas como boa equipa que somos, chegámos sãos e salvos. O meu dono dá-me os comandos e eu guio-o e assim conseguimos chegar a todo o lado.
Eu sei que quando estou em trabalho preciso de estar muito concentrado, para que a tarefa seja feita sem incidentes. Vejo muitas vezes a questionarem o meu dono: “Posso fazer-lhe festas? Posso alimentá-lo? Posso falar com ele?”
Na verdade, quando estou com o arnês, estou tão concentrado tão concentrado, que não devem interagir comigo. Quando estou sem arnês, perguntem ao meu dono se me podem fazer festinhas e brincar comigo. Normalmente ele deixa e posso conhecer melhor quem quer interagir comigo. Em circunstância alguma me devem dar comida. Comer algo, sem ser o meu dono a dar-me, é algo muito grave, pois pode-me dar dores de barriga e motivar-me a procurar por comida. Imaginem que vou a guiar o meu dono e vejo comida no meio da rua… pode ser aliciante ir até ela, colocando-nos em perigo!! A comida pode ser muito perigosa, mas podem ter a certeza que ele e a minha dona me alimentam muito bem!!
Agora que terminou um ciclo, posso afirmar que gostei muito de vos conhecer! Para aqueles que tinham fobia a cães e deixaram de ter, para aqueles que me vinham cumprimentar todos os dias, para aqueles que fingiam ter um assunto a tratar na sala do serviço de Contabilidade e Finanças, mas só me iam visitar, a todos muito obrigado por me terem dado a oportunidade de vos conhecer!
E agora? E agora? Irei numa nova viagem, pronto a guiar o meu dono! Irei sempre para onde os meus donos me levarem!
Nota de agradecimento: tudo isto não teria sido possível sem a ajuda da escola de cães-guia de Mortágua (ABAADV). Apoiem!
Sol
*Colaborador no serviço de Contabilidade e Finanças