O síndroma do GAMA
Recolhe-se da Wikipedia que bibliomania é uma desordem obssessiva-compulsiva, que consiste numa recolha e colecionamento de livros a tal nível que pode causar um deterioramento das relações sociais entre a pessoa envolvida e as mais próximas.
Por analogia, poderemos construir o conceito de bibliometromania também como desordem da mesma ordem. Analogamente, será decerto entendível o conceito de avaliometria ou, se preferirem, desempenhometria.
Tudo remete para uma convicção simplista de que existe um meta-observador, de natureza superior, que decantará um ordenamento de mérito do que se pretende avaliar. Essa é uma convicção perigosa, a de que se podem suprimir julgamentos de valor e substituí-los por um algoritmo – a fé de que tudo se resume a indicadores quantitativos que podem ser multiplicados por parâmetros para produzir o resultado avaliativo.
Ah, sim, o problema está em conhecer os parâmetros… se fôssemos deuses, enfim, mas como não somos, martela-se daqui e dali a ver se do modelo sai o que se gostaria que saísse.
Esse resultado, justo e inquestionável, seria o determinável por uma divindade omnisciente que se dedicasse a esse trabalho. Ou seja: para as pessoas que nisso creem, Deus é o Grande e Absoluto Manga de Alpaca. Não precisa de inteligência, precisa de uma calculadora.
O síndroma GAMA atacou universidades, na avaliação de desempenho de docentes, e atacou a ciência, na avaliação de investigadores e unidades de investigação.
Aquilo que seria uma desordem, um comportamento desviante relativamente à experiência humana e ao bom senso, tem-se transformado numa espécie de norma – então, desviantes são os outros. O fascismo desempenhométrico impõe-se como pensamento único.
Ninguém se opõe às medidas e quantificações. O que não queremos, é a trama do GAMA. O que não imaginamos, é avaliar a beleza de um cidadão apenas por lhe medirmos a temperatura.
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