Sem sombra vã e medo ou pejo
A notícia está aí: mais um passo para concretização, em Santa Maria, de um centro com possibilidade de lançamento de pequenos satélites.
A ideia é lúcida: porque na equação pesa, certamente, uma possibilidade de sustentação financeira, pelo menos em custos de operação, com o negócio do lançamento espacial.
Isto significa termos Portugal a entrar no clube dos lançadores, o que não é coisa pouca. E dá gosto assistir, para variar, ao desenvolvimento de uma ideia “grande”. Não há fadiga que sobre, em Portugal, no cultivar de ideias de parva estatura, sempre com o argumento da prudência, do não dar passo maior que a perna, do começar por algo pequenino e nunca ter a audácia de afirmar uma ideia transcendente.
Camões apresentou, na sua filigrana literária, esta questão. Não esqueceu de engrandecer os futuros feitos que virão fazer barões de fortes peitos.
Obviamente, o vate não espreitava o futuro com olho clínico, nem se referia à dimensão da caixa torácica. Falava era de coragem, de audácia, do rasgo sem sombra vã de medo ou pejo.
O INESC TEC não tem um forte envolvimento no aeroespacial, nem a Universidade do Porto cultivou essa tradição, até recentemente – pese embora o potencial de capacidades que pode ser colocado à disposição desse projeto.
Mas, como começa a ser conhecido, o INESC TEC está, sim, fortemente envolvido na exploração de outra fronteira, a do mar profundo. E os dois abismos negros, espaço e oceano, tocam-se nos Açores.
O potencial para transformar esse virtuoso pedaço açoriano de alma nacional, vestígio emerso da nova Lusa Atlântida, num dos mais influentes locais do mundo para a compreensão dos mistérios do universo, é, na expressão anglo-saxónica, mind blowing. Alucinante.
Mas, para isso, é preciso ter mente: sem medo ou pejo, disponível para o sonho e a imaginação.