Galeria do Insólito
De partir o coração...
Há poucos meses revelávamos nesta mesma secção a versatilidade do trabalho do Ireneu Dias, coordenador-adjunto da nossa Unidade de Optoelectrónica e Sistemas Electrónicos (UOSE), um físico que se tornou gestor e que passa a sua vida mergulhado em papéis, a apagar incêndios burocráticos, a ajudar a escrever projectos sem conta e a planear orçamentos. Contávamos ainda que, em tempos de crise, este investigador tornou-se de tal forma polivalente que até retomou os trabalhos de laboratório.
O que não anunciámos, porque não sabíamos, foi que esta personalidade multifacetada do nosso Ireneu começou em tenra idade. Ora vejam a dupla musical que tem vindo a fazer desde 1975 com o irmão Irídio:
O BIP andou a ouvir todos estes preciosos álbuns e, de lágrimas sertanejas nos olhos, elegeu as músicas “Burrinho sagrado”, “Pé de boi mão de vaca”, “Biquinho dela”, “Não dá, não dá” e “Recordação de Boiadeiro” como as que podem mais facilmente partir “corações”. Cuidado meninas!
Mas não pensem que esta dupla está ultrapassada! Confirmem neste vídeo a boa forma dos irmãos (e já agora das acompanhantes). Ah, e querem saber qual deles é o nosso Ireneu? O mais charmoso… naturalmente!
Se ainda assim têm dúvidas sobre o talento deste físico, não percam o seu depoimento sobre a importância do Irídio na sua vida profissional.
EM DISCURSO DIRECTO
BIP - Sobre a dupla Irídio & Irineu, pedimos que nos elucide sobre a importância do Irídio no seu trabalho de investigação.
ID - Vou responder muito sucintamente. O irídio (do latim "iris", íris ou arco-íris) é um elemento químico, símbolo Ir, de número atómico 77 situado no grupo 9 da tabela periódica dos elementos. Trata-se de um metal de transição, duro, frágil, pesado, de cor branco prateado. É empregado em ligas de alta resistência que podem suportar elevadas temperaturas. É um elemento pouco abundante, encontrado na natureza associado ao ósmio e à platina. É um elemento muito resistente à corrosão. À temperatura ambiente, o irídio encontra-se no estado sólido (fonte: Wikipedia).
Como se depreende desta definição, sem o Irídio não teria a alta resistência para resistir (cacofonia pleonástica intencional) à corrosão de outros elementos, FCT (Flúor, Carbono,TElúrio), por exemplo. O seu número atómico, 77, aponta cristãmente para o número de vezes que temos de perdoar aos referidos elementos corrosivos os atrasos, as alterações de datas, o número de vezes que se tem de pedir qualquer alteração de 77 cêntimos no orçamento, …
Sobre o seu símbolo químico, Ir, a gente vai a todas (as calls). Mas nem sempre volta contente.
É mesmo o metal mais resistente à corrosão. Não é atacado por nenhum ácido, nem pela água-régia (é republicano). O seu consumo mundial não ultrapassa as três toneladas. Também é muito raro; há quatro vezes mais ouro e 10 vezes mais platina. Esta raridade é similar ao financiamento para I&D; há pelo menos 10 vezes mais para qualquer estádio de futebol …
Pensa-se aliás que a sua origem é extraterrestre. Uma elevada abundância de Irídio existe no denominado evento KT, marco de tempo entre as eras do cretáceo e do terciário no tempo geológico. De acordo com muitos cientistas, como Luis Alvarez, este irídio é atribuído a um asteróide ou cometa que chocou com a terra. A Optoelectrónica e Fotónica também são coisas do outro mundo para os elementos corrosivos.
Esta teoria Alvarez é agora creditada como a explicação para o desaparecimento dos dinossauros. Com dinossauros à nossa volta não dava jeito nenhum alinhar lasers nem montar beam-splitters em mesas ópticas (mesmo só com os colegas de Geologia ao lado sabe Deus como!). Foi mais ou menos nessa altura, entre o cretáceo e o terciário, que comecei a trabalhar em Optoelectrónica, sou um jovem portanto.
O Irídio é o 2º elemento mais denso, só ultrapassado pelo Ósmio. Só com muito “peso” é que se aguenta as flutuações de humor dos avaliadores de propostas de I&D …
O Irídio não é por isso importante, é fundamental. O seu nome em latim, arco-íris, aponta claramente para a Optoelectrónica. A sua proximidade ao Ósmio e à Platina na natureza só me enche de orgulho pela companhia. Só semelhante a estar numa festa próximo da Lili e de alguma Jardim, (o que é que isto tem a ver com platina?).
Agora a sério.
Estudei Física para ser um cantor sertanejo. Assim que posso vou ao Brasil gravar com o Irídio. O sucesso não se tem feito esperar. Há mais de 7.950 referências no Google a esta dupla. (E agora com este artigo vão no mínimo duplicar…)
Os nossos 16 maiores sucessos são elucidativos do fino recorte literário:
1- Cachorro amigo (jingle para a Sociedade Protectora dos Animais)
2- Meu coração não aguenta ( a favor da Liga Portuguesa de Cardiologia)
3- Por causa de você (não sei quem é mas deve merecer)
4- Bica d´agua (spot para Águas do Douro e Paiva)
5-Laço da saudade (uma homenagem aos lenços de namorados do Minho)
6- Oi viola! (braguesa acho eu)
7- Pé de boi e mão de vaca (manifesto a favor de gastronomia vegetariana)
8 - Vem cá moreninha (esta é apócrifa, a minha mulher não é muito morena)
9- Vitrola da vizinha (a garagem da vizinha é plágio desta)
10 – Gamadão (um jogo de cartas)
11- Menino e a rosa (cruzamento entre o jovem Pinto de Sousa na Grécia antiga e Gilbert Bécaud - L'important c'est la rose)
12 - Mil razões para chorar (a proposta 1 da FCT não aprovada, a proposta 2… , a …., … 999, …)
13- Recordação de boiadeiro (tem Alzheimer)
14- Canto, bebo e choro (2 mentiras e meia numa só)
15- Sangue de Caboclo (metonímia da mestiçagem cultural)
16- Papai e mamãe (não têm culpa eu sei)
Isto muito sucintamente. Ou preferem que desenvolva um pouco?