OUSADIA E PASSOS SEGUROS
A centralidade da busca de novas fontes de riqueza permitiu, nas décadas recentes, a compreensão de dois fenómenos cruciais para o desenvolvimento dos povos, no paradigma moderno do acesso aos bens materiais, conforto e qualidade de vida.
São eles o insubstituível valor do conhecimento científico e o incontornável motor da transferência do mesmo para a economia.
O primeiro era já endeusado: a Ciência – o acesso, sujeito a segredo iniciático, propriedade de elites. Porém, a consciência da necessidade da sua apropriação popular e generalizada é conceito recente, historicamente. Esta visão foi batizada de transferência de tecnologia, talvez para não parecer exatamente a mesma coisa, talvez porque fosse importante ter um nome, os nomes fazem as coisas existir.
Mas ciência e transferência são dois tijolos do mesmo muro, dois pilares do mesmo arco, dois segmentos do mesmo processo, dois degraus da mesma escada rolante.
A iniciativa de promover CoLabs (Laboratórios Colaborativos) terá como alvo reforçar o pilar mais débil, no pressuposto, que nos parece exato, de que a academia portuguesa ainda tem dificuldades em verter nas empresas a sua já excelente produção de conhecimento. E, nisso, só pode merecer o nosso apoio.
A academia não é toda igual, porém. O INESC TEC há décadas que cultiva uma visão e um modelo integrado, produz um assinalável impacto no desenvolvimento de variados setores económicos e, justamente, é hoje referido como um possível exemplo de coisa bem feita.
Se os exemplos não são para se copiar, serão certamente para se aprender com eles. Ora uma das lições que a vida do INESC TEC nos pode ministrar é a de que as coisas se devem fazer gradualmente, de forma consolidada, e medindo os riscos – sem, todavia, qualquer renúncia a visões audazes e ambiciosas.
É que, neste fenómeno da transferência, também se exige uma densa aprendizagem pelos agentes da academia, que se desenvolveram num outro contexto, com outras padrões – um dos quais, viciante, é o do pensamento como organismo público e da ânsia de financiamento. Ora os CoLabs, se bem interpretamos, são para ser outra coisa: risco, à moda empresarial.
Por isso, o INESC TEC acompanha com muito interesse a iniciativa, apoia a motivação e participará com certeza em todas as apostas em que a solidez do projeto, o estudo do mercado, o plano de negócio, a avaliação do risco sugerirem que vale a pena – e, como é seu timbre, não se refugiará em tibiezas.
Mas não menosprezemos a necessidade do tempo para respirar e dar lugar às aprendizagens necessárias – ainda que, se nada se fizer, também é verdade que ninguém aprenderá.