OS MARCIANOS
Porque esta edição é dedicada ao marco simbólico da passagem da 3ª década do INESC no Porto, hoje na forma do INESC TEC, ficou inevitável que este Editorial prestasse uma homenagem a dois visionários e inspiradores do conceito original: José Tribolet e João Lourenço Fernandes.
Gostamos, cá no Porto, de contar a história assim: havia em Lisboa uma chafarica regional alfacinha chamada INESC, desde 1980 funcionando num apartamentozeco e em 1985, a aliança com a Universidade do Porto permitiu transformá-la numa instituição nacional… Picardias que são afagos de amigos que se querem bem.
Por mais que se queira condimentar esta narrativa, falta mencionar o principal: é que a ideia luminosa, genial, de uma forma diferente de gerir a ciência e a tecnologia e de dar relevância social à engenharia académica portuguesa nasceu com aqueles dois homens. E foi o poder de Midas dessa ideia que nos fascinou, no Porto, e nos conquistou.
Reconheçamos: mais do que a ideia, houve também o génio, o impulso transformador e a lição magistral de como gerir o sonho: sempre colocando objetivos claros mas ambiciosos, que catalisassem um apoio emocional. Nos primeiros 5 anos de INESC nacional, pudemos todos dar um contributo bem desinteressado e de sacrifício pessoal para a iniciativa então designada “Vencer o Adamastor”, como quem diz, vencer o monstro que era o nosso atraso e o gigante que era a Europa a que acabáramos de aceder, ou de abrir as portas.
E vale a pena mencionar outra iniciativa, a que conduziu ao Tagus Parque: quem nega que é um sucesso? Por via do INESC, também a Universidade do Porto se pode rever nele.
Foi assim, singelamente: José Tribolet e João Lourenço Fernandes, um vindo dos Estados Unidos e outro de Inglaterra, aterrados em Lisboa como dois marcianos, concebem o quê?, algo extraterrestre, lançam a semente à terra e depois cultivam-na, regam-na, podam-na e permitem-nos hoje colher os saborosos frutos.
O INESC TEC é um ramo dessa árvore. Porventura um dos ramos que mais fiel se foi conservando à ideia-génese original daqueles dois monstros que este Editorial singelamente procura homenagear. O nosso orgulho é transversal ao passado que somos e futuro que construímos.
Honrar a História sempre nos acrescenta.
Créditos foto: Benpreachin