A antiga sabedoria
"Não é da abertura de canais e estradas, do acréscimo das exportações, do fomento da indústria, que depende a felicidade futura do povo: é da educação. Ilustre-se, civilize-se, aprenda a conhecer o que lhe convém, renasça nele a boa moral e a antiga virtude portuguesa, que depois será o próprio povo quem, sem socorro do governo, e até apesar do governo se preciso for, abrirá canais e estradas, melhorará a agricultura, aumentará o comércio, aperfeiçoará a indústria." (in Panorama, 1839)
Alexandre Herculano, cujos restos mortais repousam nos Jerónimos, era lúcido e incisivo: 202 anos após o seu nascimento para as letras, elas aí estão, atuais. Importa refletir. Será que Herculano era contra a riqueza e o desenvolvimento industrial e o acréscimo de exportações? – ah, tema tão atual que se converteu no nosso D. Sebastião da crise…
Herculano, pelo contrário, era a favor. Tão a favor, que o melhor catalisador que ele advogou foi a educação: o próprio povo tomará em mãos a geração de riqueza, se tiver posse da riqueza essencial que é o conhecimento.
Estaremos nós, no INESC TEC, contrariando a doutrina do historiador e escritor? Claramente não: produzimos conhecimento, escolhemos saber o que nos convém, contribuímos para a ilustração dos portugueses – e tomamos em nossas mãos, sem socorro dos governos, quem sabe às vezes apesar dos governos quando preciso é, porque não é fácil ser-se assim e periférico, aperfeiçoar a indústria, acrescentar as exportações, abrir mais fácil caminho à felicidade futura do povo.
Conforta verificar, confrontados com o pensamento de Herculano, que sempre Portugal gerou homens e mulheres extraordinários de lucidez e raiva serena que viram mais longe e nos servem em permanência de farol e inspiração. Venha a crise: nós podemos e seremos.
P.S.
Quosque tandem abutere, QREN, patientia nostra?
Delenda est buroQREN.
[Qvosque tandem abvtere, Catilina, patientia nostra? (Cícero, Oração I contra Catilina: Até quando abusarás, Catilina, da nossa paciência?)
Delenda est Cartagho (Catão o Velho, no fim de cada discurso: Cartago deve ser destruída)]
Foto: Trinity College Library, Dublin