A ATLÂNTIDA DENTRO DE NÓS
O Comissário Carlos Moedas proferiu um discurso muito interessante e marcante, durante a Semana da Ciência 2017 em Lisboa. Foi daqueles discursos que nos iluminam, que faz bem escutar de tempo a tempo.
Realça-se o que foi dito sobre a necessidade de incorporar no desenvolvimento comum da atividade da ciência o sentido de missão. Pois Portugal precisa disso para se livrar de uma orfandade de objetivos.
É a aceitação social de um desígnio superior que mobiliza os desejos e vontades, e legitima os poderes democráticos a definir prioridades e canalizar meios. Aqui sugerimos um desses desígnios: apropriar-nos devidamente da nossa Atlântida.
Kennedy definiu a Lua como objetivo, e a mobilização social (industrial, científica, política) foi impressionante – determinante do sucesso. A nossa Atlântica é um objetivo ainda mais ambicioso, ainda mais de longo prazo e mais amplitude que o satélite da Terra: é a Terra mesmo.
A nossa Atlântida são quatro milhões de quilómetros quadrados – a Amazónia Azul dos brasileiros também. Em terra tão diferentes, no mar tão semelhantes. E se o Brasil chamou, à sua nova província submersa, Amazónia Azul, temos o direito inapelável de batizar a nossa de Atlântida. Atlântida, o nome é milenar - mas nossa, será só o quisemos e fizermos por isso.
Com a Atlântida lusitana e a Amazónia Azul brasileira, este oceano, norte e sul, fala cada vez mais português. Será, então, astuto ter uma aliança: um entendimento que aproveite os recursos, a inteligência, as capacidades complementares comuns para a apropriação e exploração dessa riqueza submersa. Da geoestratégia ao bom senso comum, tudo o aconselha.
O Ministro Gilberto Kassab, da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações do Brasil visitou o INESC TEC em julho e escutou de nós este desejo. Se Fernando Pessoa lamentou, de Portugal, que
Ninguém sabe que coisa quer,
Ninguém conhece que alma tem,
foi para rematar num apelo dramático: É a hora!, exigindo superação, e a viragem sublime de retomar o destino nas mãos.
O poder político que anuncie o desígnio, e mobilize as gentes. Encontra em nós o coro: é a hora.