A sequência do genoma e a aliança IBMC-INESC Porto LA
Em notícia que poderia ter passado desapercebida, os jornais anunciaram que foi pela primeira vez sequenciado, em Portugal, o genoma da Drosophila Americana. Um êxito científico que não é trivial, ainda que a comunicação social, na sua sede de tornar acessível o discurso para ser entendível pelas massas, acabe por trivializar estes eventos.
Ocorre que este êxito assinalável demonstra uma inequívoca capacidade científica residente na Universidade do Porto. O projecto foi liderado pelo geneticista Jorge Vieira e sediado no IBMC, o que muito ilustra o seu protagonista e releva o prestígio daquele instituto, que muito nos orgulha.
Mas talvez não tenha sido sublinhado um aspecto que, todavia, será não menos importante: o trabalho e o seu sucesso foram consequência de uma colaboração interdisciplinar entre dois Laboratórios Associados: o IBMC e o INESC Porto.
Se os Laboratórios Associados são o modelo para um expoente de organização e investigação em Portugal, este exemplo de cooperação transversal conduzindo a um resultado de excelência internacional tem um significado profundo: de que o modelo dos institutos continua a surpreender-nos pelas virtudes que exibe.
A contribuição das ciências da computação para a genética – leia-se no caso vertente o CRACS, grupo autónomo integrado no INESC Porto, e o seu investigador Nuno Fonseca – não pode ser ignorada ou menorizada. Que o IBMC, em vez de ter tentado ter dentro de portas um simulacro de computação, tenha buscado uma aliança com um outro centro de competência, só demonstra a que ponto está chegando a maturidade da ciência portuguesa e a compreensão dos seus agentes sobre o verdadeiro caminho do progresso.
A aliança de competências é a nossa força. Competências, sempre as tivemos, ora mais ora menos. A capacidade de construir pontes entre áreas distintas é que, lamentavelmente, ainda está muitas vezes ausente.
Que o exemplo frutifique (mesmo que sem mosca da fruta).