Pensar Sério
“Mas que raio estás tu a fazer com robots?”
Por Ana Paula Lima*
Desde que entrei no INESC TEC tenho de responder a esta pergunta quase semanalmente e só me consigo lembrar daqueles memes que convertem em imagens a ideia que nós e os outros têm da nossa atividade académica ou profissional.
A verdade é que já estou habituada a povoar ambientes supostamente inóspitos para uma bióloga marinha.
Com a cabeça formatada desde a infância por documentários sobre o mundo subaquático, livros como “Vinte mil léguas submarinas”, o filme “A pequena sereia” e uma profunda admiração pelo Jacques-Yves Cousteau lá segui eu rumo a terras algarvias para ingressar na licenciatura em Biologia Marinha e Pescas.
O passar dos meses foi diluindo a imagem romantizada do que seria o meu futuro como bióloga marinha, promovendo aos poucos a escolha do ramo mais comercial do curso: Aquacultura.
As saudades pelos ares do Norte fizeram-me procurar um estágio no Porto. Após colocar todas as hipóteses em cima da mesa, optei pelo ICBAS (Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar). O laboratório de Fisiologia Aplicada foi a minha segunda casa durante oito anos e o mexilhão de água doce Anodonta cygnea o meu “BFF” (Best Friends Forever).
Estágio, Mestrado e Doutoramento. E agora? Com o desejo de fazer uma investigação mais aplicada iniciei o meu percurso de cinco anos no Instituto de Engenharia Biomédica (i3S). Primeiro dia, 10 da manhã, quarta-feira 1 de abril, após a reunião semanal tive de me apresentar a cerca de 80 dos meus colegas “engenheiros” e estes devem ter pensado que era brincadeira do dia das mentiras. “Que faz esta bióloga marinha a trabalhar em Eng. dos Materiais?” O que fiz foi trabalhar arduamente num projeto super aliciante que para mim, leiga em biomateriais, pareceu-me muito “Science Fiction”. Consistia em criar matrizes inteligentes inspiradas nos tecidos dos ouriços marinhos. Seguiu-se um projeto com revestimentos anti-inflamatórios para stentes que me afastou da biotecnologia marinha.
No início de 2017, a oportunidade aliada ao constante apelo pelo mar trouxe-me até ao INESC TEC mais precisamente ao CRAS (Centro de Robótica e Sistemas Autónomos) para gerir o projeto StrongMar bem como outros projetos na área do mar. Mais uma vez: “I’m an alien, I’m a legal alien, I’m an Englishman in New York”. Não bastava ser mulher e ainda por cima bióloga marinha. Mas deixem-me que vos diga fui muito bem-recebida e rapidamente vesti a camisola robótica. Mais uma vez me vou adaptando a um ambiente novo, a interiorizar conceitos e a olhar fascinada para os “brinquedos” que aqui se constroem. Assim vou evoluindo fazendo jus à fama de versatilidade dos geminianos.
Querem saber histórias engraçadas e as ditas “cusquices” que se passam neste pavilhão à entrada do ISEP? Lamento, mas não será por mim, até porque o ambiente que aqui se vive não dá para explicar. Direi apenas que quem abrir a porta do laboratório do CRAS no ISEP encontra uma amálgama de atuadores, sensores e algoritmos complexos que prospera em meios imprevisíveis, até mesmo caóticos. Mais precisamente: um sistema autónomo!!!
*Colaboradora no Centro de Robótica e Sistemas Autónomos (CRAS)