Pensar Sério
Ontem e Hoje
por João Ferreira*
Convidado para escrever pela segunda vez para o BIP do INESC TEC hesitei, ponderei muito e finalmente achei que podia aceder. Os que me conhecem sabem que eu sou de poucas palavras, mas afinal 2 vezes em cerca de 30 anos talvez não seja excessivo.
Tinha eu por hábito afirmar: “Não gosto de falar (ou escrever, para o caso tanto dá) sem ter nada para dizer”. Achava que era uma característica distintiva que me enaltecia, mas concluí que nada ter para dizer é apenas demonstração de ignorância. Deixei portanto de usar essa frase feita e passei a não dizer absolutamente nada.
Foi no meio deste silêncio ensurdecedor, sim porque o silêncio está cheio de ruído, tal como o vazio está cheio de matéria e anti-matéria que se aniquila e cria constantemente, segundo algumas teorias do campo. Dizia eu que foi no meio desse silêncio que a Catarina (do SCOM - Serviço de Comunicação) me apanhou desprevenido, vai daí não pude recusar.
Nasci no tempo da ditadura, deram-me o nome de João e sou conhecido pelo das Barbas ou como Pai Natal. Tirei uma licenciatura em Física e permito-me responder a quem pergunta a profissão que sou Físico, o que é um abuso na verdade, mas em compensação asseguro-vos que não fiz uma única cadeira por equivalência.
Tive eu a dita de coincidir a conclusão da minha licenciatura com a criação do INESC no Porto e ter sido convidado por um dos fundadores, António Pereira Leite, então meu professor e mais tarde um amigo, a quem muito prezo. Esta que é hoje uma grande Instituição, não poderia existir sem o suor dos pioneiros. Foram eles, além do Pereira Leite, o Artur Pimenta Alves, o José Manuel Salcedo, o Manuel de Barros, o Joaquim Borges Gouveia, o Mário Jorge Leitão e perdoem-me se esqueci alguém dessa época distante. Tinham na retaguarda a direção do INESC, nomeadamente o José Manuel Tribolet e o João Lourenço Fernandes, sediados em Lisboa.
Alguns desses pioneiros ficaram até ao tempo presente outros retiraram-se mais cedo; alguns têm sido amiúde lembrados outros ficaram mais esquecidos; mas sempre houve continuadores à altura, quer na Direção, o Pedro Guedes de Oliveira e o José Manuel Mendonça, quer orientando as distintas áreas de trabalho, as iniciais e as que foram surgindo com a transformação ao longo dos anos e aqui destaco apenas um nome por ser talvez o menos conhecido das novas gerações: o Prof. Ruela teve um papel discreto mas da maior importância no crescimento do grupo de redes, hoje inevitavelmente sub-dividido mercê da evolução tecnológica e da grande dimensão adquirida.
A tecnologia de comunicações óticas (nível físico) em fibra ou wireless era a competência primária do grupo de Optoelectrónica (atual CAP) e está hoje distribuída nas redes, particularmente na área liderada pelo Henrique Salgado. Não posso deixar de referir os nomes de alguns pioneiros dessa época, pois também eles suaram a camisa ou a t-shirt.
Na optoeletrónica, Abel Costa, Henrique Salgado, Teresa Almeida, Jorge Castro, José Luís Santos, Irineu Dias, Paulo Simões Moreira, José Feliz Teixeira, Sérgio Ferraz Santos, Sílvio Abrantes. Nas telecomunicações, vídeo, áudio: António Gaspar, Alberto Maia, Teresa Andrade, Manuela e Nuno, Nuno Almeida, José Manuel Cabral, Joaquim Esteves Neves, Pedro Cardoso, Aníbal João Ferreira, Manuel Ricardo, Isabel Martins, José Carlos Caldeira, José Manuel Moreira, Nelson Freire, Artur Moura, Eurico Inocêncio. Nas redes: Eduardo, Lino Oliveira, Berta Baptista, Carlos Guimarães. No CAD de eletrónica: Alberto Maia e José Carlos Azevedo. Na oficina de eletrónica: Fernandes, Barbosa, Nuno Costa. Na rede informática: Adelino, João Neves. Na biblioteca a Olga.
Espero que me perdoem as telefonistas, deu-me uma branca. Segurança ou porteiro não havia, algumas pessoas tinham a chave e outras que como eu ficavam até tarde, simplesmente batiam a porta ao sair. Na parte administrativa: Regina Freitas, Eunice Ferreira, Cidália Lima, são os que recordo do início, mas há muitos mais e bons elementos… Quase esquecia, mas ainda bem que recordo, havia já nessa época um pequeno grupo que se dedicava a colocar a “tecnologia de ponta” ao serviço da indústria. Dele faziam parte: o Saraiva, o Augusto Victoriano e o Eduardo Silva (esse mesmo o da robótica). Recordo um projeto que fez a felicidade dos responsáveis da Corticeira Amorim, ler as dimensões de uma rolha com uma craveira e recolher essa informação usando uma porta RS232; foi um sucesso.
Propunha-me falar agora sobre a história do CAP (Center for Applied Photonics), que foi GOE (Grupo de Optoeletrónica) na sua origem, a qual coincide com a do próprio INESC Porto. Acontece porém que a minha narrativa estava demasiado longa para o espaço disponível no BIP. Deixo então essa história para uma próxima oportunidade e aproveito esta para felicitar os protagonistas de dois acontecimentos recentes.
Na oportunidade da tomada de posse de uma direção renovada, quero felicitar os mais novos nos cargos e em especial o Manuel Ricardo, que eu vi chegar imberbe, tal como muitos outros recém-licenciados, confiantes nos seus conhecimentos e ignorantes da sua inexperiência, porém cheios de vontade de fazer coisas novas. Desejo-vos as maiores felicidades no desempenho das novas funções e não se esqueçam de ter sempre presentes e transmitir esses valores que caracterizam o nosso INESC TEC, entre-ajuda, partilha de saberes, apoio nas dificuldades. Estas atitudes são especialmente relevantes para uma frutuosa cooperação entre diferentes grupos, a qual é essencial para vencer as barreiras criadas pela especialização.
Felicito também os colegas que tiveram a iniciativa de criar uma comissão de trabalhadores e regozijo-me por esse facto. O INESC TEC é hoje uma instituição muito maior e também muito dispersa geograficamente; além disso as relações laborais são hoje mais complexas. Tais motivos justificam a criação de uma tal comissão. O principal motivo do meu regozijo porém, é que esta iniciativa mostra que os colaboradores do INESC TEC estão vivos, tal como estavam nos anos de 1980-90, quando se reuniam para estudar a possibilidade de criar empresas de base tecnológica. A semente estava lá; só muito mais tarde deu fruto, mas tudo isso fez parte do processo de germinação.
E já agora, trabalhem com prazer e sejam felizes no vosso trabalho, tanto quanto possível. Competir é estimulante, mas ajudar é prazeroso.
Um abraço!
* colaborador do CAP - Centro de Fotónica Aplicada