Fora de Série
A Série dos fora de série
A partir de 2019, o BIP passa a entrevistar todos os colaboradores nomeados “Fora de Série” em cada mês, destacando assim o mérito de todos os que são escolhidos pelas coordenações dos Centros ou responsáveis de Serviço por terem tido um desempenho “Fora de Série” no mês anterior. Parabéns aos nomeados!
À Conversa cOM artur Capela (CSIG), João TeixeIra (CTM) e Sílvia Bessa (CTM)
- Artur Capela, CSIG
Começaste no INESC TEC em 2007, como é que tem sido esse caminho?
Inicialmente não sabia bem o que esperar, em 2007 estava a acabar o curso de Engenharia Informática e Computação na FEUP. Chegada a altura dos estágios e dissertações, os alunos viam as alternativas e o INESC TEC tinha um projeto relacionado com música. Sendo eu músico, saltou-me à vista e assim tive o meu primeiro contacto com o INESC TEC. O projeto era com o Prof. Jaime Cardoso na antiga UTM (agora CTM).
No final de 2009 candidatei-me a uma bolsa de investigação na antiga USIG (agora CSIG), no projeto MOBILES, com o José Correia, a qual me foi atribuída. Desde aí permaneci sempre no CSIG e tenho trabalhado em diversos projetos diferentes, uns mais de investigação, outros de prestação de serviços, sendo alguns de consultoria, com diferentes tipos de clientes, ambientes e complexidades, pelo que os desafios têm sido constantes e crescentes. Com a evolução que fui tendo, mais a experiência e responsabilidade que acumulei, aliados ao trabalho desenvolvido ao longo do tempo, surgiu a hipótese de mudança de vínculo em 2017, passando a contratado I&D.
Como é que descreves o teu trabalho no CSIG/INESC TEC?
Posso resumir como sendo variado, multitarefa, muitas vezes replaneado no próprio dia perante as situações que vão surgindo, e também sempre em mudança e aprendizagem, onde o fator “tempo” é como o vento, raramente está a favor.
O meu trabalho em grande parte é realizado ao nível de desenvolvimento de software (desktop, web, móvel, bases de dados), abrangendo as várias etapas e interação com o cliente, quando se trata de prestação de serviços, ou com os parceiros do projeto. Por outro lado, há bastante trabalho que é realizado ao nível de manutenção de sistemas em ambiente de produção em simultâneo com novos desenvolvimentos. Isto abrange também a gestão de servidores, planeamento, reuniões internas e com os clientes e parceiros, coordenação técnica das equipas e apoio aos elementos das mesmas. Além disso, é necessária a minha participação na elaboração de propostas de prestação de serviços e de candidaturas de novos projetos.
A conjugação de diversos e diferentes projetos, com vários tipos de clientes ou expectativas de resultados, assim como os objetivos a alcançar em cada projeto, intercalados com as restantes tarefas, têm tornado o meu trabalho neste centro e no INESC TEC como um todo, um desafio constante.
Terminaremos este questionário, pedindo que comentes a nomeação, feita pela Coordenação do CSIG:
“Durante o mês de janeiro de 2019, o Artur Capela esteve envolvido em quatro projetos de I&DT - INTEGRID, EYEFRY, ARQNET, IMOPortal -, num contexto que foi bastante complexo. De facto, para além da multiplicidade de projetos, das diferenças tecnológicas e das dificuldades inerentes a cada um deles, que se agravam quando se trata de prestação de serviços foi, também, preciso minimizar o impacto resultante da saída de dois elementos da equipa do CSIG (Marlon Freire, em dezembro, e Samuel Carvalho, em janeiro), que estavam afetos a dois destes projetos. Apesar de todos estes fatores, que se conjugaram de forma particularmente negativa no mês de janeiro, o Artur Capela demonstrou uma grande capacidade de execução dos trabalhos, tendo sido possível cumprir, dentro dos prazos, todos os compromissos que tinham sido previamente acordados com os parceiros (internos e externos) destes quatro projetos de prestação de serviços.”
A minha primeira reação foi de surpresa. Por outro lado, o meu esforço tem sido crescente e por inúmeras vezes tenho “vestido a camisola”, tendo a noção da responsabilidade que tenho nos vários projetos e tarefas que me são atribuídas. Este mês de janeiro foi de facto particularmente complexo, em que apesar dos obstáculos os objetivos têm sido cumpridos graças ao esforço para tal ser possível. É muito bom e animador ver o meu trabalho reconhecido. Contudo, devo mencionar um agradecimento especial à pessoa com quem mais tenho trabalhado ao longo deste tempo, o José Correia, pela confiança crescente que tem depositado em mim e que, por outro lado, tem tido impacto na minha evolução nesta instituição e ao nível das minhas competências.
- João Teixeira e Sílvia Bessa, CTM
Como é que o INESC TEC surgiu no vosso percurso profissional?
[João] Curiosamente, o meu primeiro contacto com o INESC TEC foi através das atividades de celebração dos 30 anos de existência, em que eu e a minha esposa (na altura investigadora no INESC TEC) participámos e arrecadámos o 3º lugar no Desafio Social. Nesta altura embora eu ainda não fizesse oficialmente parte do INESC TEC já tinha iniciado o meu doutoramento e estado em discussões de tema com o meu ex-professor de Mestrado e atual orientador de PhD - Hélder Oliveira. Com ele encontrei um tema de interesse e a flexibilidade para o executar da forma que pretendia. O tema enquadrou-se numa linha de investigação do Grupo de Investigação em Cancro da Mama. Este, posteriormente, deu azo ao desenvolvimento dessa linha em projeto Nacional (Norte2020-BCCT.Plan). No ano 2018 vi ao meu projeto de tese ser atribuído bolsa de doutoramento FCT e encontro-me atualmente a dar seguimento ao mesmo.
[Sílvia] O surgimento do INESC TEC na minha vida profissional está diretamente relacionado com ter conhecido o Hélder Oliveira numa conferência científica (IbPRIA 2013), ainda em diferentes instituições de investigação na altura. Após a conferência, o Hélder falou-me de uma posição de investigação em cancro da mama que seria aberta no seu grupo de investigação (VCMI). Eu concorri, fui selecionada e desenvolvi o meu trabalho sob a supervisão do Jaime Cardoso, na FEUP. Apesar de não estar oficialmente no INESC TEC, isso permitiu-me conhecer melhor o grupo de investigação e as suas contribuições científicas. Findo o projeto, o Hélder convidou-me a fazer a dissertação de mestrado sob a sua supervisão. Verificámos que a nossa dinâmica, respeito mútuo e interesses científicos eram propícios a continuar esta relação profissional. Juntos definimos uma área de interesse para perseguir um doutoramento e submeti a minha candidatura à FCT, contando também com o Jaime como coorientador. Entretanto, o projeto BCCT.plan foi aceite, comecei a colaborar no mesmo, a candidatura à bolsa FCT foi aprovada e atualmente estou a desenvolver o meu plano de trabalhos de doutoramento.
Um aspeto da vossa nomeação diz respeito aos Seed Projets. Como é que surgiu essa ideia e em que é que consiste?
A colaboração entre estudantes sob a orientação do Hélder Oliveira sempre foi incentivada pelo mesmo. Nós temos colaborado mais de perto, dada a proximidade das áreas de investigação dos nossos doutoramentos e a colaboração no mesmo projeto (BCCT.plan). É comum discutirmos soluções, resultados e até mesmo novas ideias e tópicos de investigação. Quando surgiu a call para os Seed Project, o João mostrou interesse em submeter uma proposta e reconheceu a oportunidade de concretizar num projeto essas discussões. A partir daí o processo foi extremamente natural e dinâmico, e a escolha de submeter a proposta em conjunto com a Sílvia foi evidente.
O doutoramento do João envolve a segmentação automática de estruturas anatómicas em volumes de Ressonância Magnética Mamária (RMM), e o Registo 3D com outras modalidades radiológicas. O doutoramento da Sílvia aborda também o Registo 3D de dados da mama, embora entre dados de superfície (proveniente de scanners 3D) e volumes radiológicos. A combinação dos objetivos de ambos os doutoramentos fomenta a criação de modelos 3D da mama completos, contendo informação radiológica do interior da mama proveniente de várias modalidades, com dados de superfície. Por sua vez, estes possibilitam a criação de ferramentas de apoio à decisão, que vão desde o diagnóstico, planeamento cirúrgico, à avaliação estética após a cirurgia.
Apesar de ser uma vasta área de investigação, um dos grandes entraves à aplicação de metodologias automáticas de visão por computador e aprendizagem médica em imagiologia médica é a falta de dados representativos da população, respetiva anotação e classificação de estruturas de interesse e a validação objetiva das estratégias propostas. Foi neste âmbito que reconhecemos a possibilidade de aprender representações estatísticas da mama e fazer uso de técnicas de aprendizagem máquina para gerar novos dados. A ideia é gerar dados fisicamente plausíveis e que nos permitam desenvolver e validar os nossos algoritmos com maior facilidade. Desta forma, saberíamos implicitamente quais as estruturas de interesse (o equivalente a termos anotações) e a correspondência entre dados de diferentes modalidades (queremos simular RMM e dados de superfície). Em contrapartida, se verificarmos o sucesso deste projeto, podemos criar um conjunto de dados que permitiriam a comparação direta e justa de diferentes algoritmos, ao usar os mesmos dados para extrair métricas objetivas de desempenho. Adicionalmente, este conjunto poderia ser disponibilizado publicamente e partilhado entre centros, sem necessidades de aprovação por Comissões de Ética ou desrespeito pelas liberdades e condicionantes de proteção de dados, típicas da área.
Outra questão importante do quotidiano do INESC TEC, ou qualquer instituição, é a de incentivar os colaboradores a ficar e de atrair mais pessoas competentes. Neste sentido, o financiamento deste projeto é também uma oportunidade de cativar pessoas capazes e com vontade, através de um outro estímulo, para além da novidade e aplicabilidade do tema.
Terminaremos este questionário, pedindo que comentem a nomeação, feita pela Coordenação do CTM:
“A Coordenação do CTM gostaria de propor para Fora de Série do mês de janeiro os investigadores João Teixeira e Sílvia Bessa. O João e a Sílvia, ambos bolseiros de doutoramento FCT, destacaram-se pelo excelente resultado obtido na 1ª edição dos Seed Projects. O projeto que prepararam e submeteram intitula-se "Learning Representations and Generative Models for 3D Breast Data", sendo um projeto inovador na área do cancro da mama e tendo obtido o primeiro lugar entre os 30 projetos submetidos. Este marco agora atingido vem reforçar a qualidade de ambos como investigadores que, para além das atividades relacionadas com os seus estudos doutorais, participam também ativamente na orientação de estudantes de mestrado e em projetos financiados: o João no projeto BCCT.plan e a Sílvia nos projetos BCCT.plan e S-MODE, aos quais se juntará este novo desafio.”
[João] Quando vim para o INESC TEC, fi-lo com o propósito de aprender mais sobre as áreas que me interessavam e que via como lacunas na minha educação do Mestrado. No INESC TEC, desde cedo fui atraído pelo potencial de cooperação entre membros do mesmo grupo de investigação ou englobando a multidisciplinaridade de vários grupos. O início do meu doutoramento envolveu mais uma perspetiva individual, já que o tema retrata um nicho em imagiologia médica. No entanto, com o crescer do grupo, por via de novos investigadores e estudantes de Mestrado, e os interesses e experiências individuais a cruzarem-se, tornou esta [Seed Projects] a oportunidade ideal para elaborar algo útil e cientificamente proveitoso que pudesse aproveitar as valências de cada um. Com a atribuição desta nomeação vejo reconhecida a validade do nosso conceito e nossa capacidade de levar a bom termo esta nova responsabilidade. Adicionalmente, vejo a possibilidade de dar continuação à hospitalidade com que fui recebido e vejo o continuado interesse em manter o INESC TEC tal como o percecionei há três anos e meio.
[Sílvia] Quando decidi fazer doutoramento, tinha a visão de que gostaria de contribuir para o grupo não só com o trabalho científico relacionado com o meu plano de trabalhos, mas aproveitar esse tempo para crescer como investigadora. Isso incluía colaborar em projetos, participar em discussões científicas com colegas, iniciar-me na orientação de estudantes... Basicamente compreender os processos e dinâmicas necessárias para se criar ciência. É pois com orgulho que recebo esta nomeação. O reconhecimento do nosso trabalho é um incentivo e um reforço de que o nosso esforço e dedicação extras são apreciados, um sinal de que estamos a contribuir positivamente para área.