A Vós a Razão
Portugal: inovador na arte de inovar
Por Paulo Mendes*
A história portuguesa no período dos Descobrimentos revela um empreendorismo científico, criando possivelmente um dos primeiros “think-tank” nacionais, a escola de Sagres, que reuniu peritos de várias nações com um objectivo claro: investigar a expansão por mar. Para além disso, Portugal adjudicou trabalho científico na Europa e criou uma comissão científica para aperfeiçoamento dos instrumentos de medição que se viriam a revelar cruciais nas viagens maritimas. Ou seja, Portugal tinha um plano estratégico com objectivos precisos, vendo claramente a necessidade de ter ao seu serviço os melhores pensadores, quer dentro, quer fora de Portugal.
Tessaleno Devezas e Jorge Nascimento Rodrigues na sua obra Portugal: O Pioneiro da Globalização (2007) sugerem que se atentarmos ao carácter cíclico dos acontecimentos históricos, é possível, de acordo com factores objectivos e subjectivos de observação, delinear cenários para liderar no futuro. Tendo em consideração acontecimentos passados, estes cenários devem incluir a criação de um plano estratégico com o intuito de levar Portugal de novo a um lugar pioneiro na inovação tecnológica através de uma aposta no pensamento “out-of-the-box”, agarrando outra janela de oportunidade na História da Humanidade, a qual poderá, tal como no século XV, aparecer numa época de crise generalizada, como a que vivemos actualmente.
Por forma a atingir este objectivo, é fundamental começar por se percerber os ganhos inerentes à existência de mecanismos que estimulem o aparecimento de novas ideias nas organizações. Os modelos de inovação disruptiva juntamente com as ferramentas de domínio público levam a uma gestão da abertura do conhecimento como fonte de criação de riqueza.
Ou seja, o que pretendo advogar é que a mera protecção de conhecimento através de propriedade intelectual é necessária, mas não suficiente. O conhecimento só gera riqueza se for utilizado. Para tal, deve-se instaurar um novo plano estratégico que permita difundir o conhecimento científico e tecnológico gerado em Portugal, garantindo-nos de novo um lugar de liderança entre os mais inovadores.
Para liderarmos em termos de inovação e conhecimento temos de estar abertos ao mundo, fixar de forma permanente riqueza intelectual, e usar de forma coordenada as redes globais de conhecimento e inovação. Sermos um pólo de criatividade implica terminar com um modelo de ensino assente na repetição, pois criatividade significa inovação, colaboração e partilha através de um espaço aberto à discussão e ao desenvolvimento do raciocínio próprio. Estes são, na minha opinião, mandamentos a seguir para atingir de novo um lugar de destaque internacional.
* Colaborador na Unidade de Telecomunicações e Multimédia (UTM)