Asneira Livre
Sala(da) de Ideias
*Por Rodolfo Matos
Quando me convidaram para escrever para a “Asneira Livre” do BIP nº 100 fiquei entusiasmado. Passado uns minutos, fiquei foi preocupado...
O LIAAD-INESC Porto LA - antigo NIAAD-LIACC - foi e é a minha principal ocupação nestes últimos 14 anos. E nele passei muitas noites sem dormir. Foi onde fiz grandes amigos. Onde me começaram a aparecer cabelos brancos de preocupações, e onde aprendi coisas novas todos os dias em que lá fui trabalhar.
Quatorze anos! Até tenho de o dizer por extenso. Realmente o tempo passa depressa. A voar. Bom, sempre ouvi dizer que era isso que acontecia quando se gosta do que se faz.
Enfim... como eu digo à minha esposa, para ficar tanto tempo no mesmo lugar, ou é porque se gosta mesmo, ou porque se é masoquista...
Após tanto tempo, histórias para contar não faltam. E é esse o meu problema: como escolher uma?
Deixem cá ver... eu podia contar como alguém do grupo levou um portátil arranjado com o metal de uma lata de atum para uma conferência na Alemanha; das corridas de trotineta pelos corredores do antigo CIUP; ou das desventuras com elevadores...
Mas não. Acho que não o vou fazer. Vou antes falar de algo que a meu ver, é simultaneamente o melhor e o pior do Grupo: o seu tamanho!
É que, convenhamos, o Grupo não é grande! Cabíamos todos a uma mesa de jantar. Quer dizer, desde que não fosse na sala de um T2...
O tamanho reduzido e a proximidade geográfica criaram um ambiente familiar entre os pares, o que permitiu a cooperação e a partilha de conhecimentos entre todos. E, nesse contexto, a motivação aliada às aptidões individuais, e uma grande dose de criatividade foram, de certo modo, a grande mais-valia do modelo social do Laboratório.
Bom, é verdade que com a dispersão geográfica isso perdeu-se um pouco... É que é ao lanche, ao almoço ou ao café que se discute tudo o que nos preocupa. É num ambiente informal que nos sentimos à vontade para desabafar. E para pôr as ideias em ordem.
É onde sabemos que quem nos ouve, nos pode ajudar a resolver os problemas. E onde podemos dar azo à imaginação, onde ideias parvas não têm medo de ver a luz do dia. Ideias como “óculos que legendam as conversas”, “soalho gerador de energia eléctrica” ou coisas parecidas surgiram a uma mesa de café na baixa Portuense. Isso uns bons três anos antes de alguém neste planeta ter tido a mesma ideia e ter feito uma patente!
E é aí que reside o calcanhar de Aquiles do Grupo! Como é pequeno, apesar de ecléctico, não tem capacidade de concretizar muitas das ideias que consegue produzir. Nem de obter as devidas patentes que, convenhamos, potencialmente seriam úteis como complemento para a reforma... As ideias que surgem na mesa de café, na sua grande maioria, ficam por lá sem que ninguém lhes pegue.
E é nisso que uma “sala de ideias” poderia ser útil, para organizações de maiores dimensões, como é o caso do INESC Porto, em que a dispersão geográfica dos pares impede o convívio de todos à mesma mesa de café. Acho que deveria haver um local onde as ideias ou problemas poderiam ser vistos e comentados por todos. E quem sabe com isso criar uma estrutura ligeira, sem grandes burocracias, que permitisse concretizar pelo menos algumas das ideias apresentadas.
*Colaborador no Laboratório de Inteligência Artificial e Apoio à Decisão (LIAAD)