Fora de Série
Augustin Olivier
1. O Augustin Olivier é um homem da indústria, tendo mesmo passado por algumas empresas de referência internacional como é o caso da EFACEC, da Empresa Nacional de Telecomunicações (ENT), da Grundig Indústria Portugal e dos Laboratoires de Marcoussis (actual Alcatel). Como surge a oportunidade de trabalhar numa instituição de interface entre a Universidade e a Indústria, como é o caso do INESC Porto, no seu percurso profissional?
Estava numa fase de transição e recebi o convite do INESC Porto. A actividade a exercer era diferente daquilo que tinha feito até ao momento, mas o desafio proposto por pessoas que conhecia e aprecio desde há muitos anos fez-me aceitar.
Neste cargo de Assessor da DIP (Direcção do INESC Porto) tenho a oportunidade de utilizar todas as competências adquiridas durante o meu percurso profissional e isso é um momento raro na vida de qualquer um.
2. Qual era a imagem que tinha do INESC Porto antes de vir trabalhar para cá? Essa imagem mantém-se?
Conheço o INESC Porto praticamente desde que iniciei minha actividade profissional em Portugal. Com o INESC Porto realizei projectos em consórcio e contratei serviços, o que me permitiu conhecer as pessoas e a instituição. Assim, a imagem que tinha já era bastante próxima da realidade e o início da minha actividade aqui não modificou minha percepção, só ajudou na minha integração.
3. Chegou ao INESC Porto há cerca de um ano. Como foi a adaptação a esta nova realidade profissional? Quais são as principais diferenças entre trabalhar na indústria e trabalhar numa instituição de interface?
Uma boa adaptação profissional começa com uma boa adaptação no ambiente e tive uma recepção aberta e muita calorosa por parte dos colaboradores do INESC Porto, o que permitiu que iniciasse muito rapidamente uma actividade eficaz.
A grande diferença entre a indústria e um instituto de interface pode ser sintetizada em dois pontos:
1. A indústria é muito orientada para o curto prazo, a necessidade de rentabilizar sem riscos, e por uma estrutura hierárquica muito presente. Enquanto a instituição de interface é por natureza orientada ao médio/longo prazo, aceita correr riscos, e dá um grau de liberdade elevado aos seus colaboradores.
2. O horizonte oferecido pela instituição de interface é um panorama aberto com ramos vários de actividades, enquanto uma empresa só é posicionada num segmento de actividades.
4. Com base na experiência que adquiriu ao longo do último ano: quais são as boas práticas que o mundo académico deve ir “beber” ao mundo industrial?
As boas práticas que, actualmente, deveria ir “beber” são: a certificação (sistematização) dos processos internos de desenvolvimento e a organização de promoção das actividades.
5. Enquanto Assessor da Direcção do INESC Porto, a função do Olivier consiste em promover novos negócios e a transferência de tecnologia. Quais são os principais desafios com que se depara nesta relação com a indústria, agora do lado da academia?
Temos sempre que procurar um receptor aberto e sensivel ao produto que queremos “vender”. O desafio é que não estamos a oferecer um produto que responde a uma necessidade imediata, mas sim a uma necessidade estratégica. Por isso, o interlocutor tem que ter uma visão futura do seu negócio, o que condiciona a escolha do interlocutor.
6. Esta nomeação para “Fora de Série” vem no seguimento do seu envolvimento na aprovação de contratos, nomeadamente no âmbito de um projecto de robótica: o “robot vigilante”. Qual foi a barreira mais difícil de ultrapassar até conseguir a aprovação do contrato?
O projecto agrupa três empresas diferentes, mas complementares e as competências de quatro unidades do INESC Porto. Neste tipo de contrato, o mais complexo é encontrar um conjunto de entidades com interesses genuínos, o que se traduz na necessidade imperativa de ter um produto/solução com os quais conseguimos fazer um casamento estável.
7. De que forma é que a sua experiência profissional na indústria contribuiu para o sucesso do desafio que lhe é proposto pelo INESC Porto enquanto Assessor da Direcção e Coordenador da Unidade de Telecomunicações e Multimédia?
O que pode facilitar meu trabalho é a experiência de negociações com o mundo empresarial e o conhecimento das necessidades dos mercados nos quais exerci a minha actividade.
8. Qual é a importância estratégica da aprovação deste contrato para o INESC Porto nos curto e médio prazos?
Além dos aspectos inovadores, trata-se do primeiro contrato de importância que a nova unidade de robótica vai realizar. A área de actuação do projecto e as áreas tecnológicas são áreas disruptivas que permitem ao INESC Porto posicionar-se sem concorrência equivalente no mercado da robótica móvel. Este contrato é o primeiro de uma série de projectos e prestação de serviços na área de robótica e segurança.
9. Qual é o potencial do INESC Porto ao nível da transferência de tecnologia e consultoria na indústria? Considera que esse potencial está a ser bem aproveitado?
O INESC Porto tem um potencial muito elevado, mas pode, sem dúvida, aumentar a sua capacidade de actuação sempre com um trabalho de I&D de retaguarda importante. A qualidade do INESC Porto neste ramo de actividade vai sempre depender da sua qualidade científica.
10. Terminaremos este breve questionário, pedindo que comente a seguinte citação de José Manuel Mendonça, Presidente do INESC Porto, que o nomeou para esta distinção.
O Doutor Olivier, na sua qualidade de Assessor da Direcção para a promoção de novos negócios e transferência de tecnologia, teve um desempenho excepcionalmente diligente e frutuoso, com uma dedicação excepcional e uma qualidade de actuação fora de série, na abertura de novas linhas e colaboração com a indústria, na concepção de novos projectos e apoio à sua negociação, numa frente alargada de actividade que incluiu a optoelectrónica, os sistemas fotovoltaicos, a robótica e as telecomunicações e em áreas tão diversificadas como a energia ou a Defesa Nacional. No último mês esta actividade intensa começou a frutificar na forma de contratos aprovados de desenvolvimento de forte importância, como seja o caso do robô vigilante.
Um elogio é sempre bom a ouvir, mas estou a pensar que o Presidente do INESC Porto quer ainda mais.